Rio de Janeiro: país já registrou 131.663 óbitos e 4.330.152 casos do novo coronavírus (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de setembro de 2020 às 14h34.
Última atualização em 14 de setembro de 2020 às 15h12.
O Brasil se tornou ontem o país do G20, o grupo das 20 principais economias mundiais, com o maior coeficiente de mortalidade por covid-19, com 613,46 mortes por milhão de habitantes, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em nono nesse ranking no mundo, o país superou o Reino Unido e se aproxima do Equador (com 614,18). O coeficiente de mortalidade é calculado dividindo o número total de óbitos pela covid-19 no país pelo número total da população. A primeira morte por covid-19 no Brasil foi anunciada em 16 de março.
Depois disso, o país já registrou 131.663 óbitos e 4.330.152 casos do novo coronavírus, segundo balanço mais recente — o estado de São Paulo lidera com 32.606 óbitos e 892.257 casos confirmados.
Já a média móvel de mortes por covid-19, que registra as oscilações dos últimos sete dias e elimina distorções entre um número alto de meio de semana e baixo de fim de semana, ficou em 711 neste domingo.
Segundo o consórcio de veículos de imprensa, que reúne Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL, foram registrados 389 novos óbitos em 24 horas e 14.294 casos. O Ministério da Saúde, por sua vez, relatou 3.573.958 pessoas recuperadas da infecção.
Apesar de a média móvel do Brasil apresentar queda nas últimas semanas, saindo do patamar de 1.000 casos em agosto e agora se aproximando de baixar dos 700, o coeficiente de mortalidade, que é cumulativo, só aumenta. Em maio, quando se alcançou a marca dos 10.000 mortos, estava na 33ª posição por milhão de habitantes.
Mais recentemente, na marca dos 100.000 mortos, o fato de o Brasil não estar no chamado "top 10" dessa análise foi destacado pelo Ministério da Saúde, quando confrontado com o fato de o Brasil só ficar atrás dos Estados Unidos quando se consideram números absolutos de óbitos e registros positivos.
Domingos Alves, professor na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, explica que a pandemia no Brasil continua ainda muito intensa. "O número de casos e óbitos tem permanecido num patamar elevado desde o começo do mês de junho. Em cima disso, existem as várias subnotificações e atrasos."
Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e epidemiologista, vai na mesma linha e observa que o principal motivo que explica esse alto número do coeficiente de mortalidade do Brasil é a falta de testagem da população para o novo coronavírus. "O Brasil é um dos poucos países do G20 que não têm uma política eficiente de testagem e rastreamento dos contatos dos infectados", disse.
A OMS preconiza que um país quando começa a controlar a situação tem positividade dos testes abaixo dos 5%. "O Brasil tem uma média de 30%. No último mês, essa média aumentou. Estamos com 40%. Em alguns estados está acima de 60%, como Tocantins", afirmou Alves
Outro item destacado pelo epidemiologista do Rio Grande do Sul é que o país nos momentos mais graves não fez lockdown e distanciamento social rigoroso. "Só retrocedeu, e isso fez com que os números que já eram altos explodissem." Um terceiro motivo que contribui para esse número, de acordo com Hallal, é o descumprimento de medidas de segurança contra o coronavírus pela própria população brasileira. Os especialistas em saúde ressaltam que os números por milhão de habitantes também precisam ser contextualizados.
Além das testagens, é preciso observar os diversos estágios da pandemia em cada país, o tamanho da população, a densidade demográfica e até o perfil etário de cada população. A Itália, por exemplo, um dos países que mais sofreram com a pandemia no mundo, começou a ter registros da doenças em meados de janeiro. Mas em maio, já começava a reabertura econômica gradual e marcava quedas nos números de covid-19, não alcançando mais a marca de 1.000 óbitos por dia (do auge da pandemia).
Entre os países com grandes populações à frente do Brasil, e perfis próximos, se destaca apenas a Espanha, que voltou à marca de 10.000 casos por dia nesta semana. Nas Américas, a situação mais crítica nesse quesito é do Peru.
O Estadão considerou os dados da OMS. Outros sistemas de informação vêm calculando a média com base em informações obtidas diretamente dos países. Dados do Our World Data, por exemplo, também mostram que agora o Brasil passou Suécia e Reino Unido por milhão, mas ficando atrás apenas de Chile, Andorra e Bélgica, Espanha e Peru.