Ex-ministro de Estado da Saúde, Nelson Teich., depõe na CPI da Covid (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)
Alessandra Azevedo
Publicado em 5 de maio de 2021 às 16h32.
Última atualização em 5 de maio de 2021 às 16h34.
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich afirmou nesta quarta-feira, 5, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que o Brasil poderia ter tido “um acesso maior e mais precoce” à vacinação contra a covid-19, se tivesse entrado nas “compras de risco” — ou seja, formalizado compras ainda durante a fase de testes.
“Numa estratégia onde a gente tivesse foco na vacina, a gente provavelmente teria um acesso maior e mais precoce à vacinação”, afirmou Teich. Ele ressaltou que, ainda que a situação da covid-19 seja “totalmente fora do padrão”, havia possibilidade de ampliar a quantidade de doses. “Tendo uma estratégia mais focada em vacina, provavelmente a gente teria tido mais vacinas", reforçou.
Para Teich, o Brasil poderia ter mais imunizantes hoje se providências tomadas durante a sua gestão tivessem sido continuadas, como o início do contato com a AstraZeneca e o andamento de conversas com a Moderna e a Janssen, para compras antecipadas. Na visão dele, “vale a pena” entrar no contrato de risco. “Quando entra comprando depois, você entra no final da fila”, apontou.
Teich explicou que, no período em que estava à frente do ministério, os laboratórios estavam começando a testar em humanos e a entrar em contato com países para fazer ofertas. Como os testes ainda não tinham sido concluídos, adquirir vacinas nesse cenário teria um componente de risco, porque os imunizantes podiam não ter bons resultados e, nesse caso, o dinheiro seria perdido.
Mas, quando o país demora para fechar contrato com laboratórios e só busca as vacinas quando já há confirmação do resultado, pode acabar ficando sem, já que outros países se anteciparam. “Isso vai explicar por que a gente tem tanta dificuldade nesse momento de receber as doses compradas. Fora toas as incertezas”, comentou Teich.
“No meu período, não havia uma vacina ainda sendo comercializada. Era ainda o começo do processo”, lembrou Teich. “Foi quando eu trouxe a vacina da AstraZeneca para o estudo ser realizado no Brasil, para o país ser um dos braços desse estudo, na expectativa de que, trazendo o estudo, a gente tivesse uma facilidade na compra futura”, disse.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) perguntou se o Brasil poderia ter mais vacinas hoje, se essas conversas tivessem sido levadas adiante. “Eu acredito que sim, se a gente tivesse entrado nas compras de risco”, respondeu o ex-ministro. Ele ressaltou, no entanto, que a decisão de avançar com a estratégia precisaria ser tomada a partir de uma “posição Brasil” — não apenas pelo Ministério da Saúde, mas com todo o governo.
A CPI foi instalada em 27 de abril, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso determinar a abertura. Estão previstas para quinta-feira, 6, as oitivas do atual ministro, Marcelo Queiroga, e do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.
Na terça-feira, 4, a comissão ouviu o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que ocupou o cargo antes de Teich. No depoimento, Mandetta afirmou que Bolsonaro discordava das recomendações de isolamento social e que o presidente foi avisado sobre a possibilidade de colapso do sistema de saúde.
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