Leonardo Boff: "é ódio contra os 40 milhões (de pobres) que foram incluídos e que ocupam os espaços que eram reservados às classes poderosas" (Valter Campanato/ABr/Wikimedia Commons/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2015 às 23h26.
Montevidéu - O teólogo Leonardo Boff disse nesta segunda-feira, durante uma visita em Montevidéu, que os protestos contra o governo brasileiro se tratam de "ódio" contra as pessoas que saíram da pobreza no país, já que, na sua opinião, atualmente "o povo entra nos shoppings e voa em aviões".
"No Brasil há uma raiva generalizada contra o PT, que é mais induzida pelos meios de comunicação, mas não é ódio contra o PT, é ódio contra os 40 milhões (de pobres) que foram incluídos e que ocupam os espaços que eram reservados às classes poderosas", avaliou.
Mais de 1 milhão de pessoas se manifestaram ontem em dezenas de cidades do Brasil por sua indignação com a corrupção na Petrobras e com a delicada situação do país.
Indagado sobre a situação da Venezuela, Boff considerou que o país governado por Nicolás Maduro se expõe a uma "contraofensiva" por se opor diretamente "às estratégias do império".
Para Boff, há ingerência dos Estados Unidos "no mundo todo, por isso espionam a todos, não por diversão, mas porque querem conhecer o que pensam os políticos, os grandes capitães da indústria e os intelectuais, para que sua intervenção seja mais efetiva".
Boff, que foi membro da Ordem dos Frades Menores da Igreja Católica, considera que o papa Francisco se distingue do discurso "equilibrista" oficial, e que está "do lado correto, que é o lado dos pobres".
Antes de chegar à conferência sobre ecologia pela qual viajou para Montevidéu, o intelectual brasileiro visitou o ex-presidente uruguaio José Mujica em sua chácara e disse que ficou "muito impressionado com o encontro".
"Encontrei um homem de grande profundidade, que pensa não somente no destino do Uruguai e da América Latina, mas no destino da humanidade, para onde vamos", comentou.
Leonardo Boff é um dos fundadores da Teologia da Libertação e foi declarado hoje cidadão ilustre de Montevidéu.
Mais de 600 pessoas compareceram a sua conferência sobre ecologia e novos paradigmas na sede da prefeitura da capital uruguaia.