Brumadinho: Cidade está em alerta para risco de surto de doenças infecciosas (Adriano Machado/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 20h43.
A prefeitura de Brumadinho está com edital aberto para contratação de profissionais para as secretarias de Saúde e de Desenvolvimento Social do município. São 132 vagas temporárias para médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e agentes de combate a endemias, além de pessoal administrativo e operacional. As inscrições vão até o dia 11 deste mês.
De acordo com nota divulgada nesta tarde (8) pela Vale, os custos das contratações serão de responsabilidade da mineradora, que também arcará com os gastos de logística e do trabalho das esquipes. "Ao todo, serão repassados R$ 3,23 milhões à administração municipal", informou a Vale.
O objetivo do processo seletivo é reforçar o atendimento dos atingidos pelo rompimento da barragem de rejeitos da mineradora na Mina Córrego do Feijão. Segundo os dados mais recentes, já são 157 mortos e 182 pessoas permanecem desaparecidas.
Os profissionais atuarão, inicialmente, por um período de seis meses. O prazo poderá ser estendido uma única vez, por igual período, caso se avalie a necessidade. Os salários variam de acordo com o cargo e vão de R$ 1.018 a R$ 16.280.
Além dos 132 selecionados pelo concurso, 10 profissionais serão contratados para ocupar cargos de coordenação. Após a conclusão do concurso, os aprovados vão substituir progressivamente integrantes das equipes de saúde que foram disponibilizadas pela Vale após o rompimento da barragem. Segundo a Vale, o Ministério Público de Minas Gerais, a Defensoria Pública do estado, a Defensoria Pública da União e o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) também participaram do acordo firmado com o município.
Na última terça-feira (5), pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertaram para a possibilidade de agravamento de doenças crônicas na população de Brumadinho e de regiões vizinhas, sobretudo em locais isolados e sem acesso aos serviços de saúde. A instituição científica, vinculada ao Ministério da Saúde, teme que a falta de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) e a dificuldade para obter medicamentos prejudique pessoas que dependam de hemodiálise ou que tenham doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
Leva-se também em conta o fato de que agentes de saúde com as mais diversas atribuições podem ter deixado suas funções originais para atender às emergências. Além disso, há profissionais que precisam lidar com perdas pessoais. "Mesmo se nenhum agente de saúde estiver entre as vítimas, muitos deles tiveram um amigo ou um parente atingido, e que pode ter vindo a óbito. Então, é difícil esperar que essas pessoas consigam manter normalmente sua rotina de acompanhamento de hipertensos, de grávidas, de diabéticos, de pacientes renais. É impensável que as visitas domiciliares não sofram interrupções", disse o pesquisador Diego Xavier.
A Fiocruz alertou ainda sobre o risco de surto de doenças infecciosas. Isso porque o impacto da lama sobre o bioma traz alterações na biodiversidade local, podendo afetar predadores naturais e favorecer a proliferação de caramujos, transmissores da esquistossomose, e de mosquitos que transmitem doenças como dengue, chikungunya e febre amarela.
Além disso, estudos sobre saúde mental após tragédias ambientais têm mostrado aumento de diagnósticos de depressão e de ansiedade. Outros riscos apontados pela Fiocruz são a contaminação da água do rio e a poeira, que deve se dispersar e pode causar doenças respiratórias, uma vez que a lama seque.