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Bolsonaro tem uma visão populista sobre o ensino superior, diz ex-reitor

Nelson Maculan criticou a falta de proposta do governo para a educação pública e ressaltou o risco de estudantes deixarem o país após o corte nas bolsas

É a primeira vez que os brasileiros começam a pensar que a educação pública é algo importante, diz ex-reitor (Nacho Doce/Reuters)

É a primeira vez que os brasileiros começam a pensar que a educação pública é algo importante, diz ex-reitor (Nacho Doce/Reuters)

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AFP

Publicado em 17 de maio de 2019 às 12h35.

Última atualização em 17 de maio de 2019 às 16h10.

Nelson Maculan, ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atribui a grande adesão às manifestações de quarta-feira contra os bloqueios de verbas para as universidades públicas anunciados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro à percepção geral do impacto negativo da medida em milhares de lares e no futuro do país.

"É a primeira vez que os brasileiros encaram a educação pública como algo importante", afirmou nesta quinta-feira o matemático e engenheiro de minas e metalurgia, de 76 anos, numa entrevista por telefone à AFP.

Maculan, que teme que a política de Bolsonaro leve os universitários a buscar fora do Brasil melhores horizontes para realização de suas pesquisas, foi secretário do departamento de Educação Superior (Sesu) do ministério da Educação de 2004 a 2006, durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesse período foi elaborada a política de cotas raciais que abriu as portas das universidades para milhares de negros e indígenas e para outros setores de baixa renda.

Como explicar essa mobilização pela universidade, que tem uma imagem de instituição elitista?

R: Isso mudou bastante com as cotas [para as minorias], já que cerca de 50% dos estudantes matriculados são cotistas (...). E começou a ter um certo medo, inclusive entre pessoas que votaram no Bolsonaro, porque os cortes envolvem bolsas, e também atingem a parte do pessoal terceirizado: serviços, funcionários dos hospitais do Estado.

O novo governo não tem nenhuma proposta, só destruir: tira isso, tira aquilo. Não vejo um projeto na área educacional. Sempre houve cortes, mas está mexendo muito forte. As universidades já têm dívidas enormes. O pessoal começa a sentir medo de não ter mais condições de trabalho. É a primeira vez que os brasileiros começam a pensar que a educação pública é algo importante.

Bolsonaro disse que as universidades sofrem de um grande atraso e que devem dar prioridade às áreas técnicas e científicas, em detrimento das áreas humanas. Tem fundamento essas críticas?

R: A visão do presidente sobre a educação superior pública é populista. Sem dúvida, as áreas mais técnicas são importantes. No entanto, as áreas básicas das ciências naturais, matemáticas, sociais, humanas, da saúde, podem ser até mais, pois solidificam os conhecimentos na formação e no desenvolvimento completo do intelecto. O importante é a formação geral, a capacidade de pensar, para inclusive mudar de emprego.

Há muito não se via um movimento popular tão grande em defesa da educação pública.

Bolsonaro chamou os manifestantes de"idiotas úteis" manipulados pela esquerda, que ignoram até "a fórmula da água" e se beneficiam de "bolsas assistencialistas", concedidas através critérios eleitoreiros.

R: É uma expressão dele para mudar de assunto. A fórmula é H2O, e eu conheço! As bolsas têm critérios. Existem controles. [Os estudantes com bolsas] não podem repetir de período mais de uma vez. E teriam cobranças dos outros estudantes. Eu nunca vi isso.

Quais são os riscos em torno da política educacional de Bolsonaro?

R: Há um risco muito grande de os melhores estudantes saírem do país. A coisa mais importante nas universidades federais é a pesquisa, que modifica o conhecimento, que forma o conhecimento.

Há o risco de perder a capacidade de formar pessoas que possam entrar no mercado de trabalho mais avançado. De perder na formação de professores de matemática, de história, de filosofia. Vamos deixar de seguir os avanços da evolução científica e tecnológica? Quem vai discutir os problemas ecológicos do Brasil? Tudo isso passa pela pesquisa.

Entenda o conflito na Educação:

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