EDIR MACEDO: uma das propostas de Bolsonaro que divide o meio evangélico é a liberação do porte de armas (Diego Vara/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de outubro de 2018 às 13h04.
Brasília - Sob intenso ataque de adversários, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, encontrou um porto seguro no apoio do segmento evangélico. Líderes de igrejas neopentecostais já indicam apoio ao capitão da reserva em eventual segundo turno entre ele e Fernando Haddad, do PT, cenário mais provável conforme as pesquisas de intenção de voto.
O bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), declarou no sábado voto em Bolsonaro. O PRB, partido ligado à Universal, já manifestou internamente predileção pelo candidato do PSL no segundo turno, embora tenha se coligado ao tucano Geraldo Alckmin no primeiro turno.
Bolsonaro também saiu na frente para receber a adesão de outros partidos que concentram parlamentares evangélicos, como o DEM e o PSC.
O candidato do PSL lidera em todas as vertentes evangélicas, segundo as pesquisas. Na série do Ibope/Estado/TV Globo, Bolsonaro teve uma curva ascendente entre os evangélicos como um todo, sempre acima da intenção de voto geral. Desde agosto, ele passou de 26% para 34% no segmento, acima dos 28% de intenção de voto global, conforme o mais recente levantamento. Haddad tem 22% do total, mas atinge só 17% entre os evangélicos. Já Marina Silva (Rede) caiu de 12% para 7% entre os evangélicos, enquanto Alckmin se manteve na faixa de 8%. Os religiosos avaliam que votos de Marina migraram para Bolsonaro por causa de manifestações dela que consideram dúbias.
Levantamentos feitos pelas campanhas adversárias mostram que a resiliência de Bolsonaro na liderança das intenções de voto está muito relacionada ao voto evangélico, que não é necessariamente um voto "antipetista", mas sim um voto conservador, contra o aborto, a pauta LGBT e a esquerda.
Perfil
Edir Macedo, que lidera a igreja neopentecostal considerada a mais influente eleitoralmente, usou seu perfil oficial no Facebook para responder ao questionamento de um fiel da Iurd, que desejava saber quem ele apoiaria na eleição para presidente da República. Em eleições anteriores, a Universal apoiou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), hoje candidata ao Senado em Minas Gerais.
O PRB, partido ligado à igreja e criado durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - condenado e preso na Lava Jato -, participou das duas últimas gestões petistas, mas desembarcou do governo e apoiou o impeachment de Dilma. A sigla comanda o Ministério da Indústria no governo Michel Temer.
Bolsonaro é católico por formação e se apresenta assim em encontros fechados com pastores. Em público, costuma dizer que é "cristão". A mulher dele, Michelle Bolsonaro, frequenta a Igreja Batista Atitude, na Barra da Tijuca, no Rio. O casamento deles foi celebrado por Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
O presidente do PSC, Pastor Everaldo Pereira, membro da Assembleia de Deus Ministério Madureira, batizou o agora candidato do PSL em 2016 nas águas do Rio Jordão, em Israel. O PSC está coligado ao candidato do Podemos ao Planalto, Alvaro Dias, mas Pastor Everaldo já deixa clara sua opção num eventual segundo turno. "O PSC (apoia) na hora. O partido não vota com a esquerda, com o PT e o Haddad em hipótese nenhuma. Vai ser unanimidade para votar com Bolsonaro."
Pauta
A atração do eleitorado evangélico e das igrejas por Bolsonaro se deve ao posicionamento dele, de forma clara, em defesa de pautas morais: é contrário ao aborto, à liberação das drogas e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, além da campanha contra educação sexual e identidade de gênero nas escolas - chamada por religiosos de "ideologia de gênero".
"Há uma unanimidade de que o Bolsonaro foi o único que empunhou a bandeira da vida, da família, da igreja, da livre economia, da escola sem partido e contra a ideologia de gênero", afirmou o bispo Robson Rodovalho, líder da Sara Nossa Terra, que emitiu nota pela Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil. "Achamos que deveríamos manifestar esse apoio antes do primeiro turno, a tempo de influenciar nossa sociedade."
O manifesto gerou uma carta pastoral contrária assinada, majoritariamente, por adeptos de igrejas históricas como presbiterianos, batistas, metodistas, luteranos e anglicanos.
No início da noite deste domingo, 30, Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável, postou no Twitter um vídeo em que ele e o pai aparecem ao lado do Pastor Cláudio Duarte - que atua no canal Foco em Cristo, no YouTube. "Como eu disse antes, é melhor 'Jair se acostumando'", diz o pastor no vídeo, frisando que o apoio é individual e não da igreja. "Sonhamos com um Brasil diferente do que está aí hoje, em que a família realmente seja respeitada", respondeu o candidato.
Na semana passada, Bolsonaro ganhou adesão de Hidekazu Takayama (PSC-PR), deputado e pastor da Assembleia de Deus Cristo Vive e ligada ao Ministério do Belém, o mais tradicional. Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, uma das mais influentes do Congresso, Takayama relata que os líderes de igrejas temem uma derrota de Bolsonaro no segundo turno e apela aos cristãos para votarem no colega de Câmara. "A doutrinação esquerdista radical está caminhando para um ateísmo que fere a igreja."
No dia seguinte à declaração de apoio do bispo Edir Macedo ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), um culto neste domingo na sede da Igreja Universal do Reino de Deus em Brasília exibiu vídeo contra o "kit gay" - termo usado pelo candidato do PSL para o projeto Escola sem Homofobia, vetado pelo governo federal em 2011.
Bolsonaro não foi citado, nem seu virtual adversário no segundo turno, Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação. O material de orientação sexual era atribuído ao Ministério da Educação na gravação apócrifa que reunia depoimentos de supostos professores e alunos, além de trechos de reportagens da TV Record com parlamentares, religiosos e especialistas.
"Acredito que não é esse o Brasil que você quer", disse um pastor aos fiéis. Após a gravação, os fiéis oraram pelo Congresso para "expulsar o demônio do parlamento" e "amarrar projetos de lei diabólicos". Seguidores da igreja usavam adesivos com nome e número de candidatos do PRB colados na roupa dentro do templo.
Apesar da expectativa de que Bolsonaro tenha a maioria dos votos evangélicos, o peso do segmento ainda é incerto. O professor de Ciência Política do Ibmec Fábio Lacerda pondera que este voto tem mais efeito nas eleições proporcionais. "Não é claro e evidente que os fiéis vão seguir os pastores na eleição par cargos do Executivo. Há outras determinantes."
Uma das propostas de Bolsonaro que divide o meio evangélico é a liberação do porte de armas. No programa de governo, consta "reformular o Estatuto do Desarmamento para garantir o direito do cidadão à legítima defesa". "É um dos pontos que faz com que muitos evangélicos não consigam votar nele", diz o pastor Luiz Roberto Silvado, presidente da Convenção Batista Brasileira.