Sueli Santos é líder comunitária do bairro Buritizinho, próximo à região administrativa de Sobradinho II (Marcello Casal Jr/ABr)
Da Redação
Publicado em 8 de março de 2013 às 12h13.
Brasília - Esforço e superação são os conceitos que marcam a trajetória de muitos brasileiros, mas para três mulheres essas palavras ganham um significado especial e mostram que é possível vencer as dificuldades.
A quilômetros, uma líder comunitária, uma estudante e uma indígena, cada uma com uma história diferente, buscam o mesmo objetivo: fazer a diferença.
É assim que a líder comunitária e diarista Sueli Santos explica seu trabalho. Mãe de três filhos, Sueli divide a rotina entre a casa, as crianças, a comunidade e o trabalho. A baiana de 37 anos foi abandonada pela mãe e morou nas ruas de Xique-Xique, onde nasceu, até a adolescência.
Sueli conta que dormia nas calçadas e pedia comida de porta em porta. “A vida nunca foi fácil. Eu sofri muito abuso, todo tipo de abuso que você puder imaginar. Isso foi o que mais me marcou e me marca até hoje. Eu achava que não ia conseguir ser mãe”, diz a diarista ao lembrar daquele período.
Hoje, Sueli mora no Distrito Federal e é líder comunitária de Buritizinho, vila próxima da região administrativa de Sobradinho 2, a 25 quilômetros da capital federal. A diarista está à frente de quase 200 famílias, que foram retiradas de uma área de risco e levadas para a comunidade. Agora, ela busca a regularização da terra, a pavimentação e o saneamento básico da área.
Para Sueli, é possível mudar a realidade de onde se vive. “Quando a gente tem força de vontade de mudar, a gente consegue. Eu acredito, sim, que é possível fazer a diferença. E a mulher é fundamental para isso. A mulher tem garra, a mulher tem força, ela tem amor”.
Fazer a diferença também é o objetivo da estudante Camilla Matias. Cursando o terceiro ano de Engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ela tem uma rotina diferente da maioria dos jovens de 22 anos.
Divide o tempo entre estudo e projetos sociais, entre eles, o Curso Alberto Santos Dumont (Casd), um pré-vestibular gratuito destinado a estudantes de baixa renda, criado na década de 1970.
O curso tem 520 alunos, que recebem os livros também de graça, devido a parcerias com outras instituições, entre elas, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e a Petrobras, além do apoio da Prefeitura Municipal de São José dos Campos.
Camilla preside o Casd, que tem índice de aprovação de 35% em universidades públicas. “Durmo e acordo pensando no Casd. Tenho que mostrar os resultados não só para os parceiros, mas, principalmente, para os alunos e a família. Quando entro em sala, eu falo que o sonho não é só deles, é nosso. Por isso, sei da minha responsabilidade e é uma realização muito grande ver um aluno nosso passar no vestibular”.
Camilla é cearense, foi bolsista durante o ensino fundamental e médio e teve que estudar muito para manter a bolsa. No curso de inglês, foi a mesma coisa. Com mais facilidade na área de exatas, a jovem participava de olimpíadas de matemática, química e física e chegou a ir à Coreia do Sul para representar o Brasil com mais quatro estudantes no Torneio Internacional para Jovens Físicos em 2008.
Mesmo com o bom desempenho nos estudos, hoje Camilla tem outros sonhos fora da engenharia. A jovem quer usar o que aprendeu para ajudar outras pessoas. “Quando eu era mais nova, queria ser muito rica para ajudar as pessoas, hoje sei que não é preciso isso. É possível ajudar com muito pouco. Faço isso porque já recebi muito apoio durante minha vida. É uma forma de retribuir”.
Também foi por meio da educação que a índia kaiowá Elda Aquino conseguiu mudar sua realidade. Ela nasceu na aldeia de Amambai em Mato Grosso do Sul, onde vive. Casada desde os 14 anos, ela decidiu voltar a estudar quando teve o primeiro filho. Desde então, não parou mais. Hoje, Elda é professora e é a única dentre os mais de 7 mil habitantes da aldeia que tem mestrado.
Para chegar até aí, a professora enfrentou algumas barreiras, como por exemplo o preconceito. “Sofri muita discriminação. O meu povo falava que uma mulher devia cuidar do marido e dos filhos. Já a sociedade não indígena questionava por que o índio tinha que estudar. Mas esse preconceito me deu força para mudar a realidade”.
Elda optou pela área da educação para ajudar sua comunidade a resolver os problemas que os índios ainda enfrentam. E a professora argumenta que a mulher é peça fundamental para promover mudanças. “Hoje eu vejo que a mulher avançou muito, principalmente na comunidade indígena. Agora meu povo sabe que a mulher é capaz de transformar a realidade”.