Brasil

Brasil consolida democracia 50 anos depois do golpe de 1964

Dilma Rousseff, que sobreviveu à tortura nos porões da ditadura, lidera a democracia meio século após o golpe militar que impôs o regime

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de março de 2014 às 21h16.

Brasília - Meio século após o golpe militar que impôs um regime que durou 21 anos, o Brasil consolidou uma sólida democracia liderada hoje por Dilma Rousseff, que sobreviveu à tortura nos porões da ditadura.

A presidente tinha apenas 16 anos em 1º de abril de 1964, quando em plena Guerra Fria foi derrubado o presidente João Goulart, a quem a direita e os militares viam como um "agente do comunismo", que avançava na América Latina estimulado pela Revolução Cubana.

O regime militar implantado no Brasil, como outros, foi apoiado pelos Estados Unidos; se prolongou até 1985 e, da mesma forma que outras ditaduras da época, impôs uma dura censura e uma violenta repressão que deixou milhares de mortos, 400 desaparecidos e mandou milhares de opositores ao exílio.

Ao contrário de outras ditaduras, a brasileira manteve uma certa "institucionalidade", não fechou o Congresso, e até criou a Aliança Renovadora Nacional (Arena), um partido de fachada por meio do qual tirou de cena pela "via parlamentar" outras organizações, como o Partido Comunista.

Ao mesmo tempo, os primeiros anos da ditadura deram lugar ao chamado "milagre econômico", impulsionado por obras faraônicas e uma conjuntura externa favorável que redundou em taxas de crescimento anual superiores a 10% entre 1968 e 1973.

Apesar da bonança, as diferenças sociais se aprofundaram, e o "milagre" começou a se desfazer com a crise do petróleo de 1974, quando a ditadura entrou em declive. O descontentamento aumentou, e as forças democráticas articularam em 1983 as Diretas Já.

A ditadura cedeu e, em 1985, convocou a população às urnas, mas para eleições indiretas, nas quais foi eleito presidente Tancredo Neves, que não chegou a assumir o cargo, pois às vésperas de sua posse sofreu uma crise abdominal que o levou à morte.

Quem assumiu seu lugar foi José Sarney, eleito vice-presidente na chapa de Tancredo, mas que era considerado por muitos um "infiltrado" da ditadura, pois durante o regime tinha sido chefe da Arena.

Apesar de tudo, Sarney soube vencer essa desconfiança, guiando o Brasil na transição e o levando a suas primeiras eleições diretas, realizadas em 1989 e vencidas por Fernando Collor de Mello.


Foi outro processo traumático para o Brasil: Collor foi cassado em 1992 por corrupção, e seu vice-presidente, Itamar Franco, assumiu o cargo e começou a controlar a hiperinflação que corroía os salários e mantinha vivo o fantasma da ditadura.

Itamar abriu passagem em 1994 a Fernando Henrique Cardoso, que após oito anos entregou o poder a Luiz Inácio Lula da Silva, sucedido em 2011 por Dilma, primeira mulher escolhida para governar o país.

Em sua juventude, por seus vínculos com grupos que pegaram em armas contra a ditadura, Dilma passou dois anos presa e sofreu na própria carne as torturas do regime.

Para muitos analistas, o Brasil saiu da ditadura por meio de uma transição "exemplar", que começou com um antigo partidário do regime e seguiu com um governo que caiu por corrupção, sucedido depois por um político pragmático, um intelectual, um operário e uma mulher.

Itamar, o pragmático, acabou com a crise hiperinflacionária, enquanto FHC dotou o país de estabilidade econômica e iniciou o processo de inclusão social aprofundado depois por Lula e Dilma, com o qual cerca de 40 milhões de pessoas saíram da pobreza na década passada.

Nos últimos 20 anos, a democracia brasileira se modernizou e aperfeiçoou seu sistema eleitoral com urnas eletrônicas de design nacional, que estão em uso desde 1996 e que virtualmente eliminaram as fraudes.

As Forças Armadas, por sua vez, se transformaram em fiadores da Constituição e da democracia e são atores dos processos de inclusão social, participando com seus médicos, engenheiros e outros profissionais principalmente nas áreas mais remotas.

O único assunto pendente é a falta de punição aos responsáveis de crimes contra a humanidade ocorridos na ditadura, amparados na polêmica anistia ditada pelo próprio regime em 1979.

Essa anistia foi contestada em 2010 por movimentos sociais no Supremo Tribunal Federal, mas a Corte se pronunciou a favor de sua "constitucionalidade", motivo pelo qual ainda segue em vigor e os crimes da ditadura permanecem impunes.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDados de BrasilDemocraciaDitaduraGolpe de 1964PolíticaPolítica no Brasil

Mais de Brasil

Brasil pode ser líder em aço verde se transformar indústria com descarbonização, dizem pesquisadores

Cassinos físicos devem ser aprovados até 2026 e temos tecnologia pronta, diz CEO da Pay4fun

Com aval de Bolsonaro, eleição em 2026 entre Lula e Tarcísio seria espetacular, diz Maia

Após ordem de Moraes, Anatel informa que operadoras bloquearam acesso ao Rumble no Brasil