Rio de Janeiro - O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella durante entrevista coletiva sobre as manifestações dos taxistas (Tomaz Silva/Agência Brasil) (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2018 às 17h36.
Última atualização em 12 de julho de 2018 às 18h28.
São Paulo - A Câmara Municipal do Rio de Janeiro rejeitou, por 29 votos a 16, o pedido de abertura de impeachment do prefeito, Marcelo Crivella, por crime de responsabilidade e improbidade administrativa. Foram protocolados dois pedidos, pelo vereador Átila Nunes (MDB) e pelo diretório municipal do PSOL.
Em ambos foi citada uma reunião promovida pelo prefeito no Palácio da Cidade, sede oficial da prefeitura, no último dia 4, a um grupo de fiéis evangélicos, quando foram feitas promessas de atendimentos de saúde e isenção de IPTU para igrejas.
Desde antes do início da sessão, marcada para as 14h, grupos de manifestantes de ambos os lados já se colocavam nos arredores da Câmara do Rio, na Cinelândia. A troca de provocações seguiu nas galerias.
No plenário, Átila Nunes ressaltou, em seu discurso da tribuna, que Crivella não poderia governar apenas para uma parcela da população. "Não podemos ser omissos neste momento. Diversas denúncias aconteceram neste ano e meio de mandato. Ele não pode governar para uma parcela da sociedade. Os áudios gravados são do próprio Crivella, fazendo promessas indevidas. O que decidirmos aqui vai sinalizar para as futuras administrações que se deve governar para todos", disse o vereador.
Já o líder do governo na Câmara, vereador Doutor Jairinho (MDB), considerou que o país passa por problemas muito mais graves para serem resolvidos e que a reunião de Crivella não é motivo para impeachment. "O país passa por tantos problemas e vai se falar em reunião secreta? Quem vai dizer se ele deve governar a cidade é lá em 2020 [nas próximas eleições] e não através de golpe", disse Jairinho.
Com a rejeição do pedido de impeachment, Crivella ainda poderá enfrentar denúncia por violar o princípio do estado laico na administração muncipal e privilegiar apenas um segmento religioso em diversos atos. A ação Civil Pública foi ajuizada ontem (11) pelo Ministério Público Estadual. Se condenado, o prefeito pode perder o cargo e pagar multa equivalente a R$ 500 mil.
ENTENDA O CASO
Na quarta-feira (4) da semana passada, Crivella fez uma reunião fora da agenda oficial no Palácio da Cidade com mais de 250 pessoas. Na ocasião, o prefeito do Rio afirmou que pode resolver problemas de fiéis de igrejas evangélicas.
Ele disse que contratou 15 mil cirurgias de catarata para serem realizadas até o final deste ano. O prefeito também anunciou facilidades para cirurgias de varizes e vasectomia, e chegou a indicar dois de seus assessores para resolver esses problemas.
Marcelo Crivella também se dispôs a desenrolar problemas com pagamentos de IPTU atrasados de igrejas evangélicas. “Nós temos de aproveitar que Deus nos deu a oportunidade de estar na prefeitura para fazer esses processos andarem”, disse Crivella na ocasião.
Toda a reunião foi gravada por dois repórteres do jornal O Globo, que participaram do encontro sem se identificar.
A atitude é considerada crime de responsabilidade e fundamento para o impedimento. O favorecimento do prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, não surpreende ninguém, mas agora há provas de que existe.
Ontem, o Ministério Público do Rio de Janeiro moveu também uma ação civil pública contra o prefeito, por improbidade administrativa. Cita, segundo O Globo, o uso de escolas da rede municipal para promover a Igreja Universal.
Crivella não se deu ao trabalho de dizer que errou. Disse, mais uma vez por meio de sua assessoria de imprensa, em vez de pessoalmente, que a abertura do processo de impeachment é “do jogo político da oposição”.