Bolsonaro: a publicação afirma que sua eleição não será positiva ao país (Economist/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 20 de setembro de 2018 às 10h27.
Última atualização em 20 de setembro de 2018 às 12h05.
São Paulo — Para a revista britânica The Economist, uma possível eleição de Jair Bolsonaro (PSL) colocaria a democracia do Brasil e da América Latina em risco.
Segundo a publicação, veiculada desde 1843 e marcada pela defesa do liberalismo econômico e político, o presidenciável seria um "desastre" como presidente.
"Bolsonaro é o último de uma onda de populistas, que vai de Donald Trump nos EUA, a Rodrigo Duterte nas Filipinas e a uma coalizão de esquerda e direita com Matteo Salvini na Itália. Sua adesão a esse clube é, particularmente, desagradável", compara.
Em reportagem de capa na edição desta semana, a revista afirma que essa seria a eleição para mudar o futuro do país, que enfrenta dias difíceis "com uma economia desastrosa, finanças públicas sob pressão e com uma a política completamente podre". Mas, aparentemente, isso não acontecerá se o ex-militar for eleito.
Brazil is in desperate need of reform, but Jair Bolsonaro would make a disastrous president. Our cover this week https://t.co/3IGmJT3Sbw pic.twitter.com/sNAzaXRH3n
— The Economist (@TheEconomist) September 20, 2018
Traçando a trajetória dos discursos polêmicos do ex-deputado, a publicação afirma que ele se mostra como a salvação para uma parcela de brasileiros que não querem mais "políticos corruptos e traficantes de drogas comandando o país".
Segundo a publicação, se o candidato do PSL enfrentar Fernando Haddad, do PT, no segundo turno "muitos eleitores da classe média e alta, que culpam Lula e o PT pelos problemas do Brasil, poderiam carregar Bolsonaro nos braços".
Sua estratégia, continua a reportagem, é misturar o conservadorismo pregado pela igreja evangélica com o liberalismo econômico, ao qual se reverteu recentemente.
A escolha de Paulo Guedes, com seu principal conselheiro econômico, diz a revista, é uma das ações do presidenciável para encantar os defensores do livre mercado.
A The Economist também destaca o episódio de esfaqueamento do ex-militar. "Isso só o tornou mais popular e protegeu-o de um exame mais minucioso pela mídia e seus oponentes."
Um dos blocos da reportagem de capa faz uma análise sobre a "preocupante admiração" de Bolsonaro com regimes ditatoriais.
Cita a fala do presidenciável em reverenciar as ações do general Carlos Alberto Brilhante Ustra durante o regime militar de 1964. O vice na chapa de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão (PRTB), também é alvo de críticas pela revista.
"A resposta do Sr. Bolsonaro ao crime é, na verdade, matar mais criminosos - embora, em 2016, a polícia tenha matado mais de 4.000 pessoas", afirma.
A reportagem também traz uma crítica sobre a tendência dos brasileiros em aceitar o "rouba, mas faz", e que, para Bolsonaro, a frase poderia ser "eles torturaram, mas agiam", sobre o período ditatorial no Brasil.
Ainda segundo a Economist, a "América Latina conhece todos os tipos de homens fortes, a maioria deles terríveis". Relembra a situação na Venezuela e na Nicarágua e afirma que "a democracia no Brasil ainda é jovem e flerta com um autoritarismo preocupante".
Bolsonaro, no entanto, não é o homem que fornece as reformas necessárias, diz a revista. "Os brasileiros devem perceber que a tarefa de curar a democracia e reformar a economia não será fácil, nem rápida. Algum progresso foi feito, mas muito mais reformas ainda são necessárias."
Não é a primeira vez que a revista comenta a candidatura: em agosto, um editoral classificou Bolsonaro como "ameaça à democracia". Em novembro de 2017, ele foi chamado de demagogo e “garoto travesso”.
O Brasil também já esteve no foco em várias outras ocasiões: o auge da euforia com a economia brasileira foi marcado por uma capa que mostrava o Cristo Redentor decolando.
Em 2015, com a crise já se desenrolando, a revista decidiu estampar um Cristo desgovernado. Em 2016, a revista pediu a renúncia de Dilma e fez uma capa com o Cristo pedindo socorro.