Venezuelanos voltam a seu país depois de comprar comida na cidade de Pacaraima, no estado de Roraima (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de fevereiro de 2019 às 19h47.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2019 às 06h38.
Brasília - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fechou ontem o espaço aéreo do país e enviou blindados à fronteira com o Brasil para impedir a entrada de ajuda humanitária. Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro manteve o envio de ajuda. A decisão ocorre a dois dias de a oposição venezuelana iniciar uma operação de entrega de mantimentos enviados pelos EUA com ajuda brasileira e colombiana.
"Decidi que, no sul da Venezuela, fica fechada completamente a fronteira com o Brasil, até segunda ordem", disse Maduro, após reunião com o alto comando militar em Caracas.
Sobre a Colômbia, o chavista afirmou que avalia uma medida similar e disse que o armazenamento de ajuda humanitária é uma "provocação barata". "Responsabilizo o senhor Iván Duque (presidente colombiano) por qualquer violência na fronteira."
Mesmo com o fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil, Bolsonaro decidiu manter a missão humanitária. O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rego Barros, informou que os produtos serão mantidos nas cidades de Boa Vista e de Pacaraima, em Roraima, até que meios de transporte venezuelanos busquem os suprimentos.
"Estamos disponibilizando os meios para a operação e continuamos aguardando a vinda dos caminhões de transporte dirigidos por venezuelanos", disse. Segundo ele, os alimentos não são perecíveis e o prazo de validade dos medicamentos é longo, o que permite o armazenamento por um longo período.
A partir de amanhã começa o envio de ajuda humanitária desde Roraima para a Venezuela, afirmou ontem María Teresa Belandria, representante de Guaidó no Brasil. "Foram definidos os procedimentos para realizar a operação, por meio da qual serão transportadas em uma primeira fase até 100 toneladas de ajuda, composta por alimentos, remédios e kits de emergência, que sairão da cidade de Boa Vista", explicou María Teresa. O controle completo da operação será das autoridades brasileiras.
A decisão de manter a operação foi tomada em reunião ontem entre Bolsonaro e os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Santos Cruz (Governo). O chanceler Ernesto Araújo não participou. Segundo o governo, contudo, ele foi consultado por telefone.
A pedido de Jair Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão irá a Bogotá para a reunião do Grupo de Lima, que ocorre segunda-feira. O tema do encontro será a crise na Venezuela, que pode se agravar após a decisão de Nicolás Maduro de fechar as fronteiras.
"Maduro mandou fechar a fronteira para evitar que o pessoal da Venezuela venha ao Brasil buscar suprimento", disse Mourão ao jornal O Estado de S. Paulo. O vice-presidente garantiu que, "em hipótese alguma", o Brasil entrará na Venezuela para qualquer finalidade. "Isso não existe", avisou.
De acordo com Mourão, "não há situação tensa". "Está da mesma forma que antes. Nada mudou. Vamos aguardar o que vai acontecer amanhã", comentou, referindo-se à decisão de Guaidó de forçar a entrada de ajuda amanhã. Segundo o líder da oposição venezuelana, as doações chegarão por Cúcuta, na Colômbia, e Roraima, no Brasil. No entanto, com a fronteira fechada, isso pode não acontecer.
O aumento da tensão com o fechamento da fronteira ocorre no momento em que o alto comando do Exército se reúne em Brasília, desde a segunda-feira, em uma agenda previamente marcada, para definir as promoções de março. Nos encontros são feitas avaliações de conjunturas nacional e internacional.
Durante as reuniões, os militares brasileiros descartaram qualquer chance de confronto e demonstraram preocupação com a quantidade de alimentos que foi levada para Roraima e poderá se perder em razão do fechamento da fronteira.
As Forças Armadas e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ainda têm adidos em Caracas e mantêm o governo brasileiro informado. "A situação é de observação. Apenas isso", afirmou um general, que preferiu não se identificar, já que a questão está sendo conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores em conjunto com o Planalto.
Chanceler
Na viagem a Bogotá, Mourão será acompanhado pelo chanceler Ernesto Araújo. Ontem, o vice-presidente negou que sua ida à Colômbia represente o isolamento de Araújo. "De jeito nenhum. Ele vai comigo, só que a reunião é de presidentes e, por isso, o presidente Bolsonaro pediu para eu representá-lo", declarou Mourão.
Na reunião do Grupo de Lima, na segunda-feira, na Colômbia, estarão representantes dos 14 países do Grupo de Lima. Entre os integrantes, apenas o México não reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela. (Com agências)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.