Brasil

Câmara quer propor até julho compensações de Lei Kandir a estados

A lei, de 1996, desonerou as exportações de bens primários e semielaborados do pagamento de ICMS, principal fonte estadual de receitas

Câmara: o estado de Minas Gerais é um dos principais interessados no pagamento (José Cruz/Agência Brasil/Agência Brasil)

Câmara: o estado de Minas Gerais é um dos principais interessados no pagamento (José Cruz/Agência Brasil/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de maio de 2017 às 19h07.

Em meio à tentativa da União de ajustar suas contas, a Câmara dos Deputados pretende apresentar até julho uma proposta de ressarcimento das compensações da Lei Kandir não repassadas pelo governo federal aos estados nos últimos anos.

A fatura é bilionária e se aproxima dos R$ 800 bilhões, apontou nesta quarta-feira, 31, o relator da comissão especial que analisa o tema, deputado José Priante (PMDB-PA).

Uma nova metodologia de cálculo das compensações daqui para frente também deve ser criada.

Os estados acusam a União de repassar um valor menor do que o devido em compensações da Lei Kandir, de 1996, que desonerou as exportações de bens primários e semielaborados do pagamento de ICMS, principal fonte estadual de receitas.

No fim do ano passado, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) proposta pelo Pará e outros 15 estados.

A corte fixou prazo de 12 meses para que o Congresso edite lei complementar regulamentando os repasses de recursos. Se isso não ocorrer, a tarefa caberá ao Tribunal de Contas da União (TCU).

"A solução é uma negociação política. Existe uma conta a ser paga, e é a União quem vai pagar. A União precisa dizer de onde sai (o dinheiro)", disse Priante. A comissão já convidou para os debates o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que também é presidente do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne os secretários estaduais e discute temas como o ICMS.

O tema é delicado tanto para a União quanto para os estados. De um lado, o governo federal terá em 2017 o quarto ano consecutivo de déficit primário, com um rombo de R$ 139 bilhões.

No ano que vem, o resultado também deve ser negativo, de R$ 129 bilhões. Por outro lado, as compensações seriam um grande alívio para os estados, que também passam por grave crise financeira.

O estado de Minas Gerais é um dos principais interessados no pagamento do passivo.

O governo mineiro calcula que, das perdas de R$ 99,7 bilhões ocorridas entre 2007 e 2015, apenas R$ 20,45 bilhões foram ressarcidos pela União.

O crédito referente à Lei Kandir tornou-se até mesmo barganha do Estado durante as negociações do regime de recuperação fiscal (RRF).

Minas é um dos três elegíveis ao regime especial que permite a suspensão de dívidas para ajudar no reequilíbrio fiscal de estados.

O secretário de Fazenda de Minas Gerais, José Afonso Bicalho, reafirmou nesta quarta que não pretende aderir ao RRF.

O argumento do governo mineiro é que o crédito da Lei Kandir é superior ao valor da dívida que Minas tem com o governo federal e que, portanto, um encontro de contas acabaria com a necessidade do pagamento.

A comissão que vai propor nova regra para as compensações da Lei Kandir se reuniu para discutir o tema. Além do secretário de Minas, participaram representantes do Pará, Mato Grosso e de São Paulo.

Com a maior parte de sua produção voltada para a exportação, o Pará (estado do relator da matéria) calcula uma perda líquida de pelo menos R$ 22 bilhões entre 1997 e 2015.

A expectativa do relator é apresentar uma proposta de texto "até o final do semestre, no máximo até julho". Isso porque o prazo dado pelo STF se encerra em 30 de novembro deste ano, e ainda será necessário submeter o texto ao plenário da Câmara e ao Senado Federal.

Por se tratar de lei complementar, é preciso ter maioria absoluta (metade dos deputados e senadores) para a aprovação.

O colegiado trabalha com uma série de projetos já apresentados sobre o tema, entre eles o Projeto de Lei Complementar 221/1998, mas o relator disse que deve surgir uma proposta nova, com "alternativas mais modernas", a partir de elementos desses textos.

"Há necessidade de estabelecer corte temporal para resolver compensação (daqui para frente). Tenho entusiasmo pela alternativa de que a compensação possa ser prevista no Orçamento da união de forma impositiva, sem cortes. E aí evidentemente que falo com opinião preliminar", afirmou Priante.

"É claro que, ao mesmo tempo em que Estados e municípios reclamam, a União se queixa de que esses entes são endividados. Por isso que há necessidade de estabelecer como vai ser o tratamento", acrescentou.

Acompanhe tudo sobre:Câmara dos DeputadosEstados brasileirosOrçamento federal

Mais de Brasil

Lula anuncia pagamento do Pé-de-Meia e gratuidade dos 41 remédios do Farmácia Popular

Denúncia da PGR contra Bolsonaro apresenta ‘aparente articulação para golpe de Estado’, diz Barroso

Mudança em lei de concessões está próxima de ser fechada com o Congresso, diz Haddad

Governo de São Paulo inicia extinção da EMTU