Grupo de moradores pediu aos representantes do órgão que a identificação das pessoas ocorra por meio das lideranças do Morro do Piolho (Agência Brasil/Marcelo Camargo)
Da Redação
Publicado em 9 de setembro de 2014 às 12h33.
São Paulo - O cadastro das 600 famílias desalojadas em razão do incêndio na Comunidade Sônia Ribeiro ficou temporariamente suspenso para garantir que apenas os moradores sejam beneficiados.
A Secretaria Municipal de Habitação havia iniciado o recadastramento no início da manhã de hoje (9) e, por volta das 10h, um grupo de moradores pediu aos representantes do órgão que a identificação das pessoas ocorra por meio das lideranças do Morro do Piolho, como a área é conhecida.
A equipe da prefeitura concordou e interrompeu o levantamento por uma hora até definir quem teria direito ao benefício.
“A gente observou que há várias pessoas se aproveitando deste momento de fragilidade da nossa comunidade. Isso acontece em muitos outros lugares. A gente tem que ir lá dentro e observar quem realmente mora aqui para formar a fila”, explicou o técnico em mecatrônica Gledson Soares, de 25 anos.
Ele disse que mora na favela desde criança e, por isso, consegue identificar quem tem o direito a receber o auxílio-aluguel que será oferecido pela prefeitura.
Quem optar pelo benefício, receberá R$ 1,2 mil a cada três meses para despesas com moradia. As famílias também serão inseridas no cadastro habitacional do governo municipal.
A diretora da Secretaria de Habitação, Angelita Rocha, que coordena os trabalhos, informou que o cadastro feito hoje será confrontado com os dados que já constam no órgão.
“O tumulto é porque as áreas do entorno ficaram sabendo que hoje a secretaria ia cadastrar [os moradores da] Sônia Ribeiro, então veio todo mundo. As lideranças começaram a se revoltar, dizendo que não é justo.”
Uma das que aguardam para receber o benefício é a dona de casa Maria Fernandes, de 62 anos. Ela já está alojada em uma casa nas proximidades do morro, onde pagará R$ 600 de aluguel. “Fui para lá com a minha filha e os meus netos. As condições são ruins também, é bem pequeno, mas tivemos que fazer isso”, relatou.
Ela conta que é a segunda vez que perde todos os pertences e não pretende mais voltar para a favela. Em setembro de 2012, um incêndio atingiu a comunidade. De acordo com a Defesa Civil, 80% da área de 1 mil metros quadrados foi destruída desta vez.
O auxílio-aluguel, no entanto, não será uma escolha para muitas das famílias atingidas, que já planejam reconstruir os barracos. Nas ruas em torno da comunidade, muitos moradores estão passando as noites em claro para impedir que outras pessoas ocupem o espaço em que estavam antes. “Se a gente pegar a bolsa aluguel, depois eles deixam de pagar, a gente quer voltar pra cá e já tem gente ocupando”, justificou Telma Coutias, de 47 anos. Ela disse que aguarda doações de madeira para reconstruir o barraco. A área, no entanto, ainda está sendo limpa por agentes da prefeitura e o cheiro de fumaça ainda é muito forte no local.