Eduardo Campos discursa no encontro em que Marina Silva anunciou a sua adesão ao PSB, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2013 às 17h58.
São Paulo - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), conquistou com a aliança com a ex-senadora Marina Silva potencial para superar o senador tucano Aécio Neves e disputar o segundo turno da eleição presidencial com a presidente Dilma Rousseff, mas terá obstáculos importantes pela frente, como o baixo alcance nacional do PSB e o pouco tempo de horário eleitoral na TV.
A surpreendente aliança com Marina fez Campos praticamente dobrar sua intenção de voto. O presidente do PSB aparece com 15 por cento da preferência do eleitorado, segundo pesquisa do instituto Datafolha divulgada no fim de semana, num cenário em que disputa com Aécio, que soma 21 por cento, e com a presidente Dilma Rousseff, que aparece com 42 por cento.
O resultado alentador para o socialista mostra que ele tem potencial para chegar ao segundo turno contra Dilma, quebrando assim a polarização entre PT e PSDB, que domina as disputas eleitorais desde 1994.
Uma candidatura de Campos é apontada como a mais provável por analistas, embora reconheçam que Marina segue bem posicionada para eventualmente assumir a cabeça de chapa.
"(O resultado do Datafolha) antecipou seis meses de campanha. Essa previsão para chegar a mais de dez pontos era uma previsão para março, abril do ano que vem. Nós fizemos isso em uma semana praticamente", disse à Reuters o deputado federal Márcio França (PSB-SP), um dos aliados próximos de Campos.
Com pouco menos de um ano até a eleição, analistas políticos ouvidos pela Reuters apostam em segundo turno, com Dilma favorita para a reeleição. A dúvida é: quem vai para uma nova rodada de votações contra a presidente, Aécio ou Campos? "É provável que ela (Marina) continue transferindo apoio eleitoral para o Eduardo Campos. Acho que a tendência do Eduardo Campos é ultrapassar o Aécio... Eu aposto em um segundo turno. Entre Dilma e Eduardo Campos", disse Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores Associados.
Os socialistas, no entanto, precisarão ultrapassar obstáculos apontados tanto por membros do grupo de Campos, quanto por tucanos ligados a Aécio e analistas políticos.
"A Marina entrega prestígio à chapa do Eduardo, mas ela não resolve dois problemas cruciais, que são tempo de TV e estrutura nos Estados", disse à Reuters o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), presidente do diretório mineiro do partido e aecista de carteirinha. "Nós temos muito mais estrutura", acrescentou.
Pestana mantém o discurso adotado por Aécio no sábado em que foi anunciada a parceria Campos-Marina, de que a aliança fortalece as oposições. Ele, no entanto, avalia que o levantamento do Datafolha ratificou o tucano como o verdadeiro candidato de contraponto ao PT e à Dilma e busca distinguir o tucano da dupla socialista.
"É diferente. O Aécio é o candidato das oposições com um programa alternativo. O Eduardo e a Marina são dissidentes do bloco do PT, bloco que foi liderado em 2002 pelo (ex-presidente) Lula. Então são candidaturas que têm raízes e naturezas diferentes", disse.
Apesar de reconhecerem a importância do tempo de TV em uma campanha eleitoral, analistas ponderam que, na eleição de 2010, Marina era candidata à Presidência pelo PV e, somente com um minuto de programa eleitoral, conquistou quase 20 milhões de votos.
Busca por alianças
França, do PSB, estima que o partido deva ter por volta de três minutos e meio de horário eleitoral gratuito, patamar que reconhece não ser "o ideal".
Ele aposta, no entanto, que o pouco de tempo de TV será compensado pela superexposição que a dupla Marina-Campos tem obtido na mídia desde o anúncio da aliança. "É o grande fato novo da eleição", avaliou.
Os socialistas avaliam também que Campos tem espaço para crescer, pois ainda é pouco conhecido pelo eleitorado, e apostam que os eleitores de Marina ainda indecisos migrarão para o governador.
O PSB foi o partido que mais cresceu nas eleições municipais de 2012 e tem força na Região Nordeste, onde Dilma conseguiu expressiva votação em 2010. A sigla, no entanto, não tem a mesma penetração nacional que o PSDB, o que deve dificultar a formação de palanques para Campos em alguns Estados, como lembra o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para o analista, os socialistas terão de buscar alianças eleitorais para resolver o que chamou de "ponto negativo" da dupla Campos-Marina, o pouco tempo de TV.
"Embora isso (busca de alianças) possa ir contra o discurso da Marina, chega uma hora que isso se coloca de forma mais cabal", disse, referindo-se à posição da ex-senadora contra alianças políticas "pragmáticas".
Nesse cenário, alguns partidos aparecem como alvos a serem cobiçados tanto por Aécio quanto por Campos até a definição das alianças eleitorais, casos do PPS, do PV e do recém-criado Solidariedade.
Dependendo do desenrolar da cena política nos próximos meses, alguns partidos da base governista podem também optar por uma das candidaturas de oposição, mas o consenso no meio político é que isso só deve acontecer a partir de março ou abril de 2014.
Assim como Campos tem pela frente obstáculos, as pretensões de Aécio também têm barreiras a serem vencidas. Além do que analistas chamam de dificuldade do senador mineiro de subir nas pesquisas, ele pode enfrentar uma concorrência interna no PSDB.
"O Serra é alguém que tem se esmerado em criar problemas para o partido em função de um projeto pessoal... Essa fragilidade do Aécio até reforça esse papel", disse Couto, da FGV.
Pestana, no entanto, garante que os tucanos estão unidos em torno da candidatura de Aécio, que deve intensificar sua agenda de viagens pelo país. Ele diz não acreditar na realização de prévias para a definição do candidato do partido.
"Só se for necessário, mas como a maioria do partido está unida e integrada em torno do Aécio, acho que essa questão nem vai se colocar", disse.