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Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2013 às 10h55.
Lisboa – Para pesquisadores brasileiros, a opção de estudar e trabalhar em Portugal vai além da facilidade de ter o mesmo idioma. As condições dos laboratórios, o acesso a recursos e a facilidade de contato com cientistas da União Europeia têm levado muitos brasileiros a se fixar em terras lusitanas.
Há sete anos em Portugal, José Augusto Soares Prado faz o pós-doutorado no Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e participa do desenvolvimento de um robô interativo (que tem até com expressões faciais) que possa auxiliar nas atividades cotidianas e domésticas.
“Vejo muitas vantagens em estar aqui em relação aos equipamentos. Há mais conexão com outros países da Europa. Para publicar e viajar é mais fácil, estamos mais perto. Tem projetos que financiam as viagens, podemos ter contato com bons institutos na Alemanha, França, Inglaterra. Esse contato, no Brasil, existe, mas é um pouco mais difícil”, argumenta.
Para ele, o fato de Portugal ser membro da União Europeia viabiliza a participação em grandes projetos com financiamento garantido e envolvimento de diferentes centros de pesquisa e empresas.
Um exemplo disso é o projeto Handle, iniciativa com orçamento total de 6 milhões de euros e que mobiliza investigadores da Universidade de Coimbra e cientistas da França, Espanha, Suécia, Alemanha e Reino Unido, além de uma empresa de robótica de Londres, para criar uma mão robótica semelhante à mão humana, capaz de reconhecer e manipular diferentes objetos.
“Nós conseguimos estar em contato com universidades de alto nível, com cientistas conceituados”, acrescenta o brasileiro Diego Faria, que fez seu doutorado no ISR e participa do Handle nos estudos sobre a percepção (tato e visão) de objetos pelos humanos e no desenvolvimento de modelos matemáticos (algoritmos) sobre as inúmeras possibilidades de movimento que calibrem o software da mão robótica. Segundo ele, a relação com empresas viabiliza o desenvolvimento industrial para a aplicação da automação.
Além da pesquisa aplicada e próxima ao desenvolvimento de produtos, em Portugal também há espaço para quem se dedica à pesquisa básica, “que tem valor criativo e gera possibilidades de tecnologias”, como disse o psicólogo Gustavo Borges Moreno e Mello que estuda a “percepção do tempo como habilidade fundamental para atribuir causalidade dos eventos” no Centro de Investigação da Fundação Champalimaud, em Lisboa.
A fundação é uma referência mundial no campo da biomedicina. “Aqui trabalham pessoas que estão na crista da onda e são reconhecidas. Circula muita informação e trabalho com pessoas que sabem filtrar essas informações”, diz o carioca Gustavo, que há seis anos está em Portugal e acha Lisboa “uma versão europeia do Rio de Janeiro”.
Além dele há outros cinco brasileiros na fundação. É o caso de Tiago Gouveia, que participa de pesquisas sobre aprendizagem.
Segundo ele, “apesar de Portugal, como o Brasil, não ser visto como centro forte para pesquisa, há condições materiais para se produzir ciência: dinheiro, acesso à tecnologia e menos burocracia”.
Ele começou a vida acadêmica no Brasil e acredita que vá regressar, mas quer ver isso como um passo adiante na sua carreira. “Pretendo voltar para o Brasil e dar minha contribuição lá, mas não quero ver isso como um passo atrás. Pelo contrário, gostaria de pensar que voltar ajudaria a trazer o Brasil para esse estágio”.
O regresso ao Brasil é cogitado até por quem vive há 16 anos em Portugal (desde a adolescência), como a bióloga Márcia Aranha.