Lula e Marisa: no terreno seriam acolhidos bens de propriedade do ex-presidente, que exercitaria atividades culturais no espaço, a exemplo do Instituto FHC (Lula/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de maio de 2017 às 16h48.
São Paulo - O pecuarista José Carlos Bumlai declarou nesta terça-feira, 9, ao juiz federal Sérgio Moro que a ex-primeira dama Marisa Letícia o procurou e pediu sua "ajuda" para comprar um terreno que iria abrigar a sede do Instituto Lula.
Bumlai depôs como testemunha arrolada pelo Ministério Público Federal em ação penal contra o ex-presidente.
Em seu depoimento, o pecuarista contou que Marisa lhe disse que o objetivo era localizar um terreno para instalação do Instituto.
Ali seriam acolhidos bens de propriedade do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que exercitaria atividades culturais no espaço, a exemplo do Instituto Fernando Henrique Cardoso.
Bumlai disse que o primeiro empresário que procurou foi o então presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht - preso na Lava Jato desde junho de 2015. Odebrecht teria ajudado a fazer contato com outros empresários.
O amigo de Lula afirmou a Moro que não se interessou pela compra do imóvel por impossibilidade financeira. Por isso, afastou-se da procura.
Contou, ainda, que uma corretora de imóveis chegou a ser indicada a ele e foi visitar um terreno, mas não se interessou porque não podia comprar.
Nesta denúncia contra Lula, a força-tarefa da Lava Jato sustenta que parte de valor de propinas que teriam sido pagas pela Odebrecht "foi lavada mediante a aquisição, em benefício do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do imóvel localizado na Rua Dr. Haberbeck Brandão, nº 178, em São Paulo (SP), em setembro de 2010, que seria usado para a instalação do Instituto Lula", o que acabou não se concretizando.
De acordo com o advogado Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula, os depoimentos colhidos nesta terça pelo Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba mostram que a ideia de construção de um memorial para abrigar o acervo presidencial do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não guarda qualquer relação com os 8 contratos firmados entre a Odebrecht e a Petrobras, como diz a acusação do Ministério Público Federal".
"Ao depor, o empresário José Carlos Bumlai deixou claro que Lula jamais solicitou qualquer intervenção sua objetivando a aquisição do imóvel da Rua Haberbeck Brandão 178, em São Paulo. Mais ainda, Bumlai informou que lhe foi pedido que não comentasse esse assunto com Lula", destacou a defesa do ex-presidente da República.
"O empresário reafirmou o que já havia declarado em depoimento anterior - que o projeto em questão pretendia reproduzir espaço similar ao que já abrigava o acervo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso."
Segundo a defesa de Lula, o arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz, outro depoente, esteve na Rua Haberbeck com a diretoria do Instituto Lula, que lhe pediu a avaliação do local - entre outros que estavam sob análise - para abrigar o Memorial da Democracia.
"O imóvel não preenchia as condições necessárias, tanto assim que o arquiteto reconheceu ter feito um projeto para sediar o museu em um imóvel no centro de São Paulo, que era objeto de um processo de concessão pela prefeitura, após a aprovação, pela Câmara, de um projeto de lei do então prefeito Gilberto Kassab."
Conforme a defesa do ex-presidente, Mateus Cláudio Baldassari, proprietário do imóvel da Haberbeck, disse "não conhecer Lula e que o processo de compra e venda em questão não tem qualquer vinculação com a denúncia do MPF e que a transação não apresentou qualquer especificidade que pudesse lhe despertar a atenção - foi tão somente uma transação imobiliária".