Transporte de cargas: a pesquisa levou em conta os trechos da BR-116, entre Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, da SP-330, entre Uberaba e Santos, e da BR-050, entre Brasília e Santos (VEJA SAO PAULO/VEJA)
Agência Brasil
Publicado em 16 de março de 2017 às 16h40.
Transportar carga no Brasil é tão perigoso quanto no Iraque ou na Somália, países em que há conflitos armados que se arrastam por anos.
Essa é a avaliação de um comitê do setor de cargas no Reino Unido, que listou os 57 países em que é mais arriscado transportar mercadorias.
Os dados foram divulgados no início do mês e citados hoje (16) pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) para alertar sobre o impacto desse tipo de crime na economia.
Segundo o Joint Cargo Committee, o Brasil é o oitavo país em que é mais perigoso transportar carga.
Se excluídas as nações atualmente em guerra, como Síria e Sudão do Sul, o Brasil passa a ocupar o topo da lista, seguido de perto pelo México.
A pesquisa levou em conta os trechos da BR-116, entre Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, da SP-330, entre Uberaba e Santos, e da BR-050, entre Brasília e Santos.
Para o vice-presidente da Firjan, Sergio Duarte, a gravidade do problema afeta a competitividade da economia brasileira.
"A decisão de investimento do empresário leva várias coisas em consideração, e uma delas é a segurança. O roubo de carga afeta frontalmente a decisão de investimento e compromete o futuro do nosso país", alertou.
De 2011 a 2016, o número de roubos de carga registrados no Brasil subiu 86%, passando dos 22 mil casos por ano no levantamento realizado pela Firjan.
A soma não leva em conta os casos do Acre, Amapá, Paraná e Roraima, cujos dados não foram obtidos pela pesquisa.
Em 2017, o Brasil levou apenas 44 dias para superar o número de roubos de carga registrados em 25 países europeus, Estados Unidos e Canadá.
Apesar de São Paulo concentrar a maior parte dos casos, o Rio de Janeiro chama a atenção pela velocidade com que a incidência do crime vem aumentando.
Em 2011, pouco mais de 25% dos casos do país ocorreram no estado do Rio, fatia que cresceu para 43,7% em 2016.
"O industrial do Rio de Janeiro tem a sua carga saindo da empresa com risco de ser roubada e tem aumento de custo da sua matéria prima. O produto dele fica mais caro e ele não vai competir com as empresas de outros estados", diz Duarte, que é empresário do setor de alimentos, o mais afetado pelo problema.
"Nos supermercados, por volta de 20% dos preços estão sendo majorados por causa do roubo de carga."
Como resultado da alta dos custos, já há empresas desistindo de levar suas mercadorias para o Rio de Janeiro, e empresários fechando suas unidades no estado.
Além do encarecimento, o consumidor pode enfrentar falta de produtos se o problema permanecer em alta, afirma Duarte.
A Firjan lançou hoje um movimento nacional de combate ao roubo de cargas e pediu empenho das autoridades em combater o problema.
Duarte acredita que são necessárias leis mais rigorosas com empresas que armazenam e vendem produtos roubados.
"É importante as pessoas entenderem que não existe roubo se não houver quem compra o roubo. O consumidor tem que entender que ele faz parte disso."
A deputada estadual e ex-chefe da Polícia Civil, Martha Rocha (PDT), apontou que o crime de roubo de cargas no estado tem relação com o controle de territórios na periferia por parte de organizações criminosas, que usam esse crime para financiar outros.
"Hoje, as organizações criminosas estão utilizando o roubo de carga como um fomento para a compra de armas", analisou Martha, que prometeu que a Comissão de Segurança Pública e Assuntos de Polícia da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro realizará uma audiência pública sobre o assunto.