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Bolsonaro: Eu tenho o poder de interferir e vou continuar interferindo

Interferência do presidente sobre decisões de ministros como Luiz Mandetta para combate a propagação do coronavírus estremece as relações de governo

Bolsonaro: presidente afirmou que integrantes da equipe não possuem "total liberdade" para atuar (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

Bolsonaro: presidente afirmou que integrantes da equipe não possuem "total liberdade" para atuar (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de março de 2020 às 20h27.

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira que é o "comandante do navio" e que vai continuar interferindo nas decisões tomadas por seus ministros. "Eu tenho o poder de interferir e vou continuar interferindo", afirmou o presidente durante entrevista ao Programa Brasil Urgente nesta sexta-feira, 27.

"Eu sou presidente para isso. Votaram em mim, não votaram em nenhum ministro. Aqui tem um comandante do navio, não é cada um remando para um lado de acordo com o seu interesse, um quer ir para a África, outro América do Norte. Não, eu que dou o rumo desse navio", disse.

Bolsonaro disse que muitas vezes a palavra final das decisões de ministros, como é o caso de Luiz Henrique Mandetta (Saúde), acaba sendo do presidente. Um exemplo é a proposta de mudança gradual na estratégia de combate ao novo coronavírus para o isolamento vertical - voltado apenas para idosos e pessoas com doenças crônicas. Com a eventual alteração, chegou a ser considerada a possibilidade de Mandetta deixar o governo por causa da interferência.

"Aqui não é eu isolado e cada ministro faz o que der na cabeça, não. Não é assim que funciona", disse Bolsonaro ao ser questionado sobre Mandetta.

Bolsonaro afirmou que integrantes da equipe não possuem "total liberdade" para atuar. "Eu tenho meu posicionamento também, eu tenho minha vivência. São 28 anos de parlamento, 15 anos de Exército... É eu chegar para o ministro e falar: 'isso aqui tem que ser feito nessa direção'", relatou Bolsonaro.

O presidente ponderou que não impõe sua vontade, que discute com os ministros, mas que "muitas vezes ganha". "O Mandetta está fazendo o seu trabalho, parabéns. Conversei com ele (Mandetta) e o redirecionamento tem que haver, a questão do isolamento vertical", disse. Segundo Bolsonaro, outros redirecionamentos ainda ocorrerão.

Bolsonaro citou exemplo do ministro Paulo Guedes, da Economia, e disse que há duas semanas "implodiu" o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e "mandou todo mundo embora" por discordar de decisões tomadas pela equipe.

O presidente também falou sobre o vice-presidente Hamilton Mourão, que foi na direção contrária de pronunciamento feito pelo presidente no início da semana e afirmou que a posição do governo para combater o coronavírus continuava sendo a da quarentena.

"Se eu falar em solidez... Com todo o respeito ao Mourão, mas ele é mais tosco do que eu. Muito mais tosco. Não é porque é gaúcho, não. Alguns falam que eu sou um cara muito cordial perto do Mourão", afirmou Bolsonaro no programa de televisão.

O presidente lembrou que Mourão é o único indemissível no governo e que ele "pode ficar à vontade". "Ele (Mourão) é um companheiro aqui, pau para toda obra", elogiou.

 

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