Bolívar Lamounier: o cientista político vê poucas chances para candidatos extremistas em 2018 (Laílson Santos/Divulgação)
Gian Kojikovski
Publicado em 4 de setembro de 2017 às 17h10.
As eleições de 2018 estão cada vez mais nas manchetes e, dentre as tantas dúvidas na mesa, há uma certeza a nortear os debates. A polarização entre esquerda e direita no eleitorado será decisiva. Os cientistas políticos Ricardo Sennes e Bolívar Lamounier debateram a corrida até 2018, no EXAME Fórum 2017, realizado nesta segunda-feira em São Paulo.
Os principais assuntos debatidos foram a viabilidade de um candidato visto como extremista, como o deputado Jair Bolsonaro, e a disputa interna no PSDB entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito João Doria. Sobre esses assuntos, Lamounier concedeu a seguinte entrevista para EXAME.
O principal tema do debate no EXAME Fórum foi o cenário do ano que vem. O senhor afirmou que o deputado Jair Bolsonaro tem poucas chances de ir longe. Mas ele é quem mais tem atacado o problema da segurança pública, especialmente no Nordeste, um reduto do PT. Como esta pauta pode influenciar as eleições?
Se os candidatos favoritos passarem a mensagem de leniência [com a violência], eles serão prejudicados, certamente. Eles já foram prejudicados em várias situações parecidas com essa. Agora, eu não acredito que a criminalidade por si só alavanca o Bolsonaro. Para um candidato se alavancar com essa temática, a sociedade tem que acreditar que o problema é solúvel em um prazo relativamente curto. E as pessoas não pensam que o Brasil está completamente imerso na criminalidade. Então, o discurso dele soa autoritário. Soa demagógico. E eu creio que a candidatura dele não vá além de 12%.
Mas o discurso de um outsider da política, como ele vem fazendo, não pode levá-lo para além dos 12%?
O país amadureceu muito nos últimos anos. Nós não estamos mais na época do Collor, em que uma grande parcela poderia acreditar nisso. O país já passou por muita coisa, e sabemos que as coisas são muito mais complexas. Discursos rasos como o do Bolsonaro terão menos apelo do que em campanhas anteriores.
O senhor falou, no debate, que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin é um potencial favorito. Ao mesmo tempo, ele não vem mostrando isso nas pesquisas de opinião. O que o senhor acha dessa dicotomia?
Ainda é muito cedo. Nessa etapa, as novidades aparentes ou reais têm mais realce. Quanto ao governador Alckmin, principalmente se o mau humor do país diminuir, ele é um candidato muito forte.
Ao mesmo tempo, existe essa disputa dentro do PSDB com o prefeito João Doria. Nesta segunda, o prefeito admitiu pela primeira vez que poderia sair do partido para disputar as eleições em 2018. Isso prejudicaria a agenda do governador?
Eu não acredito que isso vá acontecer. Se o Doria sair do partido, isso seria um suicídio político. Saindo do partido, ele não tem chances. Fora das estruturas partidárias tradicionais, nenhum candidato é viável em 2018. O mesmo raciocínio vale para a Marina Silva. Ela terá muitas dificuldades em um partido que não tem musculatura, como a Rede.