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Brasil está entre países que fecharam escolas por mais tempo, diz OCDE

O fechamento de escolas e universidades foi uma das alternativas adotadas no mundo todo para desacelerar o avanço do novo coronavírus

 (Germano Luders/Exame)

(Germano Luders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 8 de setembro de 2020 às 12h13.

As escolas brasileiras ficaram fechadas por mais tempo que a média dos outros países estudados e isso vai impactar a aprendizagem e habilidades dos alunos, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta terça-feira, 8. O fechamento de escolas e universidades foi uma das alternativas encontradas pelas autoridades no mundo todo para desacelerar a contaminação pelo novo coronavírus.

"No Brasil, os fechamentos começaram a partir de 12 de março e, em 25 de março, eles passaram a ser nacionais. No final de junho o país havia experimentado 16 semanas de fechamento efetivo das escolas de alguma forma, em comparação com 14 semanas em média dos países da OCDE. No entanto, o impacto real em alguns países pode ter sido menos severo, pois alguns desses períodos incluíram férias escolares programadas", diz o relatório.

Vale ressaltar que em alguns lugares as escolas ainda não reabriram e que a pesquisa da OCDE pegou apenas o período entre 17 de fevereiro e 30 de junho, ou seja, os dados do Brasil são bem maiores que o apresentado. É o caso do Estado de São Paulo, por exemplo, que fez protocolos para o retorno das aulas e, nele a expectativa é de reinício das atividades de maneira mais ampla apenas em outubro. Isso se as condições da pandemia continuarem apresentando alguma melhora. Na capital paulista, por exemplo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) proibiu o retorno no mês de setembro.

"A reabertura da escola no contexto da pandemia depende da capacidade de manter uma distância segura de 1 a 2 metros entre alunos e funcionários. Países com turmas menores podem achar mais fácil cumprir as novas restrições de distanciamento social. No Brasil, o tamanho médio das turmas no ensino fundamental inicial é de 24 alunos em instituições públicas, o que é maior do que a média da OCDE, de 21 alunos", continua o documento.

"Nas instituições públicas de anos finais do ensino fundamental, há 28 alunos por turma no Brasil (a média cai para 27 alunos, se considerar colégios particulares no cálculo), em comparação com 23 alunos por turma em média nos países da OCDE. No entanto, a necessidade de reduzir o tamanho das turmas pode depender de outros fatores, como espaço físico, a disponibilidade de salas e funcionários, e decisões pessoais dos alunos e funcionários sobre o retorno à escola", diz.

Na realidade brasileira, uma das alternativas que vem sendo discutida é o rodízio de alunos nos dias da semana, o que possibilitaria reduzir o número de pessoas presentes por dia na escola. Isso por causa do excesso de estudantes por turma em média e a falta de espaço físico para conseguir manter o distanciamento social durante as aulas.

"A pandemia não parou nas fronteiras nacionais. Afetou pessoas independentemente de nacionalidade, nível de educação, renda ou gênero. Mas não se pode dizer o mesmo para suas consequências, que atingiram de forma mais dura os mais vulneráveis. A educação não é exceção. Alunos de origem privilegiada, apoiados por seus pais e estimulados a aprender, puderam encontrar caminhos alternativos de aprendizagem apesar das portas fechadas nas escolas. Já as pessoas de origem menos favorecida frequentemente permaneceram bloqueadas quando suas escolas fechavam", afirma a OCDE.

Entre as medidas para auxiliar os estudantes durante o fechamento das escolas estão principalmente as atividades remotas por rádio e televisão, os recursos de aprendizagem online e kits de instrução. Sem contar as aulas em tempo real e encontros virtuais com professores. Até por isso, o relatório pede para que as escolas e instituições continuem investindo nessa capacidade de ensinar à distância, reforçando a infraestrutura disso mesmo com o retorno das aulas presenciais.

Segundo a organização, alguns países conseguiram oferecer apoio aos estudantes durante a pandemia, como suporte de equipamento para aprendizagem à distância, apoio financeiro para alunos e escolas e recursos para segurança e limpeza de equipamentos. Um dos grandes desafios será retomar o investimento na educação, pois a prioridade em muitos países passou a ser a injeção de dinheiro nas áreas de saúde e na economia.

"O fortalecimento dos sistemas de educação precisa estar no centro do planejamento do governo para se recuperar desta crise e dar aos jovens as habilidades e competências de que precisam para ter sucesso", disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, ao lançar o relatório em Paris.

Para reabrir as escolas, a entidade diz que é importante fazer uma avaliação de riscos entre os funcionários, desenvolver protocolos claros para o retorno, revisar as políticas de frequência para ajustar possíveis situações de ausência por motivos de saúde e garantir o treinamento adequado para professores e funcionários.

"A mudança real geralmente ocorre em crises profundas, e neste momento mantém a possibilidade de não voltarmos ao status quo quando as coisas voltarem ao 'normal'. Embora esta crise tenha profundas implicações disruptivas, inclusive para a educação, não têm resultados pré-determinados. Será a natureza das nossas respostas coletivas e sistêmicas a essas rupturas que irão determinar como somos afetados por elas", conclui.

 

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