Presidente Jair Bolsonaro. (Alan Santos/PR/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de junho de 2021 às 09h37.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 12h03.
Em busca de um partido para disputar novo mandato em 2022, o presidente Jair Bolsonaro recebeu nesta terça-feira, 1º, o presidente do Patriota, Adilson Barroso, no Palácio do Planalto. Barroso disse esperar "com muita honra" a filiação do chefe do Executivo e afirmou que ele se comprometeu a dar uma resposta sobre o convite em 15 dias. A conversa ocorreu um dia após o senador Flávio Bolsonaro (RJ) assinar a ficha no Patriota.
Embora nos bastidores a ida de Bolsonaro para o Patriota seja dada como praticamente certa, Barroso afirmou ao Estadão que as negociações não terminaram e o presidente ainda vai ouvir aliados. A conversa no Planalto durou cerca de 20 minutos. O dirigente disse que não entregará o comando da legenda para Bolsonaro, a quem definiu como "parceiro".
"Tenho certeza de que o presidente vai falar: 'Quero o Adilson. Ele sabe pilotar esse avião, que é o Patriota'", declarou Barroso. "Se ele pedir a presidência nacional do partido, vai pôr quem? Ele não vai querer ser. Além de tudo, ele é fiel, parceiro, não precisa tomar o partido, não. O partido é de nós todos."
Apesar das declarações de Barroso, Bolsonaro já tentou ter o controle da direção nacional do Patriota, em 2017. À época, essa condição foi justamente o motivo que emperrou a sua filiação e o fez migrar para o PSL, sigla pela qual se elegeu presidente, em 2018.
Barroso, porém, culpou o ex-ministro Gustavo Bebianno, morto em março do ano passado, pelo episódio. "Nunca foi ele (Bolsonaro) que quis me tirar da presidência nacional do partido, pois sempre confiou em mim. Foi o Bebianno que partiu para cima de tudo que é jeito porque ele queria ser presidente do partido, tanto que ele foi presidente do PSL."
Flávio se filiou nesta segunda-feira, 31, ao Patriota e indicou que seu pai, em campanha pela reeleição, seguirá o mesmo caminho. Essa possibilidade, no entanto, já provocou racha interno na sigla. Integrantes do partido entraram com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que mudanças promovidas às pressas no estatuto da legenda tiveram como único objetivo beneficiar a família Bolsonaro.
A ação enviada ao TSE é assinada pelo vice-presidente do partido Ovasco Resende, pelo secretário-geral, Jorcelino Braga, e outros seis integrantes da sigla. "Sabendo-se que o presidente da República Jair Bolsonaro busca acomodar diversos apoiadores e mandatários, compete à convenção nacional do Patriota decidir democraticamente se o partido terá candidatura presidencial própria em 2022 e, em caso positivo, se é vontade da maioria que o candidato seja o presidente da República e que seus apoiadores ocupem posições no Patriota", diz trecho da ação.
'Juntos'
Flávio Bolsonaro deixou, na semana passada, o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. O senador elogiou a legenda e disse ter certeza de que todos vão "caminhar juntos" para a campanha de 2022.
Já Bolsonaro saiu do PSL, em novembro de 2019, em meio a brigas internas. Após ter anunciado a criação do Aliança pelo Brasil, porém, o presidente não conseguiu reunir as 491.967 assinaturas necessárias para tirar a legenda do papel.
Após a briga no PSL, ele negociou a entrada em nove partidos, mas, até agora, nenhum aceitou lhe dar carta- branca. Para se filiar, o presidente exige ter influência sobre a executiva nacional e o controle dos diretórios e do caixa da legenda.
MBL reage e deve romper com sigla
Após assumir o comando do Patriota em São Paulo com "porteira fechada", em 2020, a cúpula do Movimento Brasil Livre (MBL) decidiu avaliar se era o caso de bater em retirada. Reunião que estava prevista para ontem à noite tinha como pauta definir o que fazer caso a legenda aceite abrigar a família Bolsonaro. "Não existe a possibilidade de estarmos juntos no mesmo projeto político. A entrada do Flávio (Bolsonaro) ao partido foi terrível", disse ao Estadão o deputado estadual Arthur do Val, o "Mamãe Falei", sobre a filiação do senador, anunciada anteontem.
Do Val teve 522.210 votos (9,79%) na disputa pela Prefeitura, no ano passado, e se credenciou para disputar o governo paulista no ano que vem. Por acordo firmado em fevereiro de 2020, ele e o vereador Fernando Holiday migraram do DEM para o Patriota e receberam carta-branca para montar o seu diretório municipal. O coordenador nacional do MBL, Renato Battista, assumiu a presidência do partido na capital paulista.
Tendo atuado na linha de frente do impeachment de Dilma Rousseff (PT), o MBL apoiou Bolsonaro no segundo turno em 2018, mas depois rompeu com ele. Holiday já deixou o Patriota e entrou no Novo. Segundo a Coluna do Estadão, o vereador Rubens Nunes (Patriota), que é um dos líderes do MBL, chamou de "golpe" o acerto entre o partido e Flávio.
"Eles dizem que são de direita, então por que sairiam do Patriota? Se depender de mim, eles (MBL) não sairão. Mas, se ficarem, terão de fazer campanha para o Bolsonaro", respondeu ao Estadão o presidente do Patriota, Adilson Barroso.
Novo cenário
A chega de Flávio ao partido agitou os diretórios. O senador postou mensagem no Twitter informando que foi feito o convite para que seu pai também se filiasse. Bolsonaro tem até abril para se abrigar em alguma sigla e disputar a reeleição.
A filiação de Flávio causou estranheza a Cabo Daciolo, que concorreu à Presidência pela legenda em 2018. "Bolsonaro não tem nada de patriota. Entregou a nação ao mercado estrangeiro", afirmou ele ao Estadão. E em Belo Horizonte, o vereador Gabriel Azevedo recebeu ontem comunicado dando conta de sua expulsão, por críticas feitas ao governo.