Os presidentes da Rússia, Vladmir Putin; da Índia, Pranab Mukherjee, do Brasil, Dilma Rousseff, e da China, Xi Jinping (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 29 de dezembro de 2014 às 13h51.
Brasília - O Brasil avançou em 2014 em busca da cooperação consolidada entre os países integrantes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Fortaleza, no Ceará, sediou, em julho deste ano, o encontro de cúpula dos cinco países, quando foi dado mais um passo para a estruturação do novo Banco de Desenvolvimento do Brics, que terá sede em Xangai, na China, e a presidência ocupada por um representante da Índia. O anúncio, na ocasião, foi feito pela anfitriã do encontro, a presidenta Dilma Rousseff.
Ficou acertado na época que o capital inicial autorizado do banco é US$ 100 bilhões e o capital subscrito do banco US$ 50 bilhões, igualmente distribuídos entre os cinco países que integram o Brics.
O primeiro escritório regional do banco será na África do Sul, a primeira direção da equipe de governadores pertencerá à Rússia e a primeira composição da equipe de diretores será do Brasil. A presidência do banco será rotativa entre os integrantes do bloco.
O esforço para a criação do novo banco pode esbarrar, no entanto, nas dificuldades que os países do grupo vêm enfrentando sob a influência da crise econômica global, inciada em 2008, e que teima em não arrefecer.
A Rússia, por exemplo, passou a viver turbulências e, para proteger sua moeda, o rublo, ante o dólar, elevou em único dia de dezembro a principal taxa de juros do país, de 10,5% para 17% ao ano. A situação tem levado nervosismo e ansiedade ao mercado financeiro, preocupado com uma possível recessão russa.
Durante café da manhã, com jornalistas, neste fim de ano, a presidenta reconheceu os problemas enfrentados pelos países emergentes, mas, ao comentar a situação do Brics, negou que a Rússia esteja “à beira de uma crise econômica”. Segundo ela, a economia russa passou por uma turbulência monetária, “mas tem reservas suficientes”.
Para o Brasil, o novo banco é fonte alternativa para financiamento de infraestrutura, compensando assim a falta de crédito das principais instituições financeiras internacionais.
Os empresários dos países que compõem o bloco apresentaram proposta que permitirá a troca direta de moedas entre os países, para facilitar e baratear os custos de transação.
O doutor em Ciências Sociais e mestre em Economia Política Francisco Américo Cassano acredita que, devido ao novo cenário mundial, com a crise da Rússia e a mudança de postura dos Estados Unidos em relação a Cuba, ainda é cedo para se avaliar se o banco do Brics deslanchará no curto prazo.
“Algumas variáveis aconteceram nesse intervalo de tempo, entre a criação do banco e o encerramento do ano. O fato de os Estados Unidos ter se aproximado de Cuba e a economia brasileira ter apresentado sinais decepcionantes pode significar que as coisas nesse sentido devem ficar um pouco acomodadas”, disse à Agência Brasil.
Professor da Universidade Presbiteriana Manckenzie, em São Paulo, Américo Cassano defende revisão na política externa brasileira ante a nova realidade.
A seu ver, o Brasil deve procurar melhor relação com os países desenvolvidos e menos dependente do comércio com a China e com países menos desenvolvidos.
Ele destaca que, quando defende a mudança, não significa ruptura com os países do Mercosul. Mas, para ele, o Brasil terá de se aproximar mais da União Europeia.
Mesmo com o ambiente de turbulências no exterior, o professor vê sinais otimistas, internamente. Destacou, como fato representativo, a equipe ministerial de orientação fiscalista, tendo à frente o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Ele considera importante ainda a escolha do novo ministro da Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, responsável pela política de comércio internacional do Brasil.