Ricardo Salles: Brasil vai cumprir a meta de limitar aquecimento global a 1,5ºC (Rodrigo Capote/Bloomberg)
EFE
Publicado em 30 de novembro de 2019 às 09h30.
Última atualização em 30 de novembro de 2019 às 09h47.
O Brasil chega à cúpula climática das Nações Unidas (a COP25, ou Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas) na próxima segunda-feira 2 ofuscado pelo crescente desmatamento na Amazônia, o maior em uma década, e por propostas polêmicas do presidente Jair Bolsonaro, a quem ecologistas culpam pelo avanço das derrubadas e queimadas na região.
Com Bolsonaro ausente da cúpula do clima, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chefiará a delegação brasileira em Madri, onde estará disposto a exigir recursos dos países em desenvolvimento para combater a destruição da maior floresta tropical do planeta.
A Amazônia perdeu 9.762 quilômetros quadrados de vegetação -- área do tamanho de quase 10.000 campos de futebol -- de agosto de 2018 a julho de 2019, 30% a mais que no mesmo período do ano passado.
Organizações ambientalistas têm apontado o dedo para Bolsonaro, acusando-o de estimular a destruição da floresta com sua retórica inflamatória e suas iniciativas para ampliar a atual fronteira agrícola e permitir a exploração de minerais nas reservas indígenas.
O presidente, no entanto, nega que as políticas de seu governo sejam a razão desse aumento. Entre os motivos apontados recentemente por Bolsonaro está a cultura da população local, com práticas de corte e queima que, segundo ele, muitos habitantes da Amazônia tradicionalmente utilizam.
O capitão reformado do Exército admitiu que o desmatamento não vai acabar, mas os números alarmantes sobre a destruição da floresta têm pressionado o presidente e sua equipe a buscarem medidas para deter o corte de árvores.
Para isso, o governo anunciou que aplicará na COP25 os recursos externos prometidos e exigirá uma definição de sua participação em um fundo de 100 bilhões de dólares anuais, criado para financiar iniciativas em países emergentes na preservação do meio ambiente a partir de 2020.
O pedido de recursos chega em um momento delicado para o governo, alvo das críticas de muitos países estrangeiros pela mudança na política ambiental.
Noruega e Alemanha chegaram ao ponto de anunciar a suspensão das verbas do Fundo Amazônia, criado para arrecadar doações para combater o desmatamento, enquanto a França se opôs ao acordo anunciado pela União Europeia e pelo Mercosul após os incêndios na região amazônica, que em agosto e setembro foram os maiores da última década.
Encurralado, Bolsonaro ergueu a bandeira da soberania do Brasil sobre a floresta e colocou de lado a diplomacia para acusar todos aqueles que questionaram sua política. O presidente disse para a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel, utilizar os fundos para reflorestar o seu país, criticou a Noruega por, segundo ele, matar baleias e extrair petróleo do Polo Norte e travou uma batalha dialética com o presidente francês, Emmanuel Macron.
Ainda quando era candidato à presidência, Bolsonaro lançou uma cruzada contra o que chamou de "ativismo ambiental xiita", e tem como alvo as organizações não-governamentais, que ele acusou até de estarem por trás dos incêndios na Amazônia.
O presidente iniciou uma queda de braço aos ambientalistas e, seguindo os passos dos Estados Unidos, chegou a ameaçar durante a campanha eleitoral deixar o Acordo de Paris, mas acabou se retraindo devido à pressão comercial vinda da Europa.
Apesar das críticas, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acredita que o Brasil, que em 2018 se recusou a sediar a COP25 por razões orçamentárias, está cumprindo os compromissos nacionais que lhe permitirão cumprir as metas do acordo sobre crise climática, que exige limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação à era pré-industrial.
"O Brasil está indo bem (nas metas), já teve muito progresso na redução do desmatamento desde 2005", disse Salles recentemente, embora a destruição da Amazônia venha aumentando desde 2012, mesmo que a um ritmo mais lento.