Brasil

Brasil coloca vacinação em risco por falta de comparecimento para 2ª dose

Segundo especialistas, falta uma campanha de informação efetiva por parte do governo federal sobre a necessidade da vacina de reforço

Vacinação: muitas pessoas podem estar deixando de comparecer para tomar o reforço simplesmente por não terem conhecimento da importância (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

Vacinação: muitas pessoas podem estar deixando de comparecer para tomar o reforço simplesmente por não terem conhecimento da importância (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)

R

Reuters

Publicado em 23 de abril de 2021 às 14h34.

Última atualização em 23 de abril de 2021 às 15h00.

O sucesso da campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil pode ser colocado em risco se mais pessoas continuarem a não comparecer para tomar a segunda dose, o que tem ocorrido, segundo especialistas, principalmente pela falta de uma campanha de informação efetiva por parte do governo federal sobre a necessidade da vacina de reforço.

  • Entenda como o avanço da vacinação afeta seus investimentos. Assine a EXAME.

Todos os estudos clínicos que embasaram a aprovação das vacinas usadas no Brasil foram feitos com base em duas doses, e o não cumprimento do ciclo completo pode comprometer o combate à covid-19 em um país que atualmente é responsável por uma de cada cinco mortes registradas por dia no mundo pela doença, acrescentaram.

Vacina mais utilizada no país contra a covid-19, a Coronavac, por exemplo, tem eficácia de apenas 16% para evitar uma infecção sintomática em pessoas que receberam apenas uma dose, de acordo com estudo realizado pelo Ministério da Saúde do Chile.

"Se a gente não fizer as duas doses, a gente não vai ter nem a proteção completa nem no longo prazo. Precisamos que as pessoas façam o esquema completo para termos não só a proteção do indivíduo, mas também do coletivo", disse à Reuters o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Muitas pessoas podem estar deixando de comparecer para tomar o reforço vacinal simplesmente por não terem conhecimento da importância, por esquecimento — principalmente no caso dos idosos — ou por terem sofrido algum evento adverso na primeira dose, de acordo com especialistas e autoridades envolvidas no processo de vacinação.

Com a demora do governo federal para adquirir imunizantes e atrasos no processo de produção no país, também houve casos, ainda que isolados, de falta de vacinas e longas filas para aplicação da segunda dose em alguns municípios, afirmaram.

Mais de 1,5 milhão de pessoas deixaram de tomar a segunda dose, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, que reconheceu a gravidade do problema e alertou as pessoas a se vacinarem — mas ainda não tomou medidas efetivas para solucioná-lo.

"A campanha do ministério é muito ruim", disse Carlos Lula, secretário de Saúde do Maranhão e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), citando também a dificuldade de locomoção como um possível motivo para o não comparecimento para a segunda dose.

Segundo ele, o ministério tem demonstrado preocupação, mas "objetivamente não lançou nada de concreto" para promover a vacinação da segunda dose.

O Brasil vacinou até o momento 25,7 milhões de pessoas com a primeira dose, o equivalente a 12,2% da população, mas somente 10 milhões tomaram as duas doses, o que representa 4,7% da população, de acordo com dados do ministério atualizados até esta sexta de manhã.

Procurado, o ministério não respondeu a um pedido de comentário sobre por que tantas pessoas não têm comparecido para tomar a segunda dose, mas disse que tem reforçado junto com representantes dos estados e municípios a necessidade de adotar estratégias locais de comunicação para conscientizar a população sobre a importância de completar a imunização no prazo recomendado de cada vacina.

"Nós não sabemos se as pessoas tomarem só uma dose qual será realmente a eficácia da vacina, e principalmente como isso vai se comportar na efetividade da vacinação, ou seja, se efetivamente as pessoas estarão protegidas com uma dose e se haverá um impacto importante na diminuição da carga da doença, e principalmente em relação à imunidade de grupo", disse a epidemiologista Carla Domingues, ex-chefe do Programa Nacional de Imunização (PNI).

O estudo no Chile sobre a Coronavac, que representa mais e 80% de todas as doses aplicadas no Brasil, mostrou que a eficácia contra casos sintomáticos da Covid subiu para 67% entre aqueles que tomaram as duas doses, ante os 16% com apenas uma dose. A vacina da AstraZeneca, a única outra em aplicação no país, tem uma eficácia bem maior após a primeira dose, de 76%, duas semanas após a inoculação.

Segundo o Ministério da Saúde, não há falta de vacinas para a aplicação da segunda dose, uma vez que a distribuição foi feita aos Estados com divisão entre doses 1 e 2 e orientação para armazenamento da segunda dose.

A pasta, no entanto, mudou essa orientação no mês passado, autorizando a aplicação de todas as vacinas como primeira dose, afirmando ter garantia de entrega de vacinas pelos fornecedores e num esforço para acelerar o ritmo da campanha de imunização.

De acordo com o ministério, mais de 19 milhões de doses de vacinas já foram repassadas aos Estados, mas ainda não foram aplicadas.

"O Ministério precisa lançar uma campanha constante e massiva para que as pessoas não esqueçam de tomar a segunda dose. A pessoa tem que acordar e ouvir todo dia no rádio, na televisão, que tem que tomar a segunda dose, não pode perder o prazo", disse Cristina Bonorino, integrante do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

Em nota, o ministério prometeu lançar uma campanha nacional para fazer um chamamento à população. "A campanha será veiculada em TV, rádio, internet e outros meios de comunicação em todo Brasil", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:BrasilCoronavírusGoverno BolsonaroPandemiavacina contra coronavírusVacinas

Mais de Brasil

Enem 2024: prazo para pedir reaplicação de provas termina hoje

Qual é a multa por excesso de velocidade?

Apesar da alta, indústria vê sinal amarelo com cenário de juros elevado, diz economista do Iedi