A IMG, que fez parceria com Eike Batista, também quer aproveitar oportunidade da Copa (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2011 às 15h48.
São Paulo/Madri - O Brasil corre atrás de companhias europeias para realizar uma missão considerada impossível por especialistas: transformar em operações lucrativas os estádios necessários para que o País sedie a Copa do Mundo de Futebol da Fifa em 2014. Os estádios estão orçados em US$ 2,8 bilhões.
Governos estaduais do Brasil já estão assinando contratos com empresas especializadas na operação de arenas esportivas, como as que atuam em estádios europeus, casos do Amsterdam Arena, na Holanda, ou do Estádio da Luz, em Portugal. Ao mesmo tempo, a IMG Worldwide Inc., de Nova York, está procurando oportunidades existentes no Brasil, disse Ted Forstmann, presidente da multinacional do entretenimento, em entrevista.
O problema é que não existe fórmula para garantir retorno financeiro em investimentos desse tipo, segundo especialistas como o ex-diretor comercial do estádio de Wembley, em Londres, Paul Fletcher. No caso brasileiro, o desafio é maior porque envolve 12 arenas em lugares tão distantes como Manaus, capital do estado de Amazonas, e São Paulo, maior centro urbano da América do sul, disse Fletcher.
“Não conheço nenhum estádio que tenha gerado lucro”, disse Fletcher, que administrou ou atuou como consultor em 12 arenas no Reino Unido ao longo dos últimos 20 anos, em entrevista na semana passada. “As pessoas sempre dizem que não vão construir um elefante branco, mas isso acontece e vai acabar acontecendo no Brasil também.”
Arena Fonte Nova
A Amsterdam ArenA Advisory B.V. é uma das multinacionais que já assinaram contrato envolvendo um estádio incluído no programa da Copa de 2014. A empresa integra o consórcio vencedor da licitação no estado da Bahia, do qual também participam a Odebrecht S.A e a OAS Engenharia e Participações S.A. O trio vai construir e operar a Arena Fonte Nova, em Salvador. O contrato envolve uma Parceria Público-Privada com duração de 35 anos por meio de uma concessão pública para erguer o estádio de 50 mil lugares.
Como parte da estratégia de tornar o estádio rentável após a Copa, o consórcio vencedor em Salvador assinou um termo em que se compromete a atrair os clubes E.C. Bahia e o E.C. Vitória para que ambos mandem seus jogos na Arena Fonte Nova.
Gilberto Vaz, vice-presidente da unidade brasileira da companhia, a Arena do Brasil, disse que as receitas do grupo no País vão triplicar para US$ 18 milhões até 2015. Para isso, o plano da companhia inclui participar do gerenciamento de mais três estádios no Brasil. A empresa negocia a participação nos investimentos em estádios liderados pelos governos de Pernambuco, Minas Gerais e Ceará.
A Lusoarenas, Desenvolvimento de Empreendimentos e Concessões S.A. também está na disputa para participar da gestão dos estádios de Recife, de Natal e de Belo Horizonte, além de ter apresentado propostas para um estádio em São Paulo, disse o vice-presidente Marco Antonio Herling, sem dar detalhes das negociações ou das propostas.
Eike Batista em campo
No último dia 9 de novembro, o bilionário Eike batista formou uma sociedade com a multinacional do entretenimento IMG, companhia que, entre outros ativos, administra a carreira do golfista americano Tiger Woods.
“A Copa do Mundo no Brasil vai apresentar oportunidades” com estádios, disse o executivo da IMG, Forstmann.
Algumas pessoas ligadas ao futebol no Brasil duvidam que os estádios da Copa do Mundo possam dar lucro, mesmo durante o evento. Capitão da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982 e ex-atleta do S.C. Corinthians Paulista, Sócrates de Oliveira aponta que o lucro vai ficar com empresas construtoras e com alguns integrantes do governo. “Já a conta vai ficar com a população, com os contribuintes.”
A Fifa, que detém os direitos de organização e regulamentação do futebol profissional em todo o mundo e comercializa os maiores eventos desse esporte, como a Copa do Mundo, faturou U$ 1 bilhão no ano passado. A maior parte dessa receita veio da venda dos direitos de transmissão dos jogos para as redes de televisão e dos contratos de patrocínio.
“Antecipação de investimento”
O Ministério dos Esportes disse, por meio da assessoria de imprensa, que os estádios são projetos sob responsabilidade dos governos estaduais. A participação do governo federal, entretanto, ocorre por meio do financiamento das obras. Quase todos os recursos necessários serão bancados por linhas de empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, em montantes que chegam a R$ 400 milhões por projeto. O custo dessa linha do BNDES vai ser equivalente à Taxa de Juros de Longo Prazo, de 6 por cento ao ano, com acréscimo de 1,9 por cento. O custo apenas com o serviço da dívida é equivalente a US$ 18,8 milhões por ano.
O secretário de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do estado da Bahia, Nilton Vasconcelos, disse em entrevista que as companhias estrangeiras estão comprometidas, juntamente com o governo, com um modelo de negócio que garanta o lucro na operação das arenas.
O diretor geral do Amsterdam ArenA Advisory, Sander van Stiphout, admite que muitos projetos vão ficar deficitários após a Copa. Ele conta que o estádio da companhia na Holanda, onde o Ajax manda seus jogos, registra lucros anuais entre um milhão e três milhões de euros. Mas reconhece: nesse setor de negócio, operar no azul “é uma raridade”. A arena foi aberta em 1996 e custou 140 milhões de euros.
O secretário estadual da Bahia rebate o argumento que a Copa trará despesas para os contribuintes. “Vejo a realização da Copa do Mundo como a possibilidade de antecipação e realização de investimentos que poderiam demorar décadas. Obras relevantes, como mobilidade urbana, ampliação da rede hoteleira, melhorias aeroportuárias, além da construção de um estádio de padrão internacional. São obras que ficam pós Copa e beneficiam principalmente as pessoas que moram e visitam a cidade. Ao mesmo tempo, observa-se que há um incremento do fluxo turístico.”
O governo federal estima em meio milhão de pessoas o fluxo de turistas durante a Copa de 2014.
Elefantes brancos
O desafio, apontam os especialistas, é evitar que esses turistas sejam atraídos por uma atração temida no universo corporativo: o elefante branco.
No mês passado, o consórcio francês que havia assumido o compromisso de operar por 30 anos o estádio de Cape Town, usado na Copa da África do Sul este ano, com capacidade para 64 mil torcedores, desistiu do negócio. Alegou que as projeções apontam para “perdas substanciais”. A informação é da prefeitura da Cidade do Cabo, por meio do website do governo.
A presidente do comitê polonês responsável pela Euro 2012 - copa de seleções europeias que acontece na Polônia e na Ucrânia daqui a dois anos - foi cética com relação à capacidade de as arenas gerarem lucro. Para Marcim Herra, cada estádio tem que sediar cerca de 340 eventos por ano para atingir um nível de receita superior aos custos operacionais mais as despesas financeiras.
“Normalmente, os arquitetos vão desenhar um projeto muito bonito, como um aquário, e a autoridade governamental vai dizer que é exatamente disso que as pessoas precisam”, diz o consultor britânico Paul Fletcher. “Mas depois do evento esportivo, todos vão se perguntar o que fazer com isso.”