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Brasileiros se decepcionam por promessas não cumpridas

Governo prometeu para Natal uma rede de transporte leve sobre trilhos, a renovação do litoral e calçadas adaptadas para cadeiras de rodas


	Arena das Dunas: pouca coisa foi concluída além do estádio e de um remoto e não testado aeroporto
 (Wkimedia Commons)

Arena das Dunas: pouca coisa foi concluída além do estádio e de um remoto e não testado aeroporto (Wkimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 19 de maio de 2014 às 15h05.

Natal - Quando o Brasil traçava planos para sediar a Copa do Mundo de 2014, este destino litorâneo no Nordeste era exatamente o tipo de cidade que o país queria mostrar para o mundo. 

O crescimento econômico transformava o lugar em uma típica cidade emergente do novo Brasil, um país finalmente destinado a dar o esperado salto para o primeiro mundo.

Quem se importa que Natal, no historicamente pobre Nordeste, fique longe de Rio de Janeiro e São Paulo? Ou que seu estádio, casa de times regionais intermediários, mal pudesse ser considerado um destino principal para o esporte profissional, ainda mais para o torneio de futebol mais popular do mundo?    

Natal construiria uma nova e evoluída arena, disseram autoridades, e todos os tipos de infraestruturas adicionais também. O governo prometeu uma rede de transporte leve sobre trilhos, a renovação do litoral e calçadas adaptadas para cadeiras de rodas.     

Cinco anos depois, e quatro semanas antes do pontapé inicial do Mundial, pouca coisa foi concluída além do estádio e de um remoto e não testado aeroporto.

Quase metade dos mais de 3 bilhões de reais em desenvolvimentos prometidos nunca saiu do papel. E o que de fato foi iniciado, atrasou, incluindo trabalhos rodoviários em andamento que transformaram os arredores do estádio numa ampla paisagem de vigas, poeira e concreto.

“Esta é uma oportunidade perdida”, disse o deputado estadual Fernando Mineiro (PT). “Natal aproveitou mal a Copa e foi tímida na hora de investir e desenvolver projetos para a sociedade”.

Cidades buscam sediar a Copa do Mundo, Olimpíadas e outros eventos esperando que o turismo, a exposição internacional e outros benefícios possam justificar os investimentos em infraestrutura e outros “legados", como aqueles que notoriamente remodelaram Barcelona para os Jogos Olímpicos de 1992.

Mas o desperdício também é comum, deixando infraestrutura não utilizada --por exemplo, os estádios da África do Sul após a Copa de 2010-- como um legado de pouca coisa além da vaidade.

Pelo Brasil, especialmente nas 12 cidades-sede da Copa, os moradores lamentam os altos custos, os atrasos em obras e os investimentos que não foram adiante. Burocracia, corrupção e embates políticos, dizem, levaram à comum falta de execução que frequentemente afeta o desenvolvimento do país.

Um trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo nunca saiu do papel. Em vez de um novo terminal aeroportuário, passageiros de Fortaleza passarão por uma enorme tenda provisória. Uma linha férrea em Cuiabá não estará pronta até bem depois da Copa.

Em todo o país, apenas 36 dos 93 principais projetos estão completos, de acordo com o Sinaenco, um grupo de engenheiros e arquitetos.

Gastos da Copa     

Os problemas resultam num grande descontentamento sobre os cerca de 25 bilhões de reais gastos no evento. O custo é particularmente excessivo agora que o crescimento da economia brasileira, após um avanço anual médio de mais de 4 por cento em quase uma década, caiu para metade dessa taxa.

Grandes protestos aconteceram em junho do ano passado durante a Copa das Confederações, e pequenas manifestações continuaram. A Copa, dizem muitos brasileiros, revela divisões em um país forte em espetáculos, mas fraco em saúde, infraestrutura, educação e outros serviços essenciais.     

“Será um belo torneio”, disse Maria Santos, uma enfermeira de 29 anos de Natal, enquanto esperava um ônibus para ir ao hospital onde ela e seus colegas frequentemente trabalham sem luvas de látex e seringas. “Mas tudo o que gastaram seria melhor gasto em outros lugares”.

Como em outras cidades-sedes onde a ambição superou a realidade, e a própria economia do Brasil, Natal ficou aquém de suas aspirações de mundo desenvolvido.     

A cidade de pouco menos de um milhão de habitantes é assolada por crimes, problemas nas finanças públicas e políticas locais barrocas e alegadamente corruptas.     

“As coisas não saíram como previsto”, disse José Aldemir Freire, um economista do escritório local do IBGE. “Houve alguns investimentos, sim, mas não na escala esperada”.

A Fifa primeiramente esperava apenas oito cidades-sedes. Mas o governo brasileiro e a CBF queriam mostrar mais, ganhando pontos políticos regionais no processo. O Brasil, disseram à Fifa, prepararia 12 sedes, causando um alvoroço entre capitais estaduais de menor porte.

Natal teve vantagens.     

Sua localização no extremo nordeste da América do Sul é mais próxima da Europa do que qualquer outro destino no Brasil. O litoral de Natal, entre as grandes dunas que moldam a paisagem, possui mais quartos de hotéis do que a maioria das outras sedes, com exceção de Rio, São Paulo e Salvador.

    Quando a Fifa anunciou o nome de Natal na cerimônia em maio de 2009, moradores se juntaram nas praias para assistir ao evento em um telão. Fogos de artifício foram disparados e autoridades locais rapidamente começaram a fazer promessas.          

Projetos parados      

O primeiro desafio foi o novo estádio.

A Fifa exigiu uma arena para pelo 42 mil espectadores -- 10 vezes a média de público em jogos rotineiros da cidade. Autoridades locais decidiram demolir a estádio existente e construir um novo.     

Os arquitetos contratados calcularam um custo de 400 milhões de reais para a nova arena. Quando buscaram ofertas para o serviço em 2010, entretanto, as construtoras disseram que não poderia ser construído por este preço.     

Organizadores reformularam os planos, reduzindo o tamanho de uma cobertura ondulada sobre o estádio que seria uma referência às dunas litorâneas. Eles concordaram em 32 mil assentos permanentes, com os 10 mil adicionais para a Copa instalados apenas temporariamente.      O governo federal, enquanto isso, concordou em financiar um aeroporto.     

Embora um aeroporto já existente facilmente acomodasse o tráfego de passageiros de Natal, a indústria local quis outra localidade para aumentar a capacidade de carga.

O governo federal investiria cerca de 572 milhões de reais, mas a obra seria de responsabilidade de uma construtora privada. O Estado do Rio Grande do Norte seria responsável pelas estradas de acesso.

A cidade, por sua vez, concordou em melhorar o tráfego e a drenagem perto do estádio. Mas a promessa de seis novos túneis e dois novos viadutos ficou parada e só começou a sair do papel neste ano. Vizinhos do estádio estão céticos com promessas da prefeitura de que as obras estarão prontas até o começo do Mundial.

“Ainda bem que as pessoas não podem dirigir até os jogos”, ironiza Rodrigo Pereira, um comerciante próximo a um dos túneis, citando as regras da Fifa por um grande perímetro de segurança para as partidas, forçando espectadores a andar. “Meus clientes não podem nem chegar até mim”.      

Embora a maioria da população local diga gostar do estádio, com seu teto ondulado, eles se preocupam com a conta. “Temos preocupações reais com o preço final”, disse Luciano Ramos, auditor do tribunal de contas do Estado que revisa o contrato.

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