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Brasil precisa de 3 mil simuladores de direção até janeiro

A 45 dias do prazo final fixado pelo Denatran, estados só tem 40% dos equipamentos exigidos agora por lei para habilitar novos motoristas

Prazo acabando: a 45 dias da data prevista, estados só tem 40% dos equipamentos exigidos agora por lei para habilitar novos motoristas (Detran-PB/Fotos Públicas)

Prazo acabando: a 45 dias da data prevista, estados só tem 40% dos equipamentos exigidos agora por lei para habilitar novos motoristas (Detran-PB/Fotos Públicas)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 9 de março de 2016 às 14h29.

Última atualização em 2 de agosto de 2017 às 12h35.

São Paulo – A pouco mais que 45 dias para tornar obrigatórias as aulas de novos motoristas em simuladores de direção, o Brasil conta com apenas 40% da demanda dos equipamentos atendida nos centros de formação pelo país. São 2 mil simuladores prontos para o uso, quando são necessários cerca de 5 mil. A informação é da Associação Nacional dos Detrans (AND).

Fontes do mercado de simuladores consultados por EXAME.com estimam em 6,5 mil o número de simuladores necessários, o que mostraria que o Brasil teria ainda menos da demanda preenchida: 30%. O prazo final dado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para que as autoescolas pelo país se adaptem à medida é o dia 31 de dezembro.

Dali em diante, todo aluno deverá passar pelo aparelho após as aulas teóricas e antes das práticas. Atualmente, os futuros motoristas devem passar por 45 horas de aulas teóricas e 25 horas práticas. O simulador substituirá cinco horas destas práticas.

Segundo o Ministério das Cidades, responsável pelo Contran, a medida visa a dar mais tranquilidade aos novos motoristas na fase de reconhecimento das funções do carro, melhorando assim o aproveitamento das aulas práticas.

O processo de instauração no país, porém, acontece a duras penas: a resolução do órgão já foi adiada quatro vezes, ora por problemas políticos, ora estruturais. Desta vez, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) garante que o prazo não será postergado.

O último adiamento foi de fevereiro para junho de 2014, após fiscais do Departamento Nacional de Trânsito constatarem que não haveria simuladores suficientes para atender a demanda do país. A portaria foi então revogada e as aulas em simulador passaram a ser opcionais.

“Em Alagoas, a adesão das autoescolas ao simulador fez com que reduzíssemos o índice de reprovação nos exames práticos de 60% para 35%”, diz Antonio Carlos Freitas Melro de Gouveia, presidente do Detran do estado e vice-presidente da ANP. “Para quem nunca teve afinidade com o carro, o instrumento foi imprescindível para dar os fundamentos da direção.”

Alagoas — junto com AcreParaíba e Rio Grande do Sul — é um dos quatro estados que optaram, desde aquele junho, por manter a obrigatoriedade das aulas em simulador para novos condutores.

Além de estender a medida para todo o país, o próximo passo do Contran será ampliar a obrigatoriedade de simuladores para as outras categorias de habilitação, como motos, vans, caminhões e ônibus.

Vai e volta: as tentativas de aplicação da obrigatoriedade de simuladores vem desde 2013, mas ainda falta disponibilizar o equipamento para mais da metade do país (Detran-PB/Fotos Públicas)

POR QUE DEMOROU?

Quando se falou em obrigatoriedade pela primeira vez, até mesmo políticos no Congresso se mobilizaram para barrar a resolução por conta de possíveis aumentos de preço para tirar a primeira carteira de motorista e uma suposta ineficácia no processo de aprendizado. À época, até mesmo os CFCs de cidades pequenas e sem condições de investir deveriam ter seu próprio simulador, que sai hoje por cerca de R$ 40 mil. Alunos também reclamavam de enjoo e falta de contato com a realidade pelo software.

Ao contrário do que aconteceu no passado, no entanto, a promessa das autoescolas é que o preço da habilitação não mude com a inserção dos simuladores no cronograma. No início de 2014, autoescolas de São Paulo, que representa cerca de 40% das novas habilitações do país, chegaram a aumentar em cerca de R$ 200 o preço da primeira CNH.

Nesse meio tempo foi aprovado e disseminado um esquema de comodato, um empréstimo em que empresas menores poderiam levar seus alunos para ter aula com simulador em autoescolas e CFCs com a estrutura necessária.

“A questão do preço foi driblada pela possibilidade de o simulador ser compartilhado, pagando por aula dada”, diz Aldari Onofre Leite, presidente do sindicato das autoescolas do estado de São Paulo. “Os adiamentos serviram ao menos para amadurecer a discussão com o governo e as ideias comerciais por parte das empresas.”

O sindicato das autoescolas de São Paulo chegou a soltar uma nota afirmando que é possível até reduzir custos com a adesão aos simuladores em relação às aulas práticas, considerando principalmente os custos com instrutor — individual para o carro e um para cada três simuladores — e o preço do combustível.

Para Carlos Santana, diretor da ProSimulador, líder de mercado entre as cinco empresas homologadas pelo Denatran para fornecer simuladores às autoescolas, a venda nem é mais opção para a empresa. “Os valores do comodato se aproximam do custo de aula que a autoescola tem para fazer uma aula prática, sai por aproximadamente 16 reais, então fica bom para todo mundo.”

Tirar a primeira CNH custa, em média, R$ 1,2 mil, segundo a AND. Para o ano de 2016, é esperado um reajuste, mas por conta de custos operacionais. "Teremos reajuste na virada do ano, mas por conta do preço do combustível”, diz Fernando Jorge, proprietário da autoescola Veja, em São Paulo. “Em janeiro passaremos de R$ 1,5 mil para R$ 1,7 mil.”

Acidentes de trânsito: Brasil é o quinto no ranking mundial em mortes no trânsito, com cerca de 45 mil pessoas a cada ano (REUTERS/KAPO Thurgau)

SIMULADOR PARA QUÊ?

Os simuladores de direção contam com todo o aparato de painel e mecânica de um carro real e servem para dar familiaridade do motorista com o interior do carro. Três telas de LCD formam a visão panorâmica enquanto a cabine conta com velocímetro, câmbio de cinco marchas, setas e banco com cinto de segurança.

O aparelho simula até condições adversas que vão de pista molhada por chuva a travessia surpresa de animais na pista. Até mesmo efeitos de álcool ao volante podem ser configurados.

A inserção de aulas virtuais no processo de formação dos motoristas é pensada pelo governo desde a década passada, seguindo a tendência de países como Reino Unido, Holanda e Estados Unidos.

Para a aplicação da medida no Brasil, o Ministério das Cidades encomendou à Universidade Federal de Santa Catarina, em 2009, um estudo que define as diretrizes de uso e de aplicação para o país com base em experiências do exterior.

Além de criar um ambiente seguro para treinamento e tranquilizar os postulantes à habilitação, o estudo chegou à conclusão de que o simulador tem melhora comprovada no aproveitamento das aulas práticas e gera situações de adversidades que os candidatos a motorista podem não enfrentar nas 25 horas de aula que terão com o carro na mão.

Outro dado que incentiva a medida é de um estudo norte-americano assinado pelo National Center Injury, que atesta que motoristas que passaram pelo treinamento reduzem pela metade o risco de acidentes nos dois primeiros anos atrás do volante.

Com isso em mente e pegando carona em um pacto da ONU para redução de mortes no trânsito e melhor educação de condutores, o Contran finalmente decidiu adotar os simuladores em 2010, editando a medida para 2013.

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