Bolsonaro na Avenida Paulista: presidente viajou a São Paulo na terça-feira, 7, e discursou a apoiadores (Alexandre Schneider/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 8 de setembro de 2021 às 18h26.
Última atualização em 8 de setembro de 2021 às 21h16.
Enquanto levou algumas centenas de milhares de apoiadores às ruas no 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe concentraram esforços também em outra esfera: as redes sociais, onde o grupo de apoio ao governo tem sua maior força.
O barulho foi grande. As contas de Bolsonaro nas principais redes sociais atingiram ontem o maior número de interações da história, como mostra levantamento da consultoria de análise de redes sociais Bites feito a pedido da EXAME.
Bolsonaro chegou a 18,9 milhões de interações ao longo da terça-feira, 7, patamar que supera todas as outras datas, como sua eleição em 2018 ou o começo da pandemia em março de 2020, que detinha o recorde anterior.
Seu desafio, na outra ponta, é que o recorde foi puxado pelo mesmo grupo de sempre, o que pode indicar uma dificuldade do presidente em falar com novos públicos.
"Na prática, parece que Bolsonaro tem ficado mais isolado dentro de uma bolha", diz André Eler, diretor-adjunto da Bites.
"É uma base ainda muito grande, que consideramos muito relevante. Só que todas as mensagens compartilhadas com maior repercussão são desses apoiadores habituais", diz. "Quando vemos pessoas da sociedade civil, gente não muito ligada à política falando, todas as mensagens com maior repercussão são contra Bolsonaro."
No caminho para chamar a atenção aos atos, Bolsonaro também levou junto parte da oposição.
O número de menções no Twitter a impeachment ou à hashtag #ForaBolsonaro teve seu pico no ano, superando momentos como a crise que levou à falta de oxigênio em Manaus, em janeiro, ou na primeira manifestação da oposição, em maio.
"Bolsonaro polariza e com isso consegue acender a própria base, mas também incendeia a oposição de alguma forma. As pessoas ficam mais irritadas com ele, se lembram dele, e voltam a pedir impeachment", diz Eler.
Parte das menções não foi só de críticos: os próprios apoiadores do presidente começaram a usar o termo impeachment para se referir a atos contrários à ex-presidente Dilma Rousseff, no intuito de afirmar que o ato de ontem na Avenida Paulista fora maior que os de 2015 e 2016.
Da mesma forma, parte da oposição também citou os atos anti-Dilma para afirmar que o 7/9 não os superou, segundo o levantamento da Bites.
A Polícia Militar de São Paulo calcula que cerca de 125.000 pessoas estiveram na Avenida Paulista minutos antes do discurso de Bolsonaro. As fotos mostram a avenida cheia, mas estima-se que um dos maiores atos contra Rousseff chegou a levar 1 milhão de pessoas à Paulista.
Para o professor Carlos Machado, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, há pontos positivos e negativos ao governo na manifestação.
"A ideia de perda ou ganho é relativa. Para o intuito de Bolsonaro de conseguir sobrevida no cargo, foi um ganho para si, pois o permitiu fotos com enquadramentos que se adequam à sua narrativa de amplo apoio", diz Machado, que aponta que o governo usa os episódios para desviar a narrativa de suas próprias crises.
Mas o cientista político avalia que a oposição também tem algum ganho com os atos. "Ao ser obrigado a levar à rua sua força de apoio, fica evidente que a capacidade de mobilização de Bolsonaro está muito aquém", diz Machado.
"A direita fisiológica do Congresso conseguirá cobrar mais caro [do governo] por seu apoio, enquanto a esquerda terá um incentivo para forçar sua posição, seja com mobilizações de rua, defesa do impeachment ou organização para as eleições de 2022."
Seja como for, a presença online de Bolsonaro ainda supera em muito à da oposição, não só nos atos de ontem.
O presidente tem quatro vezes mais seguidores nas quatro principais redes (Twitter, Facebook, Instagram e YouTube) do que o ex-presidente Lula — que, fora da internet, lidera as pesquisas, enquanto a oposição de centro e centro-direita ainda tenta angariar apoio a seus candidatos.
Lula tem cerca de 11 milhões de seguidores somados, ante 44 milhões de Bolsonaro.
No começo do ano, após cenas de caos na pandemia com a variante P1, Bolsonaro chegou a balançar nas redes e até perder seguidores, como apontou a Bites na ocasião.
Mas rapidamente, de polêmica em polêmica — e com a dinâmica das redes que privilegia interações e uma base fiel de engajamento —, o presidente tem conseguido se manter em um patamar alto e muito superior ao da oposição.
Ainda que a aprovação ao governo tenha caído para um terço da população nas pesquisas, a base online de Bolsonaro pode ser o bastante para evitar que o presidente "morra eleitoralmente" até 2022, avalia Eler.
A própria capacidade do presidente de mobilizar a oposição — ainda que como contrariedade aos atos — joga a seu favor em alguns casos, pois mostra seu poder de pautar o debate online.
"Ter um quarto que seja da população talvez possa ser mais do que suficiente para levar Bolsonaro ao segundo turno em 2022", diz Eler.
"O fato de Bolsonaro ser grande nas redes acaba se revertendo nessa possibilidade de ele não morrer eleitoralmente — enquanto consegue ainda mobilizar de forma muito consistente uma base que é muito grande."