Vacina contra o novo coronavírus, produzida pelo Instituto Butantan: expectativa do governo de São Paulo é que o estado tenha quase 11 milhões de doses em estoque até o fim de 2020 (Thomas Peter/Reuters Brazil)
Fabiane Stefano
Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 23 de dezembro de 2020 às 12h27.
Cinco meses após o início dos testes da CoronaVac no Brasil, o Instituto Butantan divulga, nesta quarta-feira (23), os resultados que atestam a eficácia da vacina contra o novo coronavírus desenvolvida em parceria com a empresa chinesa Sinovac. Os números finais dos estudos de fase 3, conduzidos no Brasil e na China, devem ser divulgados em uma coletiva de imprensa marcada para 15h45.
O laboratório chinês e o Butantan devem submeter os dados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à agência reguladora chinesa ao mesmo tempo, e aguardam não apenas a aprovação emergencial do imunizante, mas também o registro definitivo — o que permitira a distribuição da vacina em larga escala, e não apenas para grupos específicos.
A estratégia de obter o registro duplo, o internacional junto com o nacional, foi divulgada no dia 14 de dezembro, quando o governo paulista anunciou o adiamento da divulgação do resultado de eficácia da vacina CoronaVac, supreendendo à comunidade científica, que aguarda ansiosa os dados do estudo conduzido no Brasil.
A gestão do governador João Doria pretende começar a vacinação com a CoronaVac, pelo menos dos grupos prioritários (como profissionais da saúde e idosos), em 25 de janeiro, mas a viabilidade desse prazo depende da aprovação da Anvisa. O governo paulista espera obter essa liberação já nas primeiras semanas de janeiro, quando já terá pelo menos 10,8 milhões de doses em estoque.
Há pouco mais de um mês, estudos das fases 1 e 2 publicados na revista científica britânica The Lancet — e revisados por pares — mostraram que a vacina é segura e induz a produção de anticorpos em cerca de 97% dos voluntários. A expectativa de infectologistas, entretanto, é que esse número caia um pouco nos estudos da fase 3, que testam o imunizante em um número maior de voluntários — só no Brasil, mais de 13.000 participam do estudo clínico. Para a comunidade científica, uma taxa de eficácia superior a 50% já é suficiente para uma vacina ser aceita e aprovada.
"É provável que a CoronaVac não alcance a mesma taxa de eficácia de 94% e 95% das vacinas produzidas pela Moderna e pela Pfizer/BioNtech, respectivamente", diz Luiz Fernando Lima Reis, diretor de pesquisas do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Isso porque, segundo Reis, as vacinas que utilizam versões inativados do vírus, como o imunizante do Butantan, tendem a ter menor eficácia, mas são tecnologias amplamente usadas na saúde pública. "Qualquer percentual acima de 50% estará valendo. Precisaremos de todas as vacinas disponíveis cuja segurança e qualidade sejam comprovadas para imunizar a população."
Após discussões acaloradas entre o governador João Doria e o governo federal, o Ministério da Saúde informou na última quarta-feira (16) que incluirá a vacina do Butantan no Plano Nacional do Imunização contra a Covid-19. O ministério, inclusive, prometeu o início da vacinação para o final de janeiro e já negocia a compra de 100 milhões de doses para entrega e distribuição em todo o país ainda no primeiro semestre de 2021. O Butantan também deve vender a vacina para outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Colômbia e Bolívia.
A expectativa do Ministério da Saúde é que, nos próximos meses, o país tenha acesso a 258,4 milhões de doses de várias vacinas contra o coronavírus. O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, disse que parte desse volume já começa a chegar em janeiro.
Segundo Medeiros, a expectativa é ter 42 milhões de doses do consórcio Covax Facility; 100,4 milhões da vacina de Oxford; e 70 milhões da vacina da Pfizer. Já a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan e pela chinesa Sinovac, somaria mais 46 milhões de doses, das quais 9 milhões seriam entregues em janeiro, 15 milhões em fevereiro e 22 milhões em março de 2021. Medeiros disse que há uma negociação em andamento para ampliar o contrato da CoronaVac para 100 milhões de unidades.
Na segunda-feira (21), Doria anunciou que o estado deve receber até o fim deste ano matéria-prima para fabricar localmente mais 7 milhões de doses da CoronaVac. Mais de 5 milhões dessas doses devem desembarcar no Aeroporto de Guarulhos nesta quinta (24), véspera de Natal. Outras 400.000 doses chegam ao estado na próxima segunda (28) e, dois dias depois, na quarta-feira (31), mais 1 milhão de doses serão entregues. Ao fim de 2020, segundo o governador, o estado de São Paulo já terá um estoque 10,8 milhões de doses da CoronaVac.
O governador João Doria também reafirmou que o estado está reforçando seu estoque de insumos para vacinação. Na sexta (18), o estado de São Paulo iniciou o processo de compra 100 milhões de cada um desses insumos e pretende concluí-los ainda nesta semana. Essa é a quarta tentativa do governo paulista de adquirir agulhas e seringas — até agora, os prazos estipulados nos editais foram considerados inviáveis pela indústria.