Brasil

Bolsonaro pede desculpas ao STF por vídeo com leão e hienas

Em vídeo publicado nas redes sociais do presidente, Bolsonaro é representado por um leão que é atacado por várias hienas, entre elas uma com o logo do STF

Bolsonaro: Celso de Mello criticou o vídeo e chamou de "atrevimento presidencial" (Alan Santos/PR/Flickr)

Bolsonaro: Celso de Mello criticou o vídeo e chamou de "atrevimento presidencial" (Alan Santos/PR/Flickr)

R

Reuters

Publicado em 29 de outubro de 2019 às 11h00.

Última atualização em 29 de outubro de 2019 às 11h15.

Riad — O presidente Jair Bolsonaro pediu desculpas nesta terça-feira (29) ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela publicação de um vídeo em sua conta oficial no Twitter que retratava o tribunal como uma ameaça a seu governo, após uma reação dura do ministro mais antigo da corte.

"Me desculpo publicamente ao STF, que por ventura ficou ofendido. Foi uma injustiça, sim, corrigimos e vamos publicar uma matéria que leva para esse lado das desculpas. Erramos e haverá retratação", disse Bolsonaro ao jornal O Estado de S. Paulo durante viagem à Arábia Saudita.

O vídeo em questão foi publicado na conta oficial de Bolsonaro no Twitter na tarde de segunda-feira (28), mas foi apagado posteriormente. Nele, Bolsonaro é representado por um leão cercado por hienas ameaçadoras identificadas com símbolos do STF, da ONU, da OAB, de órgãos de imprensa e até do partido do presidente, o PSL, entre outros.

Na noite de segunda-feira (28), o ministro do STF Celso de Mello afirmou que o vídeo demonstrava que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites.

"A ser verdadeira a postagem feita pelo senhor presidente da República em sua conta pessoal no 'Twitter', torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma 'hiena' culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores", disse o ministro em resposta enviada por sua assessoria, após questionamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo.

[wpvideo AWczTn6p]

Celso de Mello, o ministro decano do STF, disse que o comportamento revelado no vídeo representa a "expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de Poderes", e de quem teme um Judiciário independente, em que nenhuma autoridade está acima da Constituição e das leis.

"É imperioso que o senhor presidente da República — que não é um 'monarca presidencial', como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados — saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil", acrescentou.

Procurado por meio de sua assessoria, o presidente do STF, Dias Toffoli, não respondeu a um pedido de comentário sobre o vídeo.

Antes do pedido de desculpas, Bolsonaro abandonou uma entrevista coletiva que concedia a jornalistas brasileiros na Árabia Saudita após ser perguntado sobre a resposta dada por Celso de Mello.

Em uma publicação nesta manhã na página oficial de Bolsonaro no Facebook sobre sua eleição para a Presidência e os 10 primeiros meses de governo, o presidente reconhece ter cometido erros e diz ter humildade para pedir desculpas, mas não cita nenhum caso especificamente.

"Sei que por vezes erro e falho e isso é potencializado para desgastar o governo. Paciência, sabia que o jogo era bruto, a cobiça pelo Poder é enorme. Porém, tenho a humildade de pedir desculpas, corrigir e seguir em frente", diz o texto.

Acompanhe tudo sobre:EXAME-no-InstagramJair BolsonaroSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

PF convoca Mauro Cid a prestar novo depoimento na terça-feira

Justiça argentina ordena prisão de 61 brasileiros investigados por atos de 8 de janeiro

Ajuste fiscal não será 'serra elétrica' em gastos, diz Padilha

G20: Argentina quer impedir menção à proposta de taxação aos super-ricos em declaração final