Adutora de grande porte de água se rompeu na estrada do Mendanha, em Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro (Tânia Rêgo/ABr)
Da Redação
Publicado em 30 de julho de 2013 às 19h13.
Rio - No dia que colocou em prática uma nova estratégia para tentar interromper o desgaste político que vem sofrendo há dois meses, quando começaram os protestos pelo País, o governador Sérgio Cabral (PMDB) foi ao encontro das famílias atingidas pelo grave acidente de Campo Grande, mas a iniciativa provocou revolta e indignação. Cabral foi xingado de "safado" e "corrupto" pelos moradores, que cercaram a van de vidros escuros que o levou embora.
O governador conversou com moradores numa sala da Escola Municipal Casimiro de Abreu, que fica perto da área afetada e foi usada para cadastramento das vítimas, mas não circulou pela região para ver os prejuízos. Depois, durante uma rápida entrevista e também na saída, foi hostilizado. "Isso é uma vergonha, gente! Tem gente morrendo aqui", reagiu uma moradora. "Eles dizem que vão indenizar todo mundo, mas isso é mentira! Já perdi minha casa há três anos e não recebi nada", protestou outra vizinha.
A visita do governador, que não costuma aparecer em locais de tragédias, como as frequentes enchentes no Estado, fazia parte de uma nova postura, evidenciada na véspera, quando ele reconheceu que "estava precisando de muita dose de humildade".
Em Campo Grande, Cabral estava acompanhado de dois de seus principais aliados, que procuram saídas para não sofrer as consequências do estrago político do governador. De um lado, o vice-governador e coordenador de Infraestrutura do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), pré-candidato ao governo. Desconhecido da população, Pezão tenta construir a imagem de executor, responsável pelas maiores obras do Estado, mas é completamente dependente do padrinho político e não avança nas pesquisas de intenção de voto, atrás do senador petista Lindbergh Farias, do ex-governador Anthony Garotinho (PR) e do ex-prefeito Cesar Maia (DEM).
Do outro lado estava o prefeito Eduardo Paes (PMDB), também atingido pela hostilidade dos moradores de Campo Grande, que exibiam cartazes "Fora Cabral" e "Fora Eduardo Paes". Nos últimos meses, o prefeito criou uma agenda própria, oposta à de Cabral, de grande exposição pública. Paes se apresenta como responsável pelas falhas da prefeitura, como aconteceu durante a Jornada Mundial da Juventude, quando concedeu entrevistas diárias. O prefeito também recebeu o coletivo Mídia Ninja, que registra ao vivo pela internet as manifestações contra Cabral, e, em entrevista, chegou a criticar a ação da Polícia Militar na favela da Maré (zona norte), quando, há pouco mais de um mês, dez pessoas morreram - um policial e nove moradores.
O acampamento de jovens na porta da casa do governador, um apartamento de luxo no Leblon (zona sul); a continuidade dos protestos; a reação da Polícia Militar; a revelação de que um dos helicópteros oficiais é usado para levar o governador, a mulher, os filhos, a babá e o cachorro Juquinha à casa de veraneio em Mangaratiba só pioram a imagem de Cabral, no momento em que muitos governantes tiveram abalos na popularidade. A aprovação do governador do Rio chegou a apenas 12%, segundo pesquisa CNI/Ibope.
Reação contrária
Na tarde de segunda-feira, 29, Cabral pediu que os manifestantes saíssem de sua porta e provocou reação contrária: uma nova manifestação foi marcada para esta terça. "Cabral está acuado, tem dificuldades de sair da defensiva. O desgaste se ampliou muito a partir das manifestações, que se acentuaram no Rio e chegaram a um ponto crítico, por causa da reação da PM. Setores que apoiavam Cabral agora o rejeitam. Claro que ainda falta um ano para a eleição, mas acho muito difícil que Pezão tenha condições de se tornar um candidato competitivo. O governador vai passar por muitos momentos de dificuldade até o fim do mandato", diz o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.