Bolsonaro: o presidente desmarcou a vista por conta da "resistência e dos ataques" envolvendo a premiação (Alan Santos/Agência Brasil)
Clara Cerioni
Publicado em 3 de maio de 2019 às 19h32.
Última atualização em 3 de maio de 2019 às 19h47.
São Paulo — O presidente Jair Bolsonaro cancelou nesta sexta-feira (03) uma viagem para Nova York, nos Estados Unidos, onde receberia o prêmio "Pessoa do Ano", oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. O jantar de gala estava marcado para acontecer em 14 de maio, no Hotel Marriott Marquis.
Em nota à imprensa, o porta-voz do governo, Otávio do Rêgo Barros, disse que o presidente desmarcou a vista por conta da "resistência e dos ataques" envolvendo a premiação.
"Em face da resistência e dos ataques deliberados do Prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade. Em função disso, e consultados vários setores do governo, o Presidente Bolsonaro decidiu pelo cancelamento da ida a essa cerimônia e da agenda prevista para Miami", diz a nota.
Desde 1969, a Câmara de Comércio premia uma personalidade brasileira e outra americana em seu jantar para mais de mil convidados, com entradas ao preço individual de 30.000 dólares, que estão esgotadas. Neste ano, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, também será homenageado.
Desde seu anúncio, em 8 de abril, a premiação tem sido alvo de protestos por ativistas de direitos humanos. Eles questionam as declarações homofóbicas de Bolsonaro ao longo de sua carreira, assim como suas posições em relação às comunidades indígena e negra e às medidas na área do meio ambiente propostas por seu governo.
No começo deste mês, o Museu de História Natural de Nova York, que sediaria o jantar, se recusou a receber o evento. Na ocasião, o museu afirmou que gostaria de “deixar claro que não convidou o presidente Bolsonaro; ele foi convidado como parte de um evento externo”.
A instituição também agradeceu “às pessoas que expressaram sua opinião sobre o evento” e disse estar “profundamente” preocupado “com os objetivos declarados da atual administração brasileira”.
Logo depois, o Cipriani Hall, em Wall Street, também negou sediar o evento. Por trás das decisões esteve a forte pressão do prefeito democrata da cidade, Bill de Blasio. Ele descreveu Bolsonaro como “um homem perigoso” e agradeceu os espaços.
“Jair Bolsonaro é um homem perigoso. Seu racismo evidente, sua homofobia e decisões destrutivas terão um impacto devastador no futuro do nosso planeta. Em nome de nossa cidade, obrigado Museu de Nova York por cancelar este evento”, escreveu.
Já nesta quinta-feira (02), três empresas decidiram deixar de patrocinar o jantar de gala: a companhia aérea Delta Airlines, a consultoria Bain & Company e o jornal Financial Times.
No mesmo dia, a hashtag #CancelBolsonaro ficou em primeiro lugar nos Trending Topics do Twitter, onde são destacados os temas com maior repercussão. O senador democrata Brad Hoylan, que é homossexual, pediu ontem que o Marriott cancelasse o evento.