Bolsonaro: governadores criticam comentários do presidente sobre a morte de Adriano da Nóbrega (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 18 de fevereiro de 2020 às 11h21.
Brasília — O presidente Jair Bolsonaro cobrou nesta terça-feira uma "perícia independente" no copo de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro suspeito de integrar uma milícia, que foi morto em uma operação da Bahia no último dia 9. Bolsonaro também voltou a levantar a possibilidade de que Adriano tenha sido executado.
Em publicação em redes sociais, Bolsonaro disse que "sem uma perícia isenta os verdadeiros criminosos continuam livres até para acusar inocentes do caso Marielle" — em uma possível referência ao fato dele próprio ter sido citado na investigação do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
O presidente fez o comentário ao compartilhar a notícia de que a Justiça decidiu que não é necessário preservar o corpo de Adriano.
Bolsonaro ainda questionou quem fará a perícia nos telefones apreendidos com o ex-capitão do Bope e levantou a hipótese de que mensagens e áudios podem ser forjados para acusar inocentes.
A postura de Bolsonaro em relação à morte do ex-capitão Adriano fez com que uma carta com críticas às declarações do presidente, assinada por 20 governadores, fosse publicada. O texto diz que as afirmações de Bolsonaro se antecipam a “investigações policiais para atribuir fatos graves às condutas das polícias e de seus governadores”, além de não contribuírem “para a evolução da democracia no Brasil”. Esse é mais um dos atritos colecionados por Bolsonato com os representantes dos estados.
No último sábado, ao falar pela primeira vez sobre a morte de Adriano, Bolsonaro disse que a responsabilidade é da Polícia Militar (PM) da Bahia e citou o PT.
"Quem é responsável pela morte do capitão Adriano? A PM da Bahia, do PT. Precisa falar mais alguma coisa?", disse ele, na ocasião, ao ser perguntado se estava acompanhando as investigações do caso.
Bolsonaro falou, ainda, sobre o fato de o miliciano ter sido condecorado, em 2005, por seu filho, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro, atualmente senador. O presidente afirmou que ele próprio pediu que Flávio homenageasse Adriano na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj):
"Para que não haja dúvida. Eu determinei. Manda pra cima de mim. Meu filho condecorou centenas de policiais militares. Vocês querem me associar a alguém por uma fotografia, uma moção há 15 anos atrás. As pessoas mudam, para o bem ou para o mal mudam. Não estou fazendo juízo de valor. Vamos esperar as investigações. Se bem que se for o padrão do porteiro da minha casa...", disse Bolsonaro, criticando as investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco.
No dia seguinte, o presidente diminuiu o tom e afirmou esperar que as investigações sobre a morte de Adriano “cheguem a um bom termo”. Ao responder se se entedia se tratar de um crime político, Bolsonaro se limitou a dizer:
"Estão investigando e espero que cheguem a um bom termo".
Adriano foi morto durante uma operação da Polícia Militar da Bahia no último dia 9. Bolsonaro fez sua primeira manifestação sobre o caso na tarde deste sábado, na inauguração de uma alça viária que liga a Ponte Rio-Niterói à Linha Vermelha, na Zona Portuária do Rio.