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Bolsonaro faz discurso combativo na ONU e cita "falácias" sobre Amazônia

Durante 30 minutos, presidente brasileiro citou temas caros à sua base, frustrando expectativa de tom conciliatório, e atacou mídia e cacique Raoni

Bolsonaro na ONU: o presidente começou sua fala dizendo que o país “ressurge depois de estar à beira do socialismo” (Lucas Jackson/Reuters)

Bolsonaro na ONU: o presidente começou sua fala dizendo que o país “ressurge depois de estar à beira do socialismo” (Lucas Jackson/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 24 de setembro de 2019 às 11h27.

Última atualização em 24 de setembro de 2019 às 15h27.

São Paulo — O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso combativo em sua estreia na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (24) em Nova York.

Durante cerca de 30 minutos, Bolsonaro fez ataques à mídia nacional e internacional e citou temas caros à sua base como "Foro de São Paulo" e uma suposta "perversão" da identidade biológica de crianças.

"A ideologia invadiu nossos lares para investir contra célula-mater de qualquer sociedade: a família", disse.

O presidente começou sua fala dizendo que o país “ressurge depois de estar à beira do socialismo”. A primeira parte do pronunciamento não focou na questão climática ou nas queimadas na Amazônia.

Em seguida, ele fez uma crítica ao programa Mais Médicos, chamando de "um verdadeiro trabalho escravo, acreditem, respaldado por entidades de direitos humanos do Brasil e da ONU". A delegação de Cuba deixou o recinto.

Bolsonaro citou, ainda, a Venezuela como exemplo a não ser seguido pelo Brasil. "Outrora democrática, hoje nossos vizinhos venezuelanos experimentam a crueldade do socialismo" que, de acordo com ele, é mantido por agentes do regime cubano que controlam a sociedade local.

Sobre a situação na Venezuela, Bolsonaro afirmou que o Brasil trabalha com os Estados Unidos para restabelecer a democracia em solo venezuelano.

Amazônia

"Meu governo tem o compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável", disse Bolsonaro no discurso.

Ele afirmou ainda que é uma "falácia" dizer que Amazônia é o pulmão do mundo e um patrimônio da humanidade e reclamou, sem citar nominalmente, a reação da França.

"Outro país embarcou em falácia da mídia sobre a Amazônia e nos tratou com desrespeito e espírito colonizador", disse Bolsonaro, numa referência ao presidente francês, Emmanuel Macron.

"Os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional despertaram nosso sentimento patriótico", disse o presidente.

Posteriormente, afirmou que França e Alemanha usam 50% da sua área para agricultura enquanto o Brasil usa apenas 8%.

Ele disse também que nessa época do ano o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e também as criminosas, e que muitas são realizadas pelos indígenas e populações locais.

"Ela não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Cada um de vocês pode comprovar o que estou falando agora", garantiu.

Bolsonaro reiterou ainda que o Brasil não vai aumentar de 14% para 20% a área demarcada de reservas indígenas, sob argumento de que índios não podem ser "latifundiários pobres em cima de terras ricas".

Ele destacou que o país tem 225 povos indígenas e que cada povo ou tribo tem "seu cacique, sua cultura, suas tradições e seu costume e sua forma de ver o mundo" e que portanto "a visão de um líder indígena não representa a de todos os lideres indígenas".

Ao mesmo tempo em que destacou a diversidade indígena, o presidente citou mais de uma vez o apoio de Ysani Kalapalo, moradora do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Participante da comitiva oficial para Nova York, ela foi alvo de uma nota de repúdio assinada por representantes de 16 povos do Xingu.

O cacique Raoni, líder indígena caiapó de 89 anos cotado para o Nobel da Paz, foi citado duas vezes por Bolsonaro.

O presidente disse que ele é usado como "massa de manobra" por governos estrangeiros na sua "guerra informacional".

"Acabou o monopólio do Senhor Raoni. A Organização das Nações Unidas teve papel fundamental na superação do colonialismo e não pode aceitar que essa mentalidade regresse a estas salas e corredores, sob qualquer pretexto", disse depois de ler uma carta de supostas lideranças indígenas.

Economia e crime

O presidente também citou a mudança na política econômica do país, o acordo entre Mercosul e União Europeia, o acordo entre o bloco e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), formada por quatro países europeus (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), assim como o esforço de adesão à OCDE.

"Não pode haver liberdade politica sem que haja também liberdade econômica e vice-versa", disse.

Também falou em diminuição de homicídios, alta na apreensão de drogas e na isenção de vistos para países como Estados Unidos.

"Hoje o Brasil está mais seguro e ainda mais hospitaleiro", disse. "Não deixe de conhecer o Brasil. Ele é muito diferente daquele estampado em muitos jornais e televisões".

Assista ao discurso na íntegra:

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(Com Reuters)

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