Metrô em SP: capital paulista é a única com mais de 10% do transporte feito nesse modal (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Repórter de Economia e Mundo
Publicado em 12 de maio de 2023 às 00h01.
Última atualização em 12 de maio de 2023 às 13h46.
O Brasil precisaria investir R$ 295 bilhões até 2042 para modernizar a mobilidade urbana nas principais metrópoles, segundo novo estudo organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O montante seria o necessário para levar as metrópoles brasileiras aos padrões de cidades que são referência no assunto na América Latina, Santiago, no Chile, e Cidade do México. Os números estão no documento "Mobilidade Urbana no Brasil: marco institucional e propostas de modernização", divulgado nesta sexta-feira, 12 (veja os cálculos abaixo).
O principal gargalo é no transporte em modal sobre trilhos, com oferta insuficiente ou inexistente de metrô e trens nas grandes cidades. Em Brasília e Belo Horizonte, embora as primeiras linhas de metrô existam, o modal responde por 2% ou menos do transporte total. A exceção é São Paulo, onde 11% do transporte é via metrô e trem, embora ainda sejam necessários investimentos de expansão dada a magnitude da capital paulista, com 12 milhões de habitantes.
A CNI estimou que, só na expansão da malha e investimentos no metrô, seriam necessários R$ 271,1 bilhões nas próximas duas décadas nas maiores metrópoles brasileiras.
"O elevado tempo despendido para locomoção nos centros urbanos tem causado influências negativas sobre a produtividade do trabalho, o meio ambiente, a competitividade da indústria e o bem-estar da população brasileira", disse Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, em nota de apresentação do estudo.
O avanço em frentes como Parcerias Público-Privadas (PPPs) em contratos longos, em torno de 30 anos, pode ajudar a solucionar esse déficit de investimento, segundo Wagner Cardoso, gerente-executivo de Infraestrutura da CNI. Para ele, o Brasil atualmente "subfinancia" o transporte público, ao passo que oferece incentivos a carros.
“Pode-se afirmar que o país subinveste e subfinancia o transporte coletivo e inversamente privilegia e subsidia o transporte individual motorizado, inclusive na precificação dos combustíveis fósseis utilizados por automóveis e veículos individuais”, afirmou Cardoso em nota de apresentação do estudo.
Modal |
Extensão (km) |
Custo de Expansão (R$ bilhões) | |||
Atual |
Necessária |
Hiato |
Variação | ||
Metrô |
387,7 |
936,0 |
548,3 |
141% |
271,13 |
Trem |
730,5 |
781,9 |
51,4 |
7% |
14,80 |
BRT |
607,7 |
756,3 |
148,6 |
24% |
9,34 |
Total |
295,27 |
Fonte: CNI
O principal gargalo no cenário de mobilidade no Brasil é no oferecimento de transporte público sobre trilhos, o que torna complexa a logística nas cidades altamente populosas, com o transporte público majoritariamente composto por ônibus.
"A composição das viagens de transporte coletivo evidencia uma reduzida participação dos modais metroferroviários – de alta capacidade – na mobilidade urbana brasileira, e tipicamente mais eficientes para regiões de alta densidade econômica e populacional", diz o estudo.
A falta dos modais de alta capacidade leva a uma piora nos congestionamentos – ainda que, na média, as metrópoles do Brasil não usem mais carro do que outras grandes cidades no mundo.
Nas viagens em metrópoles brasileiras selecionadas no estudo, o transporte mais usado foi o público (39%), seguido de caminhada ou bicicleta (33%) e uso de transporte individual motorizado, como carro, moto ou táxi (28%). No entanto, o uso de transporte público está concentrado nos ônibus.
São Paulo é a metrópole brasileira com uso de modal ferroviário (metrô e trem) mais perto das metrópoles globais, como Londres e Nova York.
Já no uso de carros, motos e táxis, Curitiba lidera (49% do total), acima da média nacional nas metrópoles.
Em São Paulo, a fatia é de pouco mais de 30% do total, embora ainda acima de cidades latino-americanas como Buenos Aires (23%), Bogotá (25%) e Cidade do México (25%).
Para os cálculos da CNI sobre o gargalo de investimento, foram avaliados os números de 15 regiões metropolitanas:
O estudo também levantou dados que mostram que a demanda por transporte público nas grandes cidades brasileiras está abaixo do pré-pandemia. A situação pode gerar impactos econômicos nas empresas concessionárias do serviço ou pressão para aumento de preços de passagem.
Nas duas maiores metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro, a demanda por transporte coletivo está abaixo de 2019:
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Em um dos passos para melhorar o cenário ruim visto até aqui, o estudo também apontou que a maioria das cidades grandes e médias cumpriu os prazos de apresentação de projetos de mobilidade urbana para os próximos anos, conforme exigido por lei.
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Para cidades acima de 250 mil habitantes, a Lei de Mobilidade Urbana exigia que houvesse um Plano de Mobilidade Urbana (PMU) apresentando e aprovado até abril do ano passado. Dos 116 municípios nesse tamanho, 74% apresentaram um PMU.
Já para cidades menores, entre 20 mil e 250 mil habitantes, o prazo era abril de 2023. Até setembro do ano passado, quando essa parte da análise foi concluída, somente 13% haviam aprovado um PMU. O plano será crucial para que as cidades recebam financiamento adequado, diz a CNI.