Maia: "os partidos querem saber qual o tipo de aliança que o governo pretende construir nos quatro anos para votação de matérias" (BTG Pactual/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 15h06.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2019 às 15h43.
São Paulo — O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), afirmou nesta terça-feira (26) que ele assumiu o papel de dialogar com a oposição e os estados sobre a aprovação da reforma da Previdência, "enquanto o governo de Jair Bolsonaro organiza sua base".
"O governo só tem o PSL de base, nenhum outro e sem apoio nada vai passar. Em um quadro tão pulverizado, como hoje, precisamos trazer de 10 a 12 partidos", admitiu.
O parlamentar, que tem feito da reforma previdenciária sua pauta pessoal, participou de uma sabatina na 20ª CEO Conference, do banco BTG Pactual, em São Paulo.
De acordo com Maia, o projeto da PEC da Previdência não seria hoje nem pautado na primeira fase do processo, que é na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).
"O plenário da Câmara espera receber a reforma entre maio e junho, mas estamos falando de uma reforma que vai projetar dez anos de economia e a pressa pode derrotá-la. Então, não teremos economia. Se fossemos votar na CCJ hoje, os parlamentares iriam obstruir", afirmou.
Maia fez um alerta em relação às críticas do presidente Jair Bolsonaro à chamada "velha política" e também ao protagonismo das bancadas temáticas.
"O problema é que o presidente está refém de seu discurso de campanha. Agora, ele precisa decidir se vai governar como manda a Constituição junto com o parlamento", disse.
Ele apontou que os partidos estão interessados em saber qual é o tipo de aliança que governo pretende construir nos quatro anos para votação de matérias que são importantes, mas polêmicas.
"Esse é o principal problema de agora. O parlamento é o ambiente mais importante do diálogo e a política precisa compreender como Bolsonaro pretende se relacionar com o parlamento".
Maia afirmou que o governo poderia ter evitado "um bode na sala com o Benefício de Prestação Continuada". Segundo ele, a comunicação precisa ser mais ágil e a "guerrilha precisa existir".
Maia defende que as mudanças no BPC e na aposentadoria rural sejam retiradas da pauta da Previdência e avaliadas separadamente.
"Se impacto fiscal com BPC é pequeno, para que poluir pauta com isso? É risco grande tratar de BPC e aposentadoria rural sem ter certeza do impacto na PEC".
Sobre a aposentadoria rural, Maia afirmou que a Medida Provisória para combater fraudes no processo pode resolver a questão e reduzir o déficit do setor.
O presidente da Câmara defendeu que o diálogo entre oposição, governadores e sociedade será o mais essencial para a aprovação da reforma. Como o governo atual tem uma oposição mais forte do que o governo de Michel Temer, será preciso olhar para o parlamento com cuidado.
"Precisamos agregar os novos parlamentares, que têm uma agenda reformista importante, mas no parlamento as coisas não acontecem com a mesma agilidade do que um bom vídeo nas redes sociais", defendeu.
Segundo Maia, a PEC da Nova Previdência, "em princípio", unifica a esquerda no campo político e ideológico e o caminho para atrair o apoio desse campo contrário ao projeto é pressionar Estados comandados por esses partidos contrários ao governo federal.
"Os Estados tendem a quebrar bem antes do governo federal e se tem sete em calamidade financeira hoje, em 2022 vai ter 20. Teremos de trazer a esquerda pelos governadores do Nordeste que compreendem a reforma", afirmou, dizendo que é preciso "acreditar que todas as reformas que aprovaremos vão gerar empregos formais".
Ele admitiu que errou, durante o seu mandato anterior no comando da Casa, ao "dar fluxo de caixa aos governadores" da oposição em projetos sem nunca ter cobrado apoio deles às reformas.
Agora, Maia avalia que projetos prioritários desses governos, como a securitização de dívidas e a cessão onerosa, podem ser votados "no dia seguinte" ao da aprovação da PEC da Nova Previdência.
"Não vai ter reforma dos Estados se os partidos de esquerda não colaborarem com votos", afirmou.
(Com Estadão Conteúdo)