Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 16 de setembro de 2024 às 18h39.
Última atualização em 16 de setembro de 2024 às 19h17.
O episódio de agressão do candidato José Luiz Datena (PSDB) ao influenciador Pablo Marçal (PRTB) pode aumentar a rejeição aos candidatos e até resultar em maior abstenção nas eleições deste ano, apontam analistas ouvidos pela EXAME.
No último domingo, 15, durante o debate da TV Cultura, Datena agrediu Marçal com uma cadeira após troca de xingamentos e agressões. O debate foi interrompido, e o candidato do PSDB foi expulso do evento. Marçal preferiu não seguir no programa e foi ao hospital.
“Episódios como este podem aumentar a rejeição do eleitor à própria política e causar maior abstenção no pleito. Apesar de terem seus nomes mais em evidência num primeiro momento, não vejo que o episódio tenha capacidade de mudar o quadro eleitoral”, avalia Cila Schulman, presidente do instituto de pesquisa IDEIA.
Cila acrescenta que a reação dos candidatos que permaneceram no debate foi diversa. Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (NOVO) demonstraram maior empatia, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) focaram em aproveitar o tempo para atacar um ao outro. O impacto no eleitorado deve ser baixo, aponta, já que poucas pessoas assistiam ao programa ao vivo, e o recorte da agressão entre Marçal e Datena ganhará mais destaque no pós-debate.
"As duas mulheres candidatas reagiram com maior empatia e indignação logo após o intervalo e poderiam ter se beneficiado por essa diferenciação dos dois homens que ficaram, mas o debate em si teve baixa audiência. O que o eleitor verá será o trabalho das campanhas no pós e não a atitude no momento do ocorrido", comenta a presidente do IDEIA.
Schulman destaca que o risco para Marçal gira em torno da sua reação após o caso. O influenciador gravou vídeos e compartilhou fotos comparando a cadeirada à facada que o ex-presidente Jair Bolsonaro sofreu durante as eleições de 2018 e ao atentado a tiros contra o ex-presidente Donald Trump em julho deste ano.
“O episódio refletiu o fracasso dos candidatos em debater nesta eleição de São Paulo, e foi de fato lamentável. mas a reação de Marçal de comparar a cadeirada à facada de Bolsonaro pode soar oportunista, não só pela gravidade, mas porque não foi um atentado, e sim uma briga entre candidatos. Não tem comparação”, afirma.
Após deixar o debate, Marçal foi levado de ambulância ao hospital Sírio-Libanês. Um vídeo divulgado em seu Instagram mostra o candidato deitado em uma maca, com expressão de dor e uma máscara de oxigênio. A campanha de Marçal afirmou que ele estava com dores na região torácica, dificuldade para respirar e lesão nos dedos atingidos pela cadeira.
Em boletim médico, o hospital informou que Marçal sofreu um trauma no tórax e no punho "sem maiores complicações".
Na mesma linha, Yuri Sanches, diretor de análise política do instituto AtlasIntel, não acredita que a agressão altere as curvas de Datena e Marçal — o apresentador vem em queda e o influenciador em um crescimento estável.
"Um episódio de violência entre um candidato de mau desempenho e alta rejeição contra outro extremamente controverso não deve gerar uma onda muito relevante de simpatia por nenhum dos lados", diz Sanches.
O analista aponta dois possíveis cenários a serem acompanhados nas próximas pesquisas. O primeiro é Marçal sendo beneficiado, na margem, pela agressão, com o fortalecimento de seu discurso de candidato anti-sistema.
"O caso alimenta a narrativa de ‘contra tudo e todos’, de vitimização de Marçal em uma batalha no campo político e até espiritual, como ele invocou. Além disso, mais uma vez, ele pauta os debates e a repercussão midiática gira em torno dele", avalia Sanches.
A outra possibilidade é um impacto eleitoral negativo, com o eleitor entendendo que Marçal ‘colheu o que plantou’.
"As provocações e acusações são constantes no comportamento de Marçal em debates. Apesar de um entendimento comum de que a agressão de Datena foi errada, pode haver uma percepção de que a conduta desrespeitosa e provocativa de Marçal foi longe demais e, de alguma forma, precisaria ser repreendida", acrescenta o analista.
Após receber alta, Marçal apareceu com o braço imobilizado e afirmou que buscará a cassação da candidatura de Datena. A equipe jurídica de Marçal também registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal e injúria contra o candidato do PSDB. O caso foi registrado no 78º DP (Jardins) ainda na noite de ontem.
Pouco antes, Datena divulgou uma nota afirmando que cometeu um erro, mas que não se arrependia do ato. O apresentador também compartilhou imagens de uma conversa em que Marçal pede perdão e declara se sentir como num "zoológico" nos debates.