Vacinação: pirâmide etária jovem do Brasil pode ajudar a atingir mais rapidamente os grupos mais atingidos pelo coronavírus. (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Carolina Riveira
Publicado em 11 de maio de 2021 às 17h41.
Última atualização em 11 de maio de 2021 às 23h26.
Se mantido o ritmo esperado de vacinação contra o coronavírus, o Brasil pode atingir algum tipo de normalidade já em outubro e ampliar a reabertura econômica. A projeção é de analistas do banco suíço UBS, em relatório divulgado a clientes nesta semana.
A estimativa foi feita com base em dados de hospitalizações, vacinação esperada para os próximos meses e pirâmide etária brasileira. A expectativa, segundo o relatório, é que o Brasil consiga reduzir drasticamente as infecções e casos graves de covid-19 uma vez que a população de 30 anos ou mais esteja imunizada -- o que os analistas preveem que pode acontecer até outubro com base nas doses anunciadas pelo governo.
Essa fatia de imunizados seria menor do que os 70% ou mais que especialistas avaliam como ideal para atingir algum tipo de "imunidade de rebanho". Para que o Brasil chegasse a 70% da população imunizada, teria de vacinar também o grupo de adultos a partir de 20 anos.
No entanto, o relatório do UBS calcula que pode ser possível chegar ao que classifica como "imunidade de rebanho efetiva" quando o Brasil tiver vacinado uma fatia muito menor de pessoas, somente o grupo dos 30 anos ou mais, ou 56% da população.
Embora represente pouco mais da metade da população, o grupo a partir de 30 anos é responsável por mais de 95% das mortes, hospitalizações e internações em UTI. É sabido também que a covid-19 tem se mostrando menos letal em adolescentes e crianças.
"Assim, nomeamos a conquista da imunidade neste grupo [de 30 anos] e na população com mais de 60 anos como 'imunidade efetiva', permitindo que a atividade econômica se normalize", escrevem os economistas Alexandre de Azara e Fabio Ramos, que assinam o relatório.
Até o momento, o Brasil vacinou com ao menos uma dose 17% da população, e pouco mais de 8,5% também com a segunda dose. Estão neste grupo sobretudo idosos acima de 70 anos e profissionais de saúde. Foram 54 milhões de doses aplicadas, segundo apuração do consórcio dos veículos de imprensa junto aos estados até a segunda-feira, 10.
Foram aplicadas no Brasil cerca de 16 milhões de doses por mês em março e abril. Mas, para estimar que haverá uma vacinação de todos os adultos de 30 anos até outubro, o UBS projeta um aumento significativo nesse número.
A aposta reside sobretudo nas entregas da vacina da AstraZeneca, hoje produzidas pela Fundação Oswaldo Cruz, além de parcela enviada pelo consórcio internacional Covax. Até agora, a Coronavac responde por quase oito em cada dez doses distribuídas no Brasil até o fim de abril.
Pelos cálculos do UBS, a vacina da AstraZeneca deve ultrapassar a Coronavac e se tornar a mais aplicada no Brasil já neste mês de maio. As projeções contam também com a chegada de doses compradas pelo governo federal de Pfizer e Johnson & Johnson -- esta última, só a partir de outubro.
Não estão incluídas no cálculo futuras doses da vacina russa Sputnik V ou da indiana Covaxin, que ainda precisam ser aprovadas pela Anvisa.
Na outra ponta, para cumprir a projeção para os próximos meses, o Brasil terá de lidar com as dificuldades na compra de ingrediente farmacêutico ativo (o chamado IFA), hoje vindo da China. A demora na entrega do IFA tem atrasado a produção de vacinas no Brasil.
Já a fabricação de IFA nacionalmente deve ficar para o fim do ano: a Fiocruz chegou a prometer as primeiras doses para agosto, mas adiou a data para setembro e hoje especialistas já projetam o mês de outubro para o início das entregas. O Butantan também está construindo uma fábrica para fazer o insumo, que só deve começar a operar no ano que vem.
Para que as projeções se tornem realidade, há ainda um longo caminho. Mas, de largada, a pirâmide etária brasileira dá ao país alguma vantagem com relação a outros lugares. Países como EUA, europeus e Japão têm mais de 23% ou mesmo 30% da população com 60 anos ou mais, ante 15% no Brasil.
O país tem ainda uma grande fatia da população que é extremamente jovem, abaixo dos 30 anos. Apesar de numerosa, essa parcela dos brasileiros responde por poucas mortes por covid-19.
O otimismo de que a vacinação somente nos adultos mais velhos pode ser suficiente para melhorar o cenário vem dos resultados já vistos com os idosos, diz o UBS.
Desde o começo da vacinação brasileira, em meados de janeiro, caiu drasticamente a participação dos idosos com 80 anos ou mais (um dos primeiros grupos vacinados) nas hospitalizações, de 15% para 7,5% do total, segundo dados oficiais compilados no relatório do banco.
Além da vacina, especialistas estudam se também há relação com as novas variantes do coronavírus, que parecem afetar amplamente os mais jovens, antes relativamente ilesos. Ainda assim, os números já mostram que, de fato, houve queda significativa em internações e mortes de idosos após a vacinação, o que parece comprovar o efeito rápido da vacinação.
A mesma queda já começa a ser observada também para o grupo de 70 a 79 anos, mas ainda não para os de 60 a 69, que começaram recentemente a ser vacinados.
Apesar do avanço esperado na vacinação, há ainda no Brasil e em outros países o risco de uma terceira onda da covid-19 para os próximos meses. Mas uma vez que a expectativa é que fatia significativa dos adultos já esteja vacinada até lá, o UBS aposta que a tendência é que ela seja menos devastadora do que o momento atual brasileiro. O Brasil passa de 423.000 mortos pela covid-19 até esta terça-feira, 11.
No geral, o relatório divulgado projeta que uma queda nas hospitalizações pode começar a ocorrer já no fim deste mês de maio ou começo de junho, após o Brasil ter vivido em abril seu pior mês da pandemia até agora.
Isso ocorreria porque, com base no atual ritmo de vacinação, os idosos acima de 60 anos podem terminar de ser vacinados completamente (muitos já com as duas doses) no fim de junho.
Enquanto a pandemia não dá sinais de melhora no Brasil, a economia sofre: relatório da Organização das Nações Unidas publicado nesta terça-feira aponta que o Brasil e outros países emergentes devem ter crescimento muito abaixo do esperado em 2021 e nos próximos anos. Quanto mais rapidamente a vacinação avançar, mais o país poderá voltar a ter alguma perspectiva de retomada.