Bolsonaro em discurso na ONU nesta terça-feira: às vésperas da eleição de outubro, presidente destacou questões internas do Brasil (Anna Moneymaker/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 20 de setembro de 2022 às 12h20.
Última atualização em 20 de setembro de 2022 às 12h39.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursou nesta terça-feira, 20, na 77ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Bolsonaro discursou em Nova York, nos EUA, abrindo a etapa de discursos de líderes mundiais, como é tradição que o presidente do Brasil faça desde 1949.
A expectativa antes do evento era de que Bolsonaro fizesse uma fala voltada para o público no Brasil, às vésperas da eleição de 2 de outubro. Bolsonaro usou parte do discurso, de cerca de 20 minutos, para citar detalhes internos do Brasil — como preço da gasolina, Petrobras e inflação (leia aqui a íntegra da fala).
O presidente, por ora, está atrás nas pesquisas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e usou o discurso na ONU para reforçar pontos em que é criticado, como políticas para mulheres e economia.
"Quero também destacar aqui a prioridade que temos atribuído à proteção das mulheres. Nosso esforço em sancionar mais de 70 normas legais sobre o tema desde o início de meu governo, em 2019, é prova cabal desse compromisso", disse na fala. "Combatemos a violência contra as mulheres com todo o rigor."
Em outro momento voltado para o público brasileiro, Bolsonaro criticou também a gestão de governos "de esquerda" à frente da Petrobras e defendeu que o país tem visto queda na pobreza e melhoria de indicadores econômicos.
O presidente citou ainda o Auxílio Brasil de R$ 600 (que converteu para US$ 4 por dia na fala) e disse que os brasileiros vivem uma "prosperidade compartilhada".
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Ao falar sobre combustíveis, Bolsonaro disse que a queda nos preços de energia "não veio de por causa de tabelamento de preços ou qualquer outro tipo de intervenção estatal", mas via "racionalização de impostos". O governo zerou impostos federais e obrigou estados a cortarem ICMS sobre insumos como combustíveis e energia, com impacto estimado de mais de R$ 100 bilhões.
Assim como no discurso do ano passado, Bolsonaro citou a vacinação contra a covid-19 e usou tom mais ameno, sem críticas ao imunizante. O presidente se limitou a afirmar que mais de 80% da população brasileira está vacinada "de forma voluntária, respeitando a liberdade individual" e defendeu que seu governo fez um "amplo programa de imunização".
No discurso de 2021, quando a maior parte da população brasileira ainda não estava vacinada — e em meio a críticas pelo atraso na compra de vacinas no Brasil —, Bolsonaro teve entraves na viagem a Nova York por não comprovar sua imunização, e disse na ONU que era contrário à obrigatoriedade da vacinação para circular.
Nas questões internacionais, Bolsonaro disse que o mundo deve buscar um cenário de paz na Ucrânia pela "negociação e diálogo" e pediu uma "reforma da ONU". O Brasil está em um assento rotativo do Conselho de Segurança até 2023 e assumiu a presidência do colegiado neste ano.
"O conflito na Ucrânia serve de alerta. Uma reforma da ONU é essencial para encontrarmos a paz mundial", disse. "No caso específico do Conselho de Segurança, após 25 anos de debates, está claro que precisamos buscar soluções inovadoras. O Brasil fala desse assunto com base em uma experiência que remonta aos primórdios da ONU."
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Ao citar questões internacionais, Bolsonaro afirmou também que o Brasil recebe refugiados de todo mundo e usou o momento para criticar ditaduras de esquerda na América Latina, como Nicarágua e Venezuela — um tema caro a seus apoiadores no Brasil.
No trecho, disse que o Brasil "repudia a perseguição religiosa em qualquer lugar do mundo", ao mesmo tempo que anunciou que o Brasil abrirá as portas para "padres e freiras católicos" refugiados da Nicarágua.
O presidente também se defendeu de críticas em relação a políticas ambientais, afirmou que o país tem dois terços da matriz energética renovável e que a preservação acontece "ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional".
O presidente disse que o Brasil é "parte da solução e referência para o mundo" na questão ambiental, mas que há 20 milhões de habitantes das regiões de florestas, incluindo indígenas e ribeirinhos, "cuja subsistência depende de algum aproveitamento econômico da floresta".
O Brasil vem sendo questionado no exterior sobre temas ambientais após números recordes de desmatamento na Amazônia e queimadas no Pantanal durante a gestão Bolsonaro, além de falas criticadas do presidente sobre esses temas. Neste ano, as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na Amazônia também ganharam repercussão no exterior.
Em um momento em que o mundo e o Brasil vivem alta da fome e choques de oferta com a guerra na Ucrânia, Bolsonaro usou o palanque na ONU para afirmar que a produção recorde de grãos no Brasil esperada para 2022 será importante para a segurança alimentar do mundo.
"Como afirmou a Diretora-Geral da Organização Mundial do Comércio, em recente visita que nos fez, se não fosse o agronegócio brasileiro, o planeta passaria fome, pois alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo", disse o presidente.