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Base oscila entre cautela e renúncia após gravação de Temer

Mesmo os que pregam que é necessário haver o levantamento do sigilo dessas informações para a tomada de qualquer atitude reconhecem o estrago

Temer: alguns integrantes da base aliada já assumem publicamente posicionamentos pela saída de Temer (Nacho Doce/Reuters)

Temer: alguns integrantes da base aliada já assumem publicamente posicionamentos pela saída de Temer (Nacho Doce/Reuters)

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Reuters

Publicado em 18 de maio de 2017 às 16h03.

Brasília - Horas após a divulgação de informações de áudio em que o presidente Michel Temer dá aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, integrantes da base reconhecem que o golpe foi duro e oscilam da cautela a pedidos de renúncia.

Mesmo os que pregam que é necessário haver o levantamento do sigilo dessas informações para a tomada de qualquer atitude reconhecem o estrago e admitem que prejudica o andamento da agenda econômica em curso no Congresso.

"O clima é ruim, é claro que é ruim", disse um líder aliado do governo na Câmara, que pediu para não ser identificado. "Agora, não podemos antecipar fatos. Tem um ditado antigo que diz que quem está morrendo afogado, se apavorar morre mais ligeiro", avaliou.

Outra importante liderança da base, que também pediu anonimato, explica que as quatro saídas --continuidade, renúncia, impeachment ou cassação-- só poderão ser avaliadas após a confirmação das informações.

Até lá, avalia, o cenário é de especulação. Reconhece, no entanto, que uma vez confirmado o teor do áudio, "a situação do governo é insustentável, não tem mais governabilidade".

Outros integrantes da base aliada já assumem publicamente posicionamentos pela saída de Temer. Esse é o caso do líder do PPS na Câmara, Arnaldo Jordy (PPS-PA), defendeu que Temer tome uma atitude "grandiosa" e renuncie.

"O presidente Michel Temer não tem condições de conduzir os destinos do Brasil. Não é possível um presidente da República participar de um conluio para tentar, ou autorizar, a compra do silêncio de um réu de importância nacional, isso não é compatível com o cargo de presidente da República", disse o líder do PPS à Reuters.

Jordy alertou para a necessidade de assegurar que qualquer saída a ser tomada para a crise tenha respaldo da Constituição. O líder defende ainda, caso Temer saia da Presidência, que sejam realizadas eleições diretas para a escolha do novo presidente.

Pelas regras atuais, um substituto para o posto seria escolhido por eleições indiretas, mas a oposição como um todo, assim como Jordy, defendem que seja aprovada uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permita as diretas.

O partido deve se reunir ainda nesta quinta-feira para decidir seus próximos passos e sua permanência no governo.

O PSDB, por sua vez, já ensaia movimentos para um eventual desligamento. O líder da bancada de deputados afirmou nesta quinta que "em se comprovando essas declarações até o final do dia de hoje ou o início de amanhã, nós solicitaremos aos ministros que saiam do governo".

Na véspera, outros aliados também defenderam a saída de Temer.

"Diante da gravidade do quadro e com a responsabilidade de não deixar o Brasil mergulhar no imponderável, só nos resta a renúncia do presidente Michel Temer e a mudança na Constituição", disse o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), acrescentando que é necessário antecipar as eleições de 2018.

Na noite de quarta-feira, foi noticiado que Joesley Batista, um dos controladores do frigorífico JBS, gravou Temer concordando com pagamentos para manter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

Na conversa, segundo reportagem divulgada pelo jornal O Globo e confirmada à Reuters por três fontes com conhecimento do assunto, o dono da JBS conta a Temer que pagava a Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro, um dos operadores presos na Lava Jato, para que ficassem calados. Os dois estão presos.

De acordo com o jornal, ao receber a informação de Joesley, Temer disse "Tem que manter isso, viu?"

Liquidificador

O doutor em Ciência Política pela UnB Leonardo Barreto, do escritório de análise política Factual Análise, disse que as informações colhidas entre integrantes da base apontam para a baixa perspectiva de continuidade do governo Temer.

"Eles dão o benefício da dúvida para o presidente esperando a gravação, mas com muito pouca perspectiva de que ele consiga se manter", disse o cientista político. "Isso não significa um movimento oposicionista no Congresso, mas o presidente perdeu autoridade."

"A sensação, acho, é que a base foi para o liquidificador. A base tinha dois grandes sócios: o sócio majoritário era o PMDB e o outro o PSDB. Cada um vai administrar a sua crise. Nem o PMDB consegue prestar solidariedade ao PSDB e nem o PSDB consegue prestar solidariedade ao PMDB. A base, hoje, acabou."

A oposição já anunciou que irá travar os trabalhos da Casa até que Temer renuncie ou seja cassado. E até mesmo aliados do governo reconhecem que a agenda das reformas já foi impactada.

Nesta manhã, o relator da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), anunciou a suspensão do calendário da tramitação da proposta devido à crise.

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