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Bolsonaro publica vídeo de pastor dizendo que ele foi "escolhido por Deus"

Tom de vídeo compartilhado por Bolsonaro vai ao encontro da ideia de que há uma conspiração para "derrubar o capitão

Citando Bolsonaro como exemplo, pastor disse que "na história da bíblia houve políticos que foram estabelecidos por Deus" (Paulo Whitaker/Reuters)

Citando Bolsonaro como exemplo, pastor disse que "na história da bíblia houve políticos que foram estabelecidos por Deus" (Paulo Whitaker/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de maio de 2019 às 16h08.

Brasília — O presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicou um vídeo na sua conta no Facebook em que um pastor estrangeiro afirma que ele foi "escolhido por Deus" para comandar o País. Ao compartilhar o vídeo, Bolsonaro escreveu que "não existe teoria da conspiração, existe uma mudança de paradigma na política" eque "quem deve ditar os rumos do país é o povo! Assim são as democracias".

No vídeo compartilhado pelo presidente, o pastor Steve Kunda, nascido no Congo e fundador de uma igreja evangélica em Orleans, na França, defende o presidente como um político "estabelecido por Deus" para guiar o País. Em francês, Kunda cobra apoio a Bolsonaro e pede que não se façam críticas nem oposição ao presidente. Na semana passada, milhares de pessoas protestaram contra o contingenciamento na verba do Ministério da Educação em mais de 200 cidades.

O vídeo, compartilhado hoje (19) por Bolsonaro, foi gravado há mais de um mês e divulgado no dia 10 de abril no site da Rede Super. "Vamos falar que é tempo novo. Não faço política, sou pastor. Mas creio que tenhamos que fazer uma influência na política. A igreja não é só orar manhã, noite e tarde. A igreja é influenciar a sociedade no campo positivo e não só negativo. Na história da bíblia, houve políticos que foram estabelecidos por Deus. Um exemplo quando falam do imperador da pérsia Ciro. Antes do seu nascimento, Deus fala através de Isaías: 'Eu escolho meu sérvio Ciro'. E senhor Jair Bolsonaro é o Ciro do Brasil. Você querendo ou não", diz Kunda.

O programa em que o pastor é entrevistado é apresentado pelo pastor Cássio Miranda na Rede Super, emissora de televisão com sede em Belo Horizonte que pertence à Igreja Batista da Lagoinha. A rede é comandada pelo ex-deputado estadual Dalmir de Jesus e outros quatro deputados, além da empresária Liliane Hermeto.

Na entrevista, o pastor diz que foi aconselhado por seus pares a não fazer comentários políticos, pois poderia criar divisões. Ainda assim, ele optou por se posicionar em defesa de Bolsonaro, que tem sido "muito oprimido", mas pode "influenciar outras nações".

"Eu não moro aqui. Mas falo da parte de Deus. Vocês aceitando ou não, você seja de esquerda ou de direita, o senhor Jair Bolsonaro é o Ciro do Brasil. Deus o escolheu para um novo tempo, para uma nova temporada no Brasil. Não passe o seu tempo criticando. Juntem as forças e sustentem esse homem. Orem por ele, encorajem-no, não façam oposição", diz o pastor.

"Ele tem uma visão nacional para emancipação do País, para emancipação da nação. Sustentem esse homem, apoiem-no. Deus falou que os dois primeiros anos dele não vão ser fáceis. Mas a mão de Deus está com ele porque vai cortar muitos obstáculos, muitas opressões. Mas foi Deus quem o escolheu", acrescenta o pastor.

O vídeo é a segunda publicação feita por Bolsonaro nesta semana em redes sociais direcionada a seus apoiadores - desta vez, os evangélicos. Na sexta-feira, o Estado revelou que Bolsonaro compartilhou, na rede social Whatsapp, um texto em que o autor diz que o presidente é vítima de um sistema corrompido e "que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável". A mensagem foi interpretada no Congresso como mais um ataque do presidente ao que ele chama de "velha política".

Escrito pelo analista da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Paulo Portinho, o texto diz que o presidente sofre pressões de todas as corporações, em todos os Poderes, e que o País "está disfuncional", mas não por culpa de Bolsonaro. "Até agora (o presidente) não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou".

O tom do texto e do vídeo compartilhados por Bolsonaro vai ao encontro do discurso adotado nos últimos dias por aliados, de que há uma conspiração para "derrubar o capitão", como escreveu nesta semana o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, em sua conta no Twitter.

A avaliação de auxiliares do presidente é a de que, ao convocar a sociedade para uma solução, Bolsonaro tenta manter ativas suas redes de apoio, após manifestações contrárias ao governo tomarem as ruas do País. Como resposta, aliados de Bolsonaro planejam uma marcha em apoio a ele no próximo domingo (26).

Na semana passada, nos Estados Unidos, o próprio presidente disse que opositores querem tirá-lo da Presidência. "Quem decide corte não sou eu. Ou querem que eu responda a um processo de impeachment no ano que vem por ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal?", perguntou.

O movimento também coincide com o avanço das investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente. Flávio teve o sigilo bancário e fiscal quebrado pelo Tribunal de Justiça do Rio. O presidente acredita que ele e seu governo são os alvos dos investigadores.

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