O projeto de lei de Coronel Sandro foi aprovado em 2019 e ficou engavetado na ALMG por quatro anos (Isac Nóbrega/PR/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 28 de agosto de 2023 às 19h31.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) condecorou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o título de cidadão honorário de Minas Gerais, na tarde desta segunda-feira, 28. A cerimônia aconteceu a partir das 17 horas, na sede da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG). Durante a cerimônia, apoiadores do ex-presidente pediram para que o governador mineiro deixasse o Novo e se filiasse ao PL, partido do ex-chefe do Executivo.
A cerimônia contou com a presença dos deputados federais Eros Biondini (PL-MG), Junio Amaral (PL-MG), Lincoln Portela (PL-MG), Mauricio do Vôlei (PL-MG), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Rosângela Reis (PL-MG). Parlamentares de oposição ao governo Zema não compareceram à cerimônia.
O homenageado da sessão foi Bolsonaro, mas quem roubou a cena durante a solenidade foi Romeu Zema. Enquanto era elogiado pelo deputado estadual Coronel Sandro (PL-MG), autor do projeto de lei que concedeu a cidadania mineira ao ex-presidente, a plateia da ALMG paralisou o seu discurso no coro "Vem pro PL, Zema".
Desde o início do ano, Zema entrou no radar do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com vistas às eleições municipais do ano que vem. Em junho, por meio da sua assessoria, o governador negou que estaria negociando com a sigla de Bolsonaro e descartou uma saída do Novo, que tem o governador mineiro como o único chefe de Executivo estadual.
O projeto de lei de Coronel Sandro foi aprovado em 2019 e ficou engavetado na ALMG por quatro anos. Ao justificar a sua proposta o parlamentar disse que Bolsonaro "renasceu" em Juiz de Fora em 2018, após sofrer um atentado a faca em Juiz de Fora, durante a campanha eleitoral daquele ano. Em seu discurso, o parlamentar afirmou que ex-presidente tem enfrentado "dificuldades" e "injustiças" nos últimos tempos, sem listar quais seriam. No dia 11 de agosto, foi deflagrada uma operação da Polícia Federal (PF) que investiga um esquema de venda de joias recebidas em viagens oficiais da Presidência da República durante a sua gestão.
"Sei das dificuldades que tens enfrentado junto com a tua família nos últimos tempos. Enfrentado diariamente a injustiça, mas não esmoreça, pois quem anda com a verdade nada tem a temer, e milhões de brasileiros sabem da verdade e confiam em ti. Eles querem te destruir e destruir as nossas ideias", disse Coronel Sandro.
Ao longo do seu discurso, Bolsonaro afirmou que espera que o povo não sinta as "dores do comunismo" e ressaltou que deseja "colaborar com o futuro do País". No fim de junho, o ex-presidente foi declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após ser condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em razão de reunião em que atacou as urnas eletrônicas diante de diplomatas, em julho do ano passado.
"Eu todo dia, antes de sair de casa, dobro o meu joelho, rezo um Pai Nosso e peço a Deus que o nosso povo não sinta as dores do comunismo. Quero apenas uma coisa, se Deus me der força, enquanto ela estiver, que eu possa colaborar com o futuro do meu país", disse o ex-presidente.
Essa é a segunda vez em dez dias em que Bolsonaro recebe um título de cidadão honorário em um Estado brasileiro. No último dia 18, Bolsonaro recebeu a condecoração pela Assembleia Legislativa de Goiás. Assim como em Minas, a proposta de lei foi aprovada em 2019, mas só a solenidade realizada recentemente.
As homenagens ao ex-presidente ocorrem no momento em que ele e seus aliados são investigados pela PF por orquestrar um esquema de venda de joias ilegais. Segundo as primeiras descobertas da corporação, pessoas próximas ao ex-presidente teriam vendido objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República e Bolsonaro teria atuado para comercializar as peças e recebeu valores em dinheiro vivo.
Na próxima quinta-feira, 31 o ex-presidente, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid e outras cinco pessoas investigadas no caso das joias irão prestar um depoimento simultâneo na PF. No mesmo dia, é esperado que Bolsonaro seja ouvido sobre a recente descoberta de "ordens" para que empresários bolsonaristas disparassem mensagens de teor golpista nas redes sociais.
Segundo a legislação brasileira, os itens recebidos por Bolsonaro deveriam ser incorporados ao acervo da Presidência, mas foram omitidos e revendidos no exterior. De acordo com a PF, os montantes obtidos das vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal do ex-presidente, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores.
Pela manhã, pessoas desconhecidas colocaram uma placa acima do viaduto Senegal, a cerca de três quilômetros do prédio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. No letreiro, estavam os dizeres: "Cuidado! Contrabandista e ladrão de joias na cidade!".
No dia em que Bolsonaro recebeu o título de cidadão goiano, ele concedeu uma entrevista exclusiva ao Estadão onde negou ter recebido dinheiro por meio de esquema. O ex-presidente também afirmou que o seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, teria tido "autonomia" para vender nos Estados Unidos um relógio Rolex presenteado pelo governo da Arábia Saudita.