Bolsonaro transformou seu partido, o até então nanico PSL, em uma potência parlamentar (NurPhoto/Getty Images)
Reuters
Publicado em 8 de outubro de 2018 às 08h48.
Última atualização em 8 de outubro de 2018 às 14h14.
Brasília - O candidato a presidente Jair Bolsonaro, que foi o mais votado no primeiro turno da eleição neste domingo e fará o segundo turno com Fernando Haddad (PT), transformou seu partido, o até então nanico PSL, em uma potência parlamentar, provocando uma mudança sísmica ao passo que eleitores deram um enfático recado nas urnas contra o establishment.
O forte apoio dado a aliados de Bolsonaro nas eleições legislativas desafiou muitas previsões e sugere que Bolsonaro, até então um apagado deputado, pode ter mais facilidade para conquistar apoio a reformas econômicas duras.
O PSL deve ficar com 51 cadeiras na Câmara dos Deputados, de 513 assentos, de acordo com projeção da XP Investimentos, ficando atrás apenas do PT, de Haddad, que deve ter 57 vagas.
Trata-se de um crescimento explosivo para um partido que tinha apenas 8 deputados e nenhum senador antes de domingo.
"O PSL é um novo capítulo na história política do Brasil. É um grupo que abraça uma tese única de austeridade fiscal, de governo menor, de reforma da Previdência", disse Lucas de Aragão, da consultoria Arko Advice.
Ele afirmou que o crescimento do PSL melhora as perspectivas para as reformas fiscais, mas reconheceu que elas ainda enfrentarão oposição ferrenha do PT.
Para se ter uma ideia, o MDB, do presidente Michel Temer, por décadas uma das maiores forças nos governos de coalizão de todo o espectro político, deve cair para a quarta posição na Câmara, com apenas 33 cadeiras.
Vários dos principais parlamentares do MDB não conseguiram se reeleger, incluindo o presidente do Senado, Eunício Oliveira. Isso tira do caminho figuras históricas que poderiam extrair custosas concessões de um eventual governo Bolsonaro.
Os resultados enfatizam a revolta dos eleitores contra escândalos de corrupção que levaram à prisão dezenas de políticos e empresários, afetando partidos tradicionais que até então definiam o debate político.
Bolsonaro quase venceu a disputa no primeiro turno da eleição de domingo, mas enfrentará Haddad em um segundo turno no dia 28 de outubro.
Independentemente do resultado, o PT continuará tendo uma base forte no Congresso após ter um resultado sólido na votação, especialmente no Nordeste, tradicional reduto petista que se beneficiou de políticas sociais durante seus 13 anos no poder.
No entanto, o PSL dominou os dois maiores Estados do país, São Paulo e Rio de Janeiro.
Com 98 por cento dos votos apurados em São Paulo, Eduardo, filho de Bolsonaro, foi o candidato mais votado da história para a Câmara dos Deputados, ajudando o PSL a atrair mais de 20 por cento dos votos para a Câmara em São Paulo.
A contagem foi ainda maior no Rio de Janeiro, onde seu partido obteve quase 23 por cento dos votos para a Câmara.
Até este ano, o PSL era um entre dezenas de partidos pouco conhecidos na política brasileira, com poucas cadeiras e sem ideologia clara.
Isso mudou quando Bolsonaro chegou à legenda em março - tornando-se sua nona afiliação partidária. Sua campanha de mídia social eletrizou o PSL, empurrou-o para a direita e ajudou a projetar candidatos como o Major Olimpio, o mais votado para o Senado em São Paulo.