Cabral: "O modelo [de financiamento de campanha] era esse. Eu não inventei. Ele existia antes de mim." (foto/Getty Images)
Agência Brasil
Publicado em 8 de junho de 2018 às 22h01.
Última atualização em 8 de junho de 2018 às 22h04.
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, admitiu hoje (8) em depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas que, entre 2007 e 2016, usou cerca de R$20 milhões de verba de campanhas eleitorais para fins pessoais. Após a confissão, ele foi questionado pelo magistrado se teria interesse de se desfazer de bens pessoais para ressarcir danos e reparar erros e Cabral respondeu afirmativamente.
O assunto foi retomado ao fim da audiência com o advogado de defesa Rodrigo Rocca que buscou esclarecimentos. Bretas disse que, caso o ressarcimento ocorra, o montante será destinado aos cofres do estado ou da União.
Assim como em outras ocasiões, Cabral admitiu envolvimento em esquemas de caixa 2 e acrescentou que a movimentação de recursos de doações eleitorais teria sido da ordem de R$500 milhões ao longo de aproximadamente 15 anos.
"O modelo [de financiamento de campanha] era esse. Eu não inventei. Ele existia antes de mim. (...) Eu pedia dinheiro de campanha e era muito dinheiro sim. Porque eu não era responsável só pela minha campanha. E, de uma maneira vaidosa, quis eleger prefeitos, vereadores", disse. Ele, no entanto, não quis nomear demais políticos beneficiados com os recursos arrecadados.
O ex-governador disse ter se perdido diante de tanto poder e lamentou os excessos. Cabral negou, porém, ter solicitado propina a empreiteiras ou a outras empresas. "Nunca pedi sobrepreço em obra. Nunca pedi a um empresário que incluísse um percentual qualquer em nenhuma obra ou serviço do meu governo".
O depoimento ocorreu dentro de uma das ações movidas pelo Ministério Público Federal (MPF) a partir das investigações da Operação Eficiência, que por sua vez é um dos desdobramentos da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Neste processo, investiga-se a ocultação e lavagem de dinheiro de recursos recebidos supostamente como propina no período em que Cabral foi governador.
Também figuram como réus Wilson Carlos, Sérgio de Castro Oliveira e Carlos Miranda, apontados como operadores de esquemas de corrupção, e os irmãos Marcelo Chebar e Renato Chebar, doleiros que teriam dissimulado o dinheiro obtido de forma ilegal.
Parte da denúncia se baseia nas declarações de Carlos Miranda, que fechou acordo de delação premiada e alega ter movimentado recursos de propina. Cabral afirma ser mentira. Segundo ele, Carlos Miranda era um administrador pessoal que também participava das campanhas, mas não do governo. Por essa razão, não teria conhecimento da origem dos recursos que movimentava e nem teria condições de dizer que era propina.
Questionado pelo juiz Marcelo Bretas se as reformas em imóveis seus e da ex-mulher não seriam verba de propina, Cabral disse terem sido realizadas com sobras de campanha. Ele isentou Wilson Carlos e Sérgio de Castro de participação em atos ilícitos e disse que eles não foram beneficiados pelos recursos.
Inicialmente, o interrogatório havia sido marcado para 27 de fevereiro, quando Cabral estava preso em Curitiba. Na ocasião, a audiência ocorreu por videoconferência e o ex-governador optou por se manter em silêncio. Com a autorização de sua transferência de volta ao Rio de Janeiro, os advogados pediram que ele fosse reinterrogado.
Cabral é réu em mais de 20 processos que se desdobraram da Operação Lava Jato. Em cinco, ele foi condenado em primeira instância a penas que somam 100 anos de prisão. No mês passado, uma dessas condenações, de 14 anos e 2 meses, foi mantida em segunda instância.
O ex-governador está cumprindo pena no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ontem (7), o MPF apresentou mais um denúncia contra Cabral.