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Brasil completa 20 anos sem avanço no ensino médio

Nota dos estudantes em 2017 no Sistema de Avaliação da Educação Básica é mais baixa do que a registrada em 1997

Em 20 anos, alunos de ensino médio do país não melhoraram em nada sua aprendizagem em Português e Matemática (Germano Luders/Exame)

Em 20 anos, alunos de ensino médio do país não melhoraram em nada sua aprendizagem em Português e Matemática (Germano Luders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de agosto de 2018 às 09h52.

Última atualização em 31 de agosto de 2018 às 09h55.

São Paulo - Em 20 anos, alunos de escolas públicas e privadas de ensino médio do país não melhoraram em nada sua aprendizagem em Português e Matemática. A nota dos estudantes em 2017 no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), exame oficial cujos dados foram divulgados ontem, é mais baixa do que a registrada em 1997. A rede particular caiu menos, mas também piorou ao longo dessas duas décadas.

"Os alunos sabem menos agora do que sabiam em 1997. O ensino médio não está agregando nada a eles", afirmou ao Estado o ministro da Educação, Rossieli Soares. O ensino médio é considerado a etapa mais crítica da educação brasileira. O governo Michel Temer aprovou, no ano passado, uma reforma, que flexibiliza o currículo dessa etapa e cria múltiplos percursos acadêmicos para esses jovens. Por dificuldades na implementação da proposta e reação negativa de parte da comunidade escolar, alguns candidatos à Presidência têm defendido revogar a mudança. O ensino médio reúne cerca de 7,9 milhões de matrículas - 88% na rede pública.

Os resultados mostram que sete em cada dez estudantes do ensino médio tiveram desempenho insuficiente nas duas disciplinas. Isso significa que os jovens, na maioria entre 14 e 17 anos, não conseguem identificar informações explícitas em uma receita culinária ou calcular um porcentual. Em Português, a média em 20 anos foi de 284 pontos para 268 pontos (em uma escala de zero a 500). Já em Matemática o recuo foi de 289 pontos para 270 pontos. E, em todo o período, as oscilações de resultado nunca ultrapassaram o desempenho de 1997. Além disso, a distância entre a rede particular e a pública aumentou.

Segundo especialistas, o mais preocupante é que o ensino fundamental vem melhorando desde o início dos anos 2000, mas isso não se reflete no médio. Atualmente, os alunos de 1.º ao 5.º ano têm o melhor desempenho, com cerca de 25% no nível avançado de ensino. "Acreditávamos que esses alunos iriam começar a avançar e chegar ao médio, e tudo melhoraria como uma onda, mas não aconteceu. A hipótese mais pessimista é a de que todo o ganho do 5.º ano está sendo perdido", diz o professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes.

Para ele, uma explicação mais otimista pode ser a de que, no passado, os piores alunos abandonavam a escola antes de chegar ao ensino médio. Hoje, há mais jovens estudando, mesmo com desempenho ruim. O Brasil conseguiu nos anos 1990 e 2000 uma grande inclusão de alunos na escola, impulsionada por políticas de financiamento público atreladas à matrícula.

Particulares

Mesmo entre os alunos de escola privada, os resultados do Saeb mostram problemas. Só 7,83% dos alunos de 17 anos das particulares do País estão no nível considerado avançado de Português. Apenas esse pequeno grupo, por exemplo, consegue entender perfeitamente expressões de humor em contos, crônicas e artigos.

Em Matemática, as notas são um pouco melhores e a quantidade de adolescentes com boa aprendizagem é de 23,72%. O jovem com esse desempenho é capaz, por exemplo, de resolver problemas de probabilidade.

Pela primeira vez, a rede privada pôde se voluntariar para participar do exame, a mais importante avaliação brasileira. Até então, o governo selecionava esses colégios por amostragem. O MEC, porém, não informou quantas nem quais particulares fizeram o Saeb em 2017.

Cerca de 5,46 milhões de alunos participaram. A prova mede a aprendizagem dos alunos do 5.º e do 9.º ano do fundamental e do 3.º do médio, desde 1995, nas escolas públicas.

"O problema é que o professor da rede privada e da pública recebeu a mesma formação, muito centrada nos pilares da educação e não na prática profissional", afirma a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Claudia Costin.

Para o superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, o Brasil precisa definir a educação como prioridade. "Podemos caminhar para uma situação em que jovens ficarão em um limbo, porque terminam a escola sem capacidade cognitiva e socioemocional."

Negação

Presidente da Federação Nacional de Escolas Particulares, Ademar Pereira não considera o resultado representativo da rede. "No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), vale nota para o aluno entrar na faculdade e o resultado é mais fidedigno", afirma. "Também não sabemos qual é essa amostra que participa da avaliação." Em 2017, o MEC decidiu não divulgar mais a nota do Enem por escola para usar o Saeb como avaliação.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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