Sérgio Cabral: o ex-governador admitiu que o Eike financiou sua campanha em 2010 (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Agência Brasil
Publicado em 31 de julho de 2017 às 21h57.
Última atualização em 31 de julho de 2017 às 22h05.
O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, disse, ao ser interrogado hoje (31) pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que sua relação com Eike Batista era formal, com o único objetivo de estimular o investimento no Rio de Janeiro e que essa relação institucional foi "muito positiva para o Rio".
Ele garantiu que todos os recursos que recebeu de Eike foram para investir no estado do Rio de Janeiro e apoiar suas campanhas.
De acordo com o Ministério Público, Cabral recebeu do empresário Eike Batista US$ 16,5 milhões em propina, além de R$ 1,5 milhão por meio do escritório de advocacia de Adriana Ancelmo.
Ele também negou que tenha havido pagamento de propina para que o Rio fosse sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Nesta segunda-feira, Bretas voltou a interrogar, além do ex-governador, a esposa de Cabral, Adriana Ancelmo, o empresário Eike Batista e o ex-vice-presidente do Flamengo, Flávio Godinho.
O interrogatório foi referente à ação penal resultante da Operação Eficiência, desdobramento da Operação Calicute, deflagrada pela Polícia Federal em janeiro deste ano.
Eles são acusados de crimes de lavagem de dinheiro com ocultação no exterior de aproximadamente US$ 100 milhões.
O ex-governador voltou a afirmar que recebeu dinheiro de Caixa 2 para financiar suas campanhas e garantiu que "quase a totalidade" dos recursos ilícitos que recebeu foi investido na política.
Cabral admitiu que o Eike financiou entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões em sua campanha em 2010, mas que o dinheiro foi pago no Brasil, embora fosse de Caixa 2.
Cabral informou ainda que pedirá uma acareação com os irmãos Renato e Marcelo Chebar, doleiros que fizeram delação premiada e afirmam que Cabral tinha US$ 100 milhões em conta no exterior.
Ele questionou o procurador Eduardo El Hage sobre o rápido acordo de delação premiada que o Ministério Público Federal fez com os doleiros sem que houvesse provas de que o dinheiro no exterior era dele.
"Como o MPF imputa a mim US$ 100 milhões sem nenhum documento que comprove isso?", disse.
O ex-governador também contestou o fato de joalherias colocarem em sua conta joias sem nota fiscal que ele não comprou.
El Hage respondeu que há provas materiais que comprovam a denúncia e que a celeridade do acordo ocorreu "talvez porque US$ 100 milhões seja o maior valor já devolvido na Lava Jato", respondeu.
Sérgio Cabral é réu em outras 11 denúncias e já foi condenado a 14 anos e 2 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, na Operação Lava Jato.
Eike Batista, embora tenha dito querer colaborar 100% com a Justiça, disse no interrogatório que, por orientação dos advogados, não responderia a todas as perguntas. Ele negou ser amigo pessoal de Cabral por ter emprestado avião na época ao ex-governador.
Eike respondeu que tinha costume de emprestar seus três aviões a conhecidos e que, além disso, ficava "difícil negar um pedido do governador". Godinho se manteve em silêncio e não respondeu nenhuma pergunta.
Adriana Ancelmo negou ter recebido vantagens indevidas por meio de acordos ilícitos por parte do governo de Sérgio Cabral.
A ex-primeira-dama afirmou que nunca esteve com nenhum representante de nenhuma das empresas de Eike Batista e que o valor de R$1 milhão pagos ao seu escritório de advocacia pelo empresário foi fruto de honorários negociados exclusivamente por seu ex-sócio, Sergio Coelho.
Segundo ex-primeira-dama, Coelho, que deixou a sociedade em novembro de 2013, era responsável pelas ações estratégicas e por isso ela não sabe dizer que serviço o escritório prestou à EBX, uma das empresas de Eike.
Adriana garantiu ainda que Sérgio Cabral nunca orientou ou sugeriu a empresários que procurassem o escritório para contratar serviços.