Pedido de requerimento para a abertura da CPI foi apresentado no fim do ano passado com 25 assinaturas (Divulgação/Flickr da Câmara Municipal de São Paulo)
Agência de notícias
Publicado em 3 de janeiro de 2024 às 17h36.
Última atualização em 3 de janeiro de 2024 às 17h47.
A Câmara de São Paulo deve abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, na região central de São Paulo. As assinaturas necessárias já foram recolhidas. O autor da proposta, vereador Rubinho Nunes (União), prevê que a comissão será instaurada em fevereiro, após o recesso parlamentar. Segundo ele, o padre Júlio Lancellotti será um dos principais alvos da CPI das ONGs.
Rubinho acusa as ONGs de promoverem uma "máfia da miséria", que "explora os dependentes químicos do centro da capital". Segundo ele, essas organizações recebem dinheiro público para distribuir alimentos, kit de higiene e itens para o uso de drogas, prática conhecida como política de redução de danos, à população em situação de rua, o que, argumenta ele, gera um "ciclo vicioso" no qual o usuário de crack não consegue largar o vício.
Procurado pelo Estadão, o padre Júlio Lancellotti declarou que a instalação de CPIs para investigar o uso de recursos públicos pelo terceiro setor é uma ação legítima do Poder Legislativo. Além disso, acrescentou que não faz parte de nenhuma organização conveniada à prefeitura de São Paulo, mas, sim, da Paróquia São Miguel Arcanjo.
O vereador do União Brasil conta que o pedido de requerimento para a abertura da CPI foi apresentado no fim do ano passado com 25 assinaturas, mas que hoje a medida já conta com o apoio de 30 vereadores. O regimento interno da Câmara estabelece o mínimo de 18 assinaturas para a instalação de uma CPI.
Ele ainda esclarece que duas entidades serão prioridade nas investigações conduzidas pela comissão: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecida como Bompar, e a Craco Resiste. As duas atuam junto à população em situação de rua e dependentes químicos no centro de São Paulo, assim como o padre Júlio Lancellotti, que já foi conselheiro do Bompar.
"Os dependentes químicos precisam de programas de tratamento de alta qualidade para ajudar a superar o vício. Uma CPI pode avaliar a eficácia dos programas oferecidos pelas ONGs, determinando se elas estão alcançando os resultados desejados, pois em algumas situações, pode haver preocupações éticas, como a exploração de dependentes químicos", justifica Rubinho, no pedido de abertura da CPI.
A proposta de Rubinho Nunes para investigar o padre Júlio Lancellotti tem gerado embates nas redes socais, com personalidades e entidades ligadas à esquerda criticando a abertura da CPI das ONGs. Em ano eleitoral, o trabalho da comissão pode influenciar as campanhas na capital, visto que Lancellotti é aliado do deputado federal e pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL), enquanto Rubinho apoia o projeto de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
A União Nacional dos Estudantes (UNE) afirmou que "é inadmissível que no estado com o maior número de pessoas em situação de rua, aqueles que atuam para o acolhimento e garantia de seus diretos básicos sejam perseguidos e tratados como criminosos".
A vereadora Luana Alves (PSOL) classificou a abertura da comissão como uma "perseguição da direita" ao padre Júlio. "A direita quer instalar uma CPI na Câmara de SP para perseguir o Padre Júlio Lancellotti, por seu trabalho em defesa da população em situação de rua. Quem será o próximo alvo da direita conservadora? Jesus Cristo? São Francisco de Assis? Irmã Dulce?" escreveu em post no X (antigo Twitter).
O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) manifestou solidariedade ao sacerdote católico. "Me coloco à disposição para prestar meu depoimento pessoal sobre sua extraordinária luta e atuação tão significativa junto à população em situação de rua, desde que foi designado por dom Paulo Evaristo Arns", escreveu o parlamentar sobre Lancellotti.