Para Bolsonaro, essa decisão judicial foi "ideológica" (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 4 de julho de 2018 às 13h57.
Brasília - O pré-candidato do PSL ao Palácio do Planalto, deputado Jair Bolsonaro, afirmou nesta quarta-feira que com a atual composição do Supremo Tribunal Federal (STF) o país vai ficar "ingovernável" e argumentou que o sinal que se passa para a população é de não se respeitar as leis.
"Com esse Supremo vai ficar ingovernável o país também. O sinal que dá para a população é não respeite as leis", disse Bolsonaro, em entrevista coletiva após participar de evento com presidenciáveis promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
As críticas de Bolsonaro - líder nas pesquisas de intenção de voto ao Planalto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ocorreram após ele comentar a decisão do ministro do STF Ricardo Lewandowski de suspender processos de venda de ativos de empresas públicas com base na Lei de Estatais.
Essa determinação de Lewandowski fez, por exemplo, a Petrobras suspender parte do seu programa de desinvestimento. O ministro do STF entendeu que esse tipo de processo de venda de ativos precisa passar antes pelo Supremo.
Para Bolsonaro, essa decisão judicial foi "ideológica".
O pré-candidato do PSL criticou ainda o Poder Judiciário ao afirmar que vários órgãos dele estariam "legislando" ao tomar decisões e destacou que é preciso de um presidente que, de forma "isenta, transmita confiança e respeite as leis".
"Que evite que o nosso Supremo Tribunal Federal continue legislando, bem como o CNJ, como legislou em relação às audiências de custódia", disse ele, que também se referiu a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, que se pronunciou sobre a forma como os cidadãos podem se manifestar em abordagens policiais.
Dias atrás, o parlamentar defendeu o aumento do número de integrantes do STF, atualmente composto por 11 ministros.
Na sabatina promovida pela CNI, Bolsonaro repetiu novamente que vai "botar alguns generais" nos ministérios se vencer a corrida ao Palácio do Planalto.
"Que o presidente que chegar lá nomeie e escale o seu time", disse. "Os anteriores colocavam terroristas e corruptos quando chegavam lá", completou ele, em um dos dez momentos que foi aplaudido durante o evento - o que recebeu o maior número de palmas do público até o momento.
Em entrevista coletiva após o evento, o pré-candidato disse que, quando a campanha começar, vai apresentar quase todos os nomes que poderiam compor o seu ministério.
"Ou faz algo diferente ou não faz", disse. "Não é general por ser general, é pessoa competente", acrescentou, ao destacar que general não é "incorruptível", mas a "pressão é menor".
Bolsonaro disse novamente que terá apenas 15 ministérios - atualmente são 29 pastas na Esplanada.
Em outro momento em que foi fortemente aplaudido, o deputado disse que pode ser preciso reduzir direitos trabalhistas.
"Teremos de decidir: menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego", destacou.
Sem dar detalhes, após falar duas vezes sobre o assunto, o ex-capitão do Exército da reserva defendeu a realização de uma reforma da Previdência de forma gradual. "Devagar a gente chega lá, de uma vez só o remendo novo vai rasgar a calça toda", disse.
O deputado criticou a proposta apresentada pelo atual governo, que não prosperou. "Essa proposta do senhor (Henrique) Meirelles (ex-ministro da Fazenda) é remendo novo em calça velha. Temos um filtro na Câmara e no Senado", afirmou.
Bolsonaro afirmou que um presidente tem que agir como um "técnico". Ele disse que tem a humildade de reconhecer que não sabe de tudo, mas destacou que vai buscar os melhores para governar.
"Um presidente é como um técnico, ele não vai entrar em campo. Ele tem que ter o discernimento, força para buscar as soluções", disse. "Nós pensamos de maneira diferente. Quais seriam as primeiras medidas? Primeiro eu pediria a benção de Deus para o Brasil, essa é uma realidade."
Integrante de um partido nanico, Bolsonaro disse que os apoios suprapartidários a ele no Congresso estão aumentando. Disse que nesta tarde vai anunciar o apoio de 110 deputados a ele.
O pré-candidato disse ainda que, a depender das propostas que apresentar ao Congresso, vai angariar apoios.
"Se tipificarmos as ações do MST como terrorismo, será que a bancada ruralista não estará conosco? Se acabarmos com a ideologia de gênero e resgatarmos os bons valores, será que não teremos o apoio dos evangélicos, que fazem um bom trabalho no Parlamento? Se redirecionarmos a política dos Direitos Humanos, não vamos ganhar a simpatia da população?", questionou. O deputado afirmou ainda ser contra a política de cotas.
Bolsonaro defendeu o apoio do público a ele. "Vocês podem errar comigo, os outros já erraram", disse.
Em sua entrevista coletiva, ele afirmou que está com a verdade por ter o povo ao seu lado. Disse que 80 por cento dos que votam nele não vão mudar de posição e disse que tem tudo para vencer a disputa no primeiro turno.