Construídas por meio do Programa Minha Casa, Minha vida, as unidades habitacionais, orçadas em R$ 22 milhões, seriam destinadas a desabrigados pela tragédia do Morro do Bumba (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 19h28.
Rio de Janeiro - A Caixa Econômica Federal deve divulgar, em até 30 dias, um relatório com as falhas que comprometem a estrutura de dois prédios de um conjunto habitacional em Niterói, no grande Rio. Construídas por meio do Programa Minha Casa, Minha vida, as unidades habitacionais, orçadas em R$ 22 milhões, seriam destinadas a desabrigados pela tragédia do Morro do Bumba. No entanto, correndo risco de desabar, dois dos nove prédios serão demolidos e reconstruídos.
Em entrevista à Agência Brasil hoje (21), o diretor executivo de Habitação da Caixa, Teotonio Rezende, explicou que o documento está sendo elaborado por engenheiros do banco, da construtora Imperial Serviços e da seguradora do empreendimento. A suspeita é que o excesso de chuva no início da semana tenha afetado o solo, embora esta tese seja questionada por especialistas do Conselho Regional de Engenharia (Crea).
“Até o início das chuvas não havia nenhuma falha técnica aparente, mas não estou afirmando que a única causa [do abalo na estrutura] foi a chuva. Essa conclusão constará do laudo”, disse Rezende. Segundo ele, foram adotadas todos as regras para esse tipo de construção, como o aterramento do terreno. “A área foi preparada para ficar fora do foco de enchentes”, reforçou.
As conclusões do relatório também vão indicar se é da construtora ou da seguradora, a responsabilidade pela demolição e reconstrução dos prédios. “Se ficar comprovado que a causa foi externa, ou seja, as chuvas, a seguradora arcará com todos os custos de reconstrução. Já se ficar comprovada falha técnica, a responsabilidade do ônus é da construtora”, acrescentou o diretor.
Para o Crea, no entanto, que também vai averiguar se houve negligência na obra por meio de uma sindicância, faltaram estudos sobre o solo. Estas análises deveriam indicar as técnicas apropriadas para fazer a fundação dos imóveis. “Os estudos hidrológicos, geotécnicos, geológicos e topográficos não foram levados em conta”, explicou o engenheiro de grandes estruturas e conselheiro do Crea, Antonio Eulalio. Procurada pela Agência Brasil, nenhum representante da construtora foi localizado.
“Baseados nesses documentos, a solução da fundação não deveria ser aquela adotada porque ali é caminho das águas, que acarretaram a erosão por baixo dos prédios e descalçou as fundações, que são rasas, causando um colapso da estrutura dos imóveis”, explicou Eulalio. Segundo ele, as empreiteiras têm o costume de abrir mão desses estudos para economizar na obra.
“Os custos dos projetos técnicos prévios equivalem, em média, a 3% da obra e pode significar até 40%, se for bem [conduzido]. Mas o empresário, às vezes, não tem noção, acha que aquilo é desnecessário e corta onde acha que pode cortar. Acaba acontecendo isso”, declarou. “A Caixa, por sua vez, acompanha o cronograma físico e financeiro sem conhecer os detalhes do projeto”, criticou.
Em uma investigação paralela, a Comissão de Análises e Prevenção de Acidentes do Crea convocou para depor os engenheiros que acompanham a execução da obra pela Caixa Econômica, dona dos prédios, e pela Construtora Imperial. A previsão é que eles sejam ouvidos no início de abril.