Krugman está otimista com o Brasil, mas desanimado com os EUA (.)
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2010 às 20h27.
São Paulo - O prestigiado economista Paul Krugman teve uma passagem relâmpago por São Paulo nesta quinta-feira (16). Chegou pela manhã, participou do IBM FORUM 2010, teve um almoço com empresários e, à tarde, recebeu um pequeno grupo de jornalistas no hotel em que esteve hospedado para uma bate-papo sobre o Brasil e o mundo.
Embora visivelmente cansado, ele respondeu todas as questões formuladas durante 40 minutos de conversa antes de tirar um cochilo no quarto e partir para o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, com destino aos Estados Unidos. Em alguns momentos, demonstrou sinceridade ao admitir que não tinha informações suficientes sobre determinados temas, como eventuais avanços na educação no Brasil e detalhes dos gastos públicos.
De uma forma geral, o olhar dele sobre a economia brasileira é positivo. "Os tradicionais demônios estão sob controle: inflação, situação fiscal e deficit em conta corrente. Além disso, o mercado doméstico é robusto", disse. Já em relação aos países desenvolvidos, o desânimo é nítido. "É preciso um novo pacote fiscal."
Acompanhe os principais pontos analisados por Paul Krugman, professor da Universidade de Princeton (EUA), colunista do jornal The New York Times e Prêmio Nobel de Economia em 2008:
Real valorizado
É compreensível que isto esteja acontecendo. Com as economias ricas em dificuldades e as taxas de juros baixas, o dinheiro está procurando retornos maiores e o Brasil tem boas perspectivas econômicas. Além disso, o Brasil não é como a China, pois possui uma moeda conversível e não é tão difícil de investir, o que facilita a entrada de dinheiro.
Até o momento, a valorização cambial não é forte o bastante para causar um desequilíbrio nas contas correntes e, consequentemente, uma contração da demanda. Seria a chamada armadilha de liquidez. O real valorizado não é necessariamente ruim.
Deficit em conta corrente
O Brasil parece ter demanda doméstica suficiente para sustentar um deficit de 3% ou 4% do PIB. Se chegar a 5%, 6% ou 7%, talvez surjam questionamentos. O ponto básico é que os países não podem sustentar deficits elevados por muito tempo. Os Estados Unidos fizeram isso até o estouro da bolha imobiliária, mas o caso brasileiro ainda é tranqüilo.
Riscos para o Brasil
Há três caminhos que seriam ruins:
O primeiro é o caso da Indonésia em 1998 e da Argentina em 2002, quando governo e empresas tinham muitos empréstimos em moeda estrangeira e ficaram expostos a crises cambiais. Isso não está acontecendo com o Brasil.
O segundo é um câmbio muito valorizado que prejudica a produção industrial e eleva o desemprego, independentemente da redução das taxas de juros. É a armadilha da liquidez das exportações. Isso não está acontecendo, mas é bom manter os olhos abertos.
O terceiro é o que aconteceu com os Estados Unidos na última década com muito dinheiro entrando e se espalhando em investimentos em vários ativos, como residências, gerando especulações e bolhas no mercado financeiro. É algo que não está em questão agora no Brasil.
Perspectivas para o Brasil
O Brasil parece bem. Os tradicionais demônios estão sob controle: inflação, situação fiscal e deficit em conta corrente. Além disso, o mercado doméstico é robusto e a desigualdade está sendo reduzida.
O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo e ainda assim está crescendo. Os Estados Unidos, com taxa perto de zero, está caminhando abaixo do PIB potencial. É possível que o Brasil cresça 5% nos próximos dois ou três anos ainda que a economia mundial avance apenas 1,5% ou 2%.
Perspectivas para os países desenvolvidos
Os países ricos podem ter um duplo mergulho (risco de 33%), mas esse não é o cenário central. O desempenho da China, que envolve muitos mistérios, vai determinar o comportamento do preços das commodities. Outra questão é se há uma bolha imobiliária se formando lá.
Com um crescimento de 1,5% a 2%, o economia mundial está abaixo do seu potencial. Se isso acontecer até 2020, será uma década perdida. Vejo a necessidade de mais estímulos fiscais. A situação não é de catástrofe, mas não está boa.
Quanto ao câmbio, quando olho a situação dos Estados Unidos, penso que o dólar precisa ser enfraquecido. Porém, quando olho para a Europa, vejo que o euro também precisa ser desvalorizado. É uma corrida para o chão e o Japão tem o mesmo problema. É difícil prever o final disso. Nos próximos seis meses, devemos ter notícias ruins sobre os Estados Unidos e há indicações que a situação na Europa vai piorar.
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